Ela foi curada de problema gravíssimo e 'ganhou' outro: 'Parecia sufocar'

"Ela foi curada de um problema gravíssimo e arrumou outro problema gravíssimo." É assim que o médico que acompanhou o caso de Maria Claudia Sampaio, 39, resume a história dela.

Maria foi diagnosticada em 2011 com linfoma de Hodgkin e, com os remédios necessários para o tratamento, acabou desenvolvendo problemas graves no coração. Isso ocorreu sete anos após a cura do câncer.

Sentia muito cansaço. Buscava encomendas na portaria, que é bem perto do elevador, e ficava muito cansada. Achei estranho. Parecia que ia sufocar e que tinha um líquido preso na região do pescoço, até vomitei.
Maria Claudia

Ela resolveu ir ao pronto-socorro em São Paulo, onde vive, com o marido. Pensou que poderia ser o retorno do câncer. Lá mesmo, Maria foi internada.

Estava com as pernas inchadas e minha barriga parecia de uma grávida. Fui à UTI para ficar em observação. Recebi o diagnóstico de insuficiência cardíaca, com o pulmão encharcado de água.

O coração de Maria foi lesionado pela medicação utilizada para tratar o câncer dela —o que pode mesmo acontecer— e, por isso, o órgão ficou fraco, resultando no acúmulo de líquido no pulmão, explica Fabrício Assami Borges, cardiologista do Hospital Santa Paula (SP).

Temos visto cada vez mais esse tipo de caso. É uma área nova, a cardio-oncologia, que analisa os efeitos da terapia anticâncer no coração.
Fabrício Assami Borges, cardiologista

'Insuficiência foi pior que câncer'

Maria, hoje aposentada, explica que, assim que finalizou o tratamento do câncer, os médicos citaram os riscos do desenvolvimento de doenças no coração. "Faz parte do protocolo médico avisar, mas eles contaram que não era sempre que acontecia, mas, infelizmente, no meu caso, aconteceu."

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Aos 33 anos, com insuficiência cardíaca, Maria afirma que o problema no coração foi muito pior do que o câncer.

No câncer, eu ia ao hospital de 15 em 15 dias para fazer quimioterapia e ficava mal apenas no dia seguinte. No intervalo entre as sessões, não sentia nada e nem lembrava que estava doente.
Maria Claudia

Maria Claudia Sampaio e o marido
Maria Claudia Sampaio e o marido Imagem: Arquivo pessoal

A doença cardíaca de Maria causou uma série de sintomas: ela mal conseguia dormir devido ao acúmulo de líquido na pleura (membrana que reveste os pulmões e a parede torácica), além da fadiga constante e toda a mudança na rotina.

Eram quase 2 litros de água no pulmão. Quando fui internada e retiraram o líquido, senti um alívio enorme.
Maria Claudia

Em 2019, Maria precisou voltar para a casa com um tubo de dreno caso o pulmão voltasse a reter o líquido na região. Depois de quatro meses estáveis, o aparelho foi retirado.

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Mudança total no estilo de vida

Na lista de mudanças, ela precisou passar por uma "repaginada" nos hábitos de vida: alimentos sem sal e atividade física (com orientações específicas para ela).

Maria fazendo atividade física
Maria fazendo atividade física Imagem: Arquivo pessoal

As medicações também foram incluídas para tentar "salvar" o coração. Os remédios, que causam diversos efeitos colaterais, são chamados pelos médicos de "quarteto fantástico" e devem ser inseridos pouco a pouco na rotina do paciente.

Falamos em tom de brincadeira o 'quarteto fantástico' porque são quatro medicamentos que atuam em pontos diferentes e sinérgicos do coração (...) Como todo remédio, eles têm seus efeitos colaterais, mas conseguimos mantê-los em doses altas e, devagar, o coração foi se recuperando.
Fabrício Assami Borges, cardiologista

Maria lembra que o corpo dela demorou de 6 a 7 meses para "entender o que estava acontecendo".

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"Passava muito mal com a dose inicial, mas, assim que ia melhorando, pulava para a próxima fase. Chegamos na última fase e, agora, posso dizer que estou melhor."

4 meses na lista do transplante

Maria está saudável hoje em dia
Maria está saudável hoje em dia Imagem: Arquivo pessoal

Durante este período que durou quase dois anos, Maria passou por longas internações e chegou a entrar na lista de transplante de coração.

E, em 2019, tive uma crise forte e fui encaminhada ao Hospital das Clínicas para tentarmos uma outra medicação intravenosa. Seria minha 'última chance' antes de falar em transplante.
Maria Claudia

Depois de receber alta, ela ficou mal novamente e o transplante virou o caminho mais viável para Maria. "Em agosto de 2019, entrei na fila do transplante e, em fevereiro de 2020, saí dela", conta.

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A aposentada lembra que o médico explicou exatamente como seria todo o procedimento. Ela fez exames, conversou com a assistente social. Enfim, só estava aguardando o "tão esperado dia".

Meus exames, em determinado momento, apresentaram um resultado excelente. Achei que era alguma brincadeira, mas não era.

Sem levantar rápido e controle da água

Algumas medidas na vida de Maria, além dos remédios, facilitam o movimento de contração do coração, já enfraquecido, sem a necessidade de tanto esforço, explica o cardiologista.

A medicação é diária e para sempre. Antigamente, quando melhorava coração, a gente suspendia, mas os sintomas voltavam. Apesar da recuperação excelente que ela [Maria] teve, não podemos suspender a medicação.
Fabrício Assami Borges, cardiologista

Uma vez ao ano, Maria vai ao médico e precisa de alguns cuidados na rotina, principalmente em dias muitos quentes. Além disso, precisa de atenção ao beber água —não pode passar de 1 litro ingerido ao dia.

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Minha pressão arterial precisa estar sempre baixa para o coração não fazer muita força. Então, quando levanto muito rápido, preciso de cuidados para não desmaiar.
Maria Claudia

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