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Equilíbrio

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9 sinais de que você tem complexo de inferioridade e como resolver

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Imagem: iStock

Bárbara Therrie

Colaboração para o VivaBem

07/04/2022 04h00

Vive se comparando com as pessoas, se sente inferior, acha que tudo o que faz não tem valor e acredita que o outro é melhor em tudo. O complexo de inferioridade não é uma doença nem um transtorno mental, mas uma característica da personalidade que podem prejudicar quem se vê assim.

As causas do complexo de inferioridade são multifatoriais, mas se estruturam principalmente mediante a três situações: abusos emocional, físico e sexual. Os traços de autodepreciação podem ser intensificados se a pessoa apresentar quadros como ansiedade, depressão, fobia social, síndrome do pânico, transtorno da personalidade, entre outros.

Não existe um diagnóstico médico chamado "complexo de inferioridade", mas alguns sinais podem ajudar na sua identificação. A seguir, três especialistas explicam os comportamentos e atitudes mais comuns:

1. Tem baixa autoestima, se sente inferior, só enxerga seus defeitos

Ao não nos aceitarmos como somos, acreditamos que só temos defeitos e que estamos fora do padrão. O desenvolvimento de crenças irracionais a respeito da própria identidade pode envolver aspectos de aparência, inteligência e habilidades.

Quando a autoestima está comprometida, a pessoa inicia um processo de autodestruição pessoal, que em alguns casos envolve a sabotagem no amor, na família e até nas finanças. O indivíduo pode ter pensamentos como: "Não sou merecedor do que a vida tem a me oferecer". Ele se sente culpado e entende que, de certa forma, precisa receber castigos, que simbolicamente são todas as formas de sofrimento.

Pessoas com complexo de inferioridade têm dificuldade de enxergar suas potencialidades. Ter um senso de valorização pessoal é um processo que deverá ser construído ao longo do desenvolvimento com estímulos de afeto, segurança e confiança.

2. Não tem motivação

Por se acharem incapazes, essas pessoas tendem a ter menos motivação para fazer as coisas, para iniciar um novo projeto, por exemplo, e desistem mais facilmente.

O desânimo e apatia são maneiras indiretas de se afastar da alegria e do bem-estar —viver essas emoções seria transpor os limites ditados pela inferioridade, que se nutre dessa repetição e acaba virando um hábito.

A motivação é uma das principais características de uma personalidade saudável. Indivíduos desmotivados desenvolvem um bloqueio ou uma inércia diante de qualquer desafio ou novidade. Eles também podem criar expectativas irreais ou muito distorcidas sobre sua realidade, tornando qualquer ação impossível de ser realizada ou concluída.

3. Tem o hábito de se comparar aos outros

Pessoas que se se sentem inferiores tendem a se comparar muito com os outros, em um movimento de reforço da sua incapacidade. Esse fenômeno recorrente de comparação, percebendo as qualidades, competências e habilidades dos outros, e prestando atenção aos seus equívocos, fracassos e perdas, só corrobora com o estado de desvalorização. Como vive num ambiente social, não consegue se libertar da vergonha, da sua pobreza e incompetência, nomenclaturas que costuma utilizar para se ridicularizar e menosprezar a si mesmo.

4. Tem dificuldade de se relacionar com outras pessoas e tende a se isolar

Diante do sofrimento que o complexo de inferioridade provoca, o indivíduo tem alguns comportamentos para se defender, e um deles é o isolamento. Ele acha que se isolando encontrará a segurança para não se sentir constantemente desvalorizado, humilhado, ignorado, rejeitado e criticado. No entanto, esse isolamento não tem nada de protetor: ele geralmente alimenta e reforça as crenças disfuncionais sobre as pessoas com quem se convive.

Esses indivíduos não têm coragem ou apresentam muita dificuldade de fazer novas amizades. Acreditam que estão sobrando ou incomodando pela sua incapacidade. O uso de drogas lícitas e ilícitas é comum como uma forma de adormecer, anestesiar sua consciência e para dar a coragem e motivação que necessitam para se relacionar com os outros.

