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Por que a gente esquece de beber água no frio e como isso faz mal à saúde

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Cecilia Felippe Nery

Colaboração para VivaBem

21/04/2022 04h00

Essencial para a existência de vida na Terra, a água cobre 70% da superfície do planeta e representa 70% do peso do corpo. É tão primordial que o ser humano pode sobreviver por algumas semanas sem alimentos, mas é impossível sobreviver por mais de poucos dias sem água. Em outras palavras, sem água não há vida.

Mas se no verão é tão fácil beber água, uma vez que o calor aguça a sede, no tempo mais frio isso não ocorre com tanta frequência. "A desidratação no inverno costuma ser mais grave do que nas outras estações, pelo simples motivo de o organismo não perceber a sensação de sede", afirma a nutróloga Marcella Garcez.

A sede caracteriza-se pela vontade de beber água, que geralmente aparece quando o déficit de água corporal atinge de 1% a 3% e é regulada por sistemas hormonais. Nos dias quentes, a percepção da sede é mais evidente por causa da sensação de calor e do conforto térmico e fisiológico causado pelo consumo de líquidos refrigerados.

Já quando está frio, geralmente ocorre uma menor percepção da sensação de sede, em razão das baixas temperaturas, que alteram o sistema hormonal: a circulação sanguínea se concentra nos vasos centrais, preservando o calor do corpo e inibindo o aviso de sede.

"Por isso, consumir líquidos nos dias frios, sem a sensação de sede, é tão importante quanto nos dias quentes", ressalta Garcez.

Desidratação x sede

De fato, não se deve esperar sentir sede para tomar água, pois sentir sede é um dos primeiros sinais de desidratação. "No verão, o indivíduo elimina mais líquidos, principalmente no suor e, assim, perde mais líquido corporal, o que não acontece durante o inverno", reforça a nutricionista Vanessa Vieira Lourenço Costa.

"Uma dica é avaliar a cor da urina: é preciso que esteja com cor amarelo-claro para considerarmos que o organismo está hidratado", assegura a nefrologista Andrea Pio de Abreu.

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Imagem: Getty Images

Atenção redobrada deve ser dada às crianças pequenas e aos idosos, que podem sentir menos sede em função da menor sensibilidade de um centro regulador que fica no cérebro. "Nesses grupos, a percepção de sede pode acontecer quando a desidratação está em estágios mais avançados", alerta a nefrologista.

Além da queda nas temperaturas, a umidade relativa do ar costuma ser mais baixa no frio, o que pode favorecer a desidratação do corpo. Outro fator importante é que, em temperaturas frias, há aumento do metabolismo basal, por isso, manter uma hidratação adequada é primordial.

A desidratação pode ser mais grave no inverno, época em que o ar fica mais seco e os sintomas menos perceptíveis em fase inicial, o que leva a diagnósticos mais tardios e graves. Os sintomas são pele ressecada, temperatura corporal alta, cansaço, sonolência, menos vontade de urinar, urina escura, prisão de ventre, podendo chegar à perda da coordenação motora e da consciência.

Segundo ela, gradativamente pode aparecer queda da pressão arterial postural, quando o paciente percebe certa tontura ao se levantar da posição deitada para em pé. Em seguida aparece aumento da frequência cardíaca e em casos mais graves acontece a queda da pressão arterial, que pode evoluir para sintomas e sinais graves, como confusão mental, sonolência, convulsões e coma.

Benefícios da água

É importante frisar que a água está distribuída em dois espaços principais, dentro e fora das células, denominados intracelular e extracelular, com funções específicas, condicionais à vida. Para a manutenção da saúde, o ser humano deve consumir água de forma constante, pois a ingestão é fundamental para suprir as necessidades diárias.

De acordo com Abreu, a água contribui para hidratar o corpo e levar os nutrientes, oxigênio e sais minerais para as células de todo o organismo. "Ela atua ainda como veículo na eliminação de substâncias tóxicas do corpo, por meio do suor ou da urina, o que é essencial", informa.

