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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Bromidrose, suor com odor excessivo, pode ter tratada com lipo e cirurgia

Suor com odor forte pode ser sinal de bromidrose - Getty Images
Suor com odor forte pode ser sinal de bromidrose Imagem: Getty Images

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

12/02/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Bromidrose é quando ocorre o odor excessivo e forte nas axilas, pés, mamilos, região genital e couro cabeludo
  • Os tratamentos para a doença envolvem mudanças de hábitos, antibióticos e até cirurgias
  • Uma das formas de tratá-la é com a lipoaspiração associada a uma cirurgia de remoção de pele

O odor nas axilas, pés (famoso chulé), na virilha e em outras regiões do corpo é normal. Mas quando esse mau cheiro se torna excessivo e começa a causar constrangimento, é sinal de que pode ser a bromidrose —uma condição na qual o suor vem acompanhado de um odor mais forte e desagradável.

O suor que causa o mau cheiro é produzido pelas glândulas sudoríparas apócrinas, que estão localizadas nas axilas, mamilos, regiões genitais, couro cabeludo e planta dos pés. Além de água e sais minerais, o suor vem acompanhado de restos celulares e outras substâncias que, ao entrar em contato com fungos e bactérias na pele, causam o odor fétido.

Mas como sei que estou com bromidrose? O diagnóstico não é tão simples, pois depende da queixa e história do paciente, segundo os especialistas consultados por VivaBem. "Podemos considerar patológico quando começa a incomodar a pessoa e atrapalha a atividade social dela, causando um constrangimento", explica Priscila Valadares, dermatologista especializada em cirurgia dermatológica pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Chulé, pés fedidos - iStock - iStock
Imagem: iStock

Como tratar a bromidrose

Em primeiro lugar, é importante entender que os tratamentos dependem um pouco de cada região que a pessoa apresenta o odor excessivo, mas alguns cuidados e medidas podem ajudar a amenizar os sintomas da bromidrose:

  • Utilizar sabonete e desodorante antisséptico;
  • Em alguns casos, o dermatologista pode indicar um desodorante feito em uma farmácia de manipulação para que se adeque melhor ao seu corpo;
  • Depois de terminar o banho, secar bem a pele;
  • Optar por roupas feitas de algodão que permitem que a pele respire melhor (o mesmo se aplica para sutiãs e meias);
  • Lavar as roupas com desinfetantes que ajudam a eliminar os odores;
  • Para a região dos pés, optar por calçados abertos, quando possível, reduzindo a probabilidade de ter umidade nos membros;
  • Tentar higienizar a região que está com o mau cheiro forte mais vezes ao dia, utilizando sabonete antisséptico;
  • Evitar o consumo excessivo de álcool e alguns alimentos, como o alho.
Desodorante/ Antitranspirante - iStock - iStock
Imagem: iStock

Se após todas essas medidas o odor persistir, o dermatologista também pode indicar o uso de sabonetes, cremes ou loções com antibiótico. "A ideia é diminuir aquela população de bactéria que está 'morando' na região e causando o mau cheiro. São antibióticos de uso local, indicados apenas quando as medidas de higiene não conseguem resolver o problema", explica a dermatologista.

E ainda, se depois disso tudo, o cheiro persistir, é possível partir para os tratamentos cirúrgicos, que podem ser a lipoaspiração, a exérese (retirada/ressecção de pele) ou um combinado dos dois —a escolha do tratamento vai depender do nível da doença. O local também pode ser um impeditivo. Só é possível fazer os procedimentos nas axilas, virilhas e, de forma superficial, no órgão genital (a lipoaspiração, no caso).

  • Lipoaspiração

O procedimento pode ser feito nas axilas, na virilha e nos órgãos genitais (de forma mais superficial). O médico delimita a área de maior concentração das glândulas apócrinas e, depois, faz o processo de raspagem na parte profunda da derme —região onde ficam os pelos e as glândulas— e aspira as glândulas que causam o odor.

Menos invasiva, a lipoaspiração, sozinha, não é considerada tão eficaz para tratar a bromidrose. "É uma técnica que não consegue dizer o quanto de glândula foi retirada. Quando você faz a cirurgia de retirada [exérese], a gente sabe que toda aquela região de glândulas está indo embora com a pele", explica Fernanda Martins, cirurgiã plástica da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. "Na lipo, fazemos 'às cegas' porque não estamos vendo e também não podemos tirar toda a pele senão pode causar a necrose [morte das células ou tecido]."

Um ponto também importante é que, no caso da bromidrose, o foco da lipoaspiração não é retirar gordura da pessoa, que é quando tem um risco maior de vida. É algo superficial na qual o risco de lesar um vaso grande ou algum nervo que passa pela região é bem menor.

A recuperação da lipoaspiração é rápida, entre 4 e 5 dias, mas evitando grandes esforços na região, e a cicatriz é pequena, de apenas 1 centímetro, no máximo. Os cuidados devem ser reforçados caso apareça algum hematoma na região para não haver risco de ocorrer a necrose do tecido.

  • Exérese ou retirada/ressecção da pele

Neste procedimento, considerado mais invasivo, o médico realiza a demarcação da área que é possível realizar a retirada da pele —onde tem o maior acúmulo das glândulas apócrinas— sem comprometer os movimentos da pessoa. Após a retirada, é feita uma cauterização e a aproximação da pele.

Cirurgião plástico faz marcação em pele antes de procedimento - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

"Os locais que aceitam a cirurgia são a axila e a virilha. A virilha, por exemplo, tem uma certa frouxidão na pele que é até possível fazer a ressecção, mas não toda a pele até para não comprometer a abertura pélvica", diz a cirurgiã plástica da BP.

A cirurgia leva, em média, duas horas e o paciente já é liberado no mesmo dia. Dependendo do local, pode ser necessário ficar mais tempo para esperar os efeitos da anestesia. Também por ser mais invasiva, a pessoa tem a chance de ficar com uma cicatriz grande na região em que fizer o procedimento, mas a recuperação é rápida.

"A recuperação é de, pelo menos, 15 dias longe dos afazeres. Não dá para fazer muito esforço, principalmente se for nas axilas. Passado esse tempo, a pessoa pode ir voltando às atividades normais, tomando alguns cuidados", diz Alexandre Kataoka, diretor da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e médico perito pelo Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminologia do Estado de São Paulo).

  • Lipoaspiração e retirada de pele

De acordo com um estudo publicado na Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, do autor Alexandre Kataoka, há uma recidiva (reaparecimento da doença) em aproximadamente 40% dos casos quando a lipoaspiração é aplicada individualmente, mas chega a uma taxa de mais de 90% de sucesso quando é complemento da técnica mais agressiva, que é a exérese dos tecidos.

Isso porque só a retirada da pele não consegue contemplar toda a região afetada e, neste local, é feita a lipoaspiração —que consegue raspar o que ficou "faltando".

médicos; cirurgia; medicina - iStock - iStock
Imagem: iStock

Ainda no estudo com 32 pacientes que fizeram os dois procedimentos combinados, 31,3% desenvolveram alguma complicação pós-operatória, algo que também pode ocorrer, dentre elas: equimose, que são as manchas roxas (60%), cicatrização tipo queloide (30%) e deiscência cirúrgica ou uma ferida operatória, ou seja, abertura dos pontos (10%). Contudo, nenhum dos pacientes acompanhados evoluiu com recidiva da sudorese e do odor presenciado anteriormente.

"O tratamento cirúrgico da bromidrose é um procedimento viável, com baixa taxa de complicações, alto grau de satisfação por parte dos pacientes e tecnicamente exequível, obtendo bons resultados para cirurgiões plásticos treinados", escreveu Kataoka no estudo.

Mas como todo procedimento cirúrgico, algumas medidas têm que ser adotadas, com a finalidade de um procedimento seguro, como exames pré-operatórios e realização do procedimento em local adequado.

Para a cirurgia, as contraindicações valem mais caso a pessoa não esteja apta clinicamente ou caso tenha alguma doença que esteja descompensada, como diabetes, doenças renais ou cardiovasculares.

E o botox?

Chrissy Teigen posta vídeo de aplicação de botox nas axilas  - Reprodução/Instagram/@chrissyteigen - Reprodução/Instagram/@chrissyteigen
Atriz Chrissy Teigen posta vídeo de aplicação de botox nas axilas
Imagem: Reprodução/Instagram/@chrissyteigen

A toxina botulínica, ou botox, é visto ainda como um possível tratamento, já que diminui a transpiração da região, conforme explica a dermatologista da UFMG. "O botox diminui a transpiração que vai causar o odor, mas não são todos que apresentam melhora. É uma possibilidade que existe, que também é caro para a maior parte da população. Além disso, tem que ser recorrente porque o efeito dura de 4 meses a 1 ano", explica.

Até por isso, o procedimento com uso de botox é mais indicado para casos de hiperidrose, ou o excesso de transpiração, e não do odor.

Quais são as causas da bromidrose?

Embora ainda não se saiba ao certo o que de fato causa a bromidrose, existem algumas condições que podem favorecer o surgimento. Em grande parte, ela é determinada pela secreção de glândulas apócrinas em contato com as bactérias presentes no tecido, mas também podem surgir de outras causas como doenças metabólicas, alimentos, medicamentos ou materiais tóxicos e também secundária à hiperidrose —excesso de suor.

Além disso, é uma doença mais comum em homens e pode surgir por conta do estresse e ansiedade, segundo a cirurgiã plástica da BP. O diretor da SBCP acrescenta que, em alguns casos, pode ser um fator genético: "Na verdade, a pessoa nasce com uma genética de ter mais glândulas apócrinas, que produzem esse suor que é mais oleoso".