5. Se preocupa excessivamente com a opinião das pessoas

A preocupação excessiva funciona como uma forma de se manter sempre alerta para possíveis ataques a sua frágil reputação. Nesse cenário de se considerar inferior, inepto, sem atrativos ou qualidades, qualquer opinião pode funcionar como um gatilho para a ansiedade. Mesmo que seja elogiada, a pessoa pode pensar que não é digna ou que foi um movimento para agradá-la.

Além disso, quem tem complexo de inferioridade quase sempre aceita e valida a opinião que o outro tem e pensa a seu respeito.

6. É ansioso

Preocupação excessiva, tensão psíquica e dificuldade para relaxar são sintomas de ansiedade que podem aparecer devido à necessidade de alerta ou de vigilância constante das ações dos outros e da própria pessoa —medo de errar, de passar vergonha, de se relacionar, de ter sucesso, de ser desprezada.

Os pensamentos negativos em relação a si mesmo fazem com que essa pessoa pense sempre que o pior vai acontecer, ela fica ansiosa pois está sempre se preparando para viver o abandono, as críticas, as rejeições e perseguições, causando um conflito existencial.

7. É sensível a críticas

Qualquer crítica funciona como uma validação das crenças negativas, reforçando as ideias de que são insuficientes, inúteis, incompetentes, feias, desprovidas de inteligência e habilidades. Como são pessoas que vivem as expectativas dos outros e não as próprias, mostram-se hostis quando seus esforços não são reconhecidos.

Pessoas que tentam esconder o complexo de inferioridade, buscando passar uma outra imagem, têm na rispidez um mecanismo de defesa, uma fachada muito bem protegida para lidar com as críticas.

8. Busca o perfeccionismo

Mesmo sabendo que não existe ninguém perfeito, a pessoa com complexo de inferioridade realiza suas tarefas buscando um nível de perfeccionismo inatingível. Ela se cobra e se pune por não viver de acordo com aquilo que a sociedade ou a cultura espera dela. Para evitar críticas, ela exige muito de si, não delega funções e centraliza tudo em si. Geralmente tem dificuldade em realizar atividades em grupo e cumprir prazos.

9. Apresenta baixo desempenho no trabalho ou na escola

A mesma dinâmica do perfeccionismo e da ansiedade, que consome a pessoa e pode levar ao esgotamento, leva a um gasto de energia psíquica e estresse, com prejuízos secundários em funções cognitivas, como déficit de atenção e memória, falta de motivação ou energia, perda do prazer ou interesse nas atividades, alterações do sono, apetite e humor. Em conjunto, esses sintomas podem prejudicar o rendimento acadêmico ou no trabalho.

Como tratar o complexo de inferioridade?

A principal indicação de tratamento para o complexo de inferioridade são as psicoterapias, como a psicanálise e a terapia cognitivo-comportamental, que podem ajudar na melhora dos sintomas e no funcionamento interpessoal. Outras estratégias são: meditação, mindfulness, atividades físicas, e atividades como música ou teatro para auxiliar na interação social e autoestima.

Não existem medicamentos específicos para o complexo de inferioridade, mas dependendo da intensidade dos sintomas e do impacto que os mesmos têm sobre o funcionamento da pessoa, pode ser necessária uma avaliação psiquiátrica.

Além disso, o amor, a compreensão, o apoio família e dos amigos são fundamentais para a pessoa superar essa condição. A oportunidade de estudar, trabalhar, viver em família, ter amigos, momentos de lazer dará condições de iniciar um processo de resgate da sua autoestima. Ela poderá melhorar o conceito sobre si mesma e se perceber como alguém digno de ser feliz e ter sucesso.

Fontes: Décio Gilberto Natrielli Filho, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unisa (Universidade Santo Amaro), onde coordena a residência de psiquiatria e os ambulatórios de transtorno bipolar e transtornos da personalidade; Salezio Placido Pereira, psicanalista, escritor, doutor em psicologia, diretor e docente do Instituto de Psicanálise Humanista e autor do livro "Complexo de Inferioridade: Conheça Suas Emoções e Torne Sua Vida Mais Saudável"; Larissa de Oliveira, mestre em psicologia cognitiva pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), docente do curso de psicologia do Uninassau (Centro Universitário Maurício de Nassau) campus Caxangá.