Cuidado com rins - iStock - iStock
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Outro benefício é que o consumo de água corresponde a uma das medidas mais importantes para manter os rins saudáveis, sendo estes os órgãos responsáveis por filtrar as impurezas do sangue. "Isto é tão importante, que a hidratação inadequada no dia a dia é um grande fator de risco para a formação de cálculos (pedras) nos rins", adverte Abreu.

Já Costa lembra que a ingestão de água contribui para regular o funcionamento do intestino, hidrata a pele, facilita a digestão e melhora a circulação sanguínea.

Além disso, a água é componente essencial para a formação dos líquidos corporais. "Presente na saliva, sucos digestivos, líquido sinovial, humor vítreo, lágrimas, liquor, é fundamental para a manutenção das funções digestivas, urinárias e circulatórias, além de permitir a fluidez e perfusão celular de órgãos e tecidos", aponta Garcez.

Estimular a sede

Uma dica importante quando se trata de hidratação é que a água deve estar presente em todos os momentos do dia e particularmente vinculada à dieta, pois pode ser consumida também às refeições. "A recomendação é ingerir vegetais e frutas suculentos, que podem ser consumidos in natura ou em preparações como sucos, caldos e sopas, pois além de hidratar, contribuem para o conforto térmico", sugere Garcez.

Além disso, a nutróloga lembra que as melhores opções para a hidratação depois da própria água são os sucos, os chás, a água de coco e os caldos.

O estímulo mais importante, conforme Abreu, é criar o hábito de beber água. "Fazer desse ato parte da rotina permite que o comportamento simplesmente flua", garante. Outra dica é estabelecer metas de ingestão de água durante os períodos do dia. "Hoje em dia há diversos recursos digitais que podem ser utilizados para facilitar o dia a dia, incluindo aplicativos para dispositivos móveis que avisam o horário de ingerir líquidos, de acordo com as necessidades individuais", acrescenta.

Monitorar é a palavra de ordem para Costa, devendo para isso calcular quanto de líquido precisa ser ingerido e, assim, estipular quanto de líquidos irá consumir no período da manhã, da tarde e da noite.

"Comprar garrafas para colocar os líquidos e carregá-las sempre pode ajudar nesse monitoramento, saborizar a água com rodelas de limão, laranja ou tangerina podem ajudar também no aumento do seu consumo", aconselha.

Cuide-se

Beber água é um hábito saudável, assim como praticar atividades físicas e dormir bem. "Porém, para que o organismo reconheça essa atividade como hábito é necessário um pouco de esforço, treinamento e disciplina", determina Garcez.

O hábito de tomar água é um condicionamento e não se deve esperar a sede para consumi-la. A hidratação, conforme a nutróloga, pode ser incluída gradativamente aos hábitos diários por meio de estratégias como:

  • Andar com uma garrafinha de água;
  • Tomar um copo de água antes de todas as refeições e lanches;
  • Beber água com sabor de frutas naturais e chás ao longo do dia;
  • Utilizar aplicativos para lembrar-se de tomar água.

Enfim, seja no outono, no inverno, ou em qualquer época do ano, beber água regularmente é indispensável para a saúde.

"Não espere surgir a sede, e comece a observar a coloração da sua urina. Tenha sempre uma garrafinha de água com você, e estabeleça metas ao longo do dia", recomenda Abreu. "E, se tiver problemas de saúde relacionados ao coração ou aos rins, ou edema, procure um médico para avaliação clínica e orientação sobre as necessidades diárias de líquido, que podem ser diferentes da população geral", conclui.

Fontes: Andrea Pio de Abreu, nefrologista do HC-FMUSP (Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e diretora secretária geral da SBN (Sociedade Brasileira em Nefrologia); Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia); Vanessa Vieira Lourenço Costa, nutricionista, professora da Faculdade de Nutrição da UFPA (Universidade Federal do Pará), mestre em saúde, sociedade e endemias da Amazônia pela UFAM (Universidade do Amazonas) e doutora em doenças tropicais do Núcleo de Medicina Tropical da UFPA (Universidade Federal do Pará).