Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Tentar agradar a todos pode ser problema. Saiba mudar essa característica

iStock
Imagem: iStock

Diego Garcia

Colaboração para o VivaBem

21/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Busca por pertencimento a um grupo ou medo de desagradar e sofrer alguma perda, são os principais motivos de quem está sempre agradando aos outros
  • Autoestima baixa é a base desse comportamento que geralmente é difícil de ser percebido pela própria pessoa
  • Identificar é o primeiro passo. Depois, é necessário conhecer suas necessidades essenciais e impor limites nas relações, mudando hábitos

Agradar aos outros pode parecer uma atitude positiva, mas é impossível agradar a todos e a si ao mesmo tempo. Cada um tem seus gostos, vivências e desejos diferentes uns dos outros, então, sempre que você agrada a uns, está desagradando a outros ou a si mesmo. Essa necessidade de agradar sempre pode esconder problemas de relacionamento e que geralmente tem como base uma baixa autoestima.

Uma das necessidades do ser humano é a de pertencer a um grupo e, para isso, precisamos nos adaptar ou escolher outro grupo que esteja mais próximo da nossa realidade pessoal. Antes da adaptação, fazemos uma leitura do ambiente para nos reconhecermos ali. Algumas pessoas, porém, passam a olhar mais para o para o externo e não olham para si mesmos para perceber se as necessidades do grupo são as mesmas ou similares as suas, criando a ilusão de que têm de agradar para pertencer.

Outras, para se sentir pertencentes a um grupo, agradam para evitar atritos ou situações de conflito com outros elementos do grupo. Geralmente essas pessoas possuem um traço de personalidade chamado cordialidade. Essa característica envolve hábitos como apaziguar desavenças e inibir um pouco seus desejos em detrimento de outros, o que não têm problema quando você tem consciência de suas necessidades pessoais e o faz em equilíbrio.

Já quando esse traço é exacerbado, a pessoa não tem a consciência de suas necessidades pessoais. É como olhar para fora, observar os mínimos detalhes do externo para tentar entender como as pessoas esperam que ela reaja, criando uma desconexão consigo mesmo e se autoagredindo: se desagrada para agradar ao outro.

Consequências negativas

Quando você está em uma relação em que você não pode ser você mesmo, que não atende a nenhuma demanda ou desejo, um dia a vida reclama. Ficar focado totalmente em agradar ao outro, sem atender a nenhuma necessidade sua, mostra uma desconexão consigo mesmo.

Depois de um certo tempo com esse comportamento é muito comum que a pessoa se sinta agredida, humilhada ou prejudicada e agregue, ao longo do tempo, outros problemas como ansiedade e depressão, tornando complicada a administração da própria vida.

Existe uma situação um pouco mais específica, chamada de amor patológico, em que a pessoa, com medo de perder ou de ser deixada pela outra pessoa, começa a fazer tudo o que a outra pessoa quer ou faz, para se sentir pertencida a essa outra pessoa. Por exemplo, começa a fazer coisas que não fazia ou não gostava de fazer só porque o outro gosta ou pede que a pessoa faça.

Mudar exige olhar para si mesmo

Identificar quando o agradar ao outro passa a ser prejudicial a quem agrada nem sempre é uma tarefa fácil. Muitas vezes esse comportamento começa com coisas pequenas e sutis. Pode estar incrustado no modo como a pessoa é, sua personalidade, e ela não percebe essas características como causadoras de sofrimento para si e para os outros.

É muito comum utilizar justificativas internas para agradar ao outro, sem de fato, racionalizar no porquê ela faz as coisas que muitas vezes não queria fazer. Veja abaixo algumas dicas para agradar mais a si que aos outros:

  • Autoanálise é o primeiro passo para identificar o problema. Quando a pessoa olha para a própria vida, questiona suas reais necessidades e desejos, ela vai perceber o quanto se anulou ao longo do tempo e o quanto deixou de fazer coisas que queria fazer. Essa problematização de si mesmo é fundamental para começar a mudar esse comportamento;
  • Psicoterapia é uma ferramenta que pode ser importante nesse processo. Um bom profissional pode te ajudar na sua autoidentificação e descoberta de si mesmo;
  • Incorporar novos hábitos é um processo que no começo pode ser difícil, mas com o tempo torna-se uma necessidade. Hábitos que valorizem mais suas necessidades e que elevem a sua autoestima. Lembre-se que autoestima é algo com que temos de trabalhar durante toda a vida;
  • Aprender a dizer não é outro hábito muito importante que deve ser posto em prática. Pode