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É verdade que idoso sente menos sede?

Priscila Barbosa
Imagem: Priscila Barbosa

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

16/02/2022 04h00

O que acontece é que os idosos perdem a capacidade de sentir sede com o passar dos anos. "No cérebro, existe um centro regulador dessa função que transmite a percepção de desidratação e de que é preciso ingerir líquidos. Nos idosos, a sensibilidade desse centro regulador está limitada. Dessa forma, o corpo deles precisa perder muito mais água do que o de um jovem para apresentarem a sensação de sede", explica Mauricio de Miranda Ventura, médico geriatra e diretor do serviço de geriatria do HSPE (Hospital do Servidor Púbico Estadual), em São Paulo.

É importante monitorar a ingestão de líquidos dos mais velhos, pois a desidratação ocorre de forma mais rápida e acarreta muitos danos à saúde.

"Em indivíduos adultos, 70% do corpo é formado por água, mas nos idosos chega a 50%, por isso que a desidratação nesse grupo de indivíduos pode acontecer de forma mais rápida", afirma Vanessa Vieira Lourenço Costa, nutricionista e professora da Faculdade de Nutrição da UFPA (Universidade Federal do Pará).

Além de matar a sede...

A água é fundamental para o funcionamento de todos os órgãos do corpo. Ela transporta nutrientes às células, auxilia a digestão, previne câimbras, protege o coração, melhora o funcionamento do intestino, aumenta a resistência física, regula a temperatura, lubrifica, acelera as reações químicas e controla a pressão sanguínea.

É por isso que a baixa ingestão de líquidos leva a prejuízos ao organismo. "O principal sinal do consumo insuficiente de líquidos é a urina mais concentrada e de coloração mais escura. A ingesta inadequada de água também pode causar boca seca, sonolência, tontura e, em casos mais extremos, confusão mental", esclarece Ronaldo Fernandes Rosa, médico cardiologista, diretor da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) e diretor técnico da Santa Casa de São Paulo.

A diminuição da pressão arterial é também observada e ocasiona quedas e traumas que afetam a autonomia e independência do idoso. Entre outras consequências da falta de hidratação estão o crescimento de bactérias na bexiga, chegando a evoluir para uma infecção urinária; constipação intestinal, formação de cálculos renais e, até, insuficiência do rim.

Casos de desidratação mais grave provocam sede intensa, ausência de urina, respiração rápida, alteração do nível de consciência, convulsões, pele fria e úmida, chegando a ficar pegajosa, e, até, a morte.

De olho na bula

"Os sintomas estão relacionados, também, ao uso de diversos medicamentos, os anti-hipertensivos que reduzem a pressão arterial, os diuréticos que aumentam a quantidade de urina, os calmantes e, no caso dos homens, os usados para diminuir o tamanho da próstata", informa Ventura.

Há doenças que limitam a hidratação a fim de não sobrecarregar os órgãos afetados. Essa recomendação não é exclusiva aos pacientes idosos, sendo indicado conversar com o médico para avaliar os volumes mínimo e máximo.

"Congestão pulmonar, edema importante generalizado e insuficiência renal ou cardíaca estão entre os problemas de saúde que exigem pouca hidratação", informa Simone Fiebrantz Pinto, nutricionista e presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Bebeu água?

A regra é para todos: ingerir, em média, dois litros de líquidos por dia. O cálculo básico considera de 25 a 35 ml por quilo de peso. Assim, basta multiplicar o peso da pessoa por 25 a 35 ml para saber a cota hídrica diária.

Esses valores não são absolutos e sofrem alterações, afinal, não é possível estabelecer um número exato para todas as pessoas. A intensidade das atividades físicas e questões climáticas locais, como a temperatura ambiente e umidade relativa do ar, interferem no volume total.

No verão, por exemplo, a atenção à ingestão de líquidos deve ser maior, ofertando, ainda, alimentos leves e agradáveis ao paladar. Ventura explica que as alterações do clima requerem atenção, já que os idosos são extremamente suscetíveis às mudanças ambientais, como o frio e o calor, e, muitas vezes, têm dificuldade na percepção.

Frutas, sucos e chás

É importante ressaltar que na contagem diária da hidratação necessária ao organismo não se considera apenas a água. Podem ser consumidos sucos naturais diluídos, frutas —melão, melancia e laranja—, gelatinas e chás sem açúcar.

Outra alternativa é adicionar rodelas de abacaxi, laranja, limão, maça e folhas de hortelã à água.

Tomar refrigerantes e bebida alcoólica não é aconselhado. "As bebidas alcoólicas devem ser evitadas, pois colaboram na desidratação, já que induzem a eliminação de urina", aconselha Ventura.

"Não é preciso esperar a sede para se hidratar. No caso dos idosos, o ideal é oferecer 50% de água e o restante em outras formas", indica Pinto.

Meios eletrônicos ajudam a lembrar. Programar alarmes é uma boa estratégia para que o idoso não se esqueça de beber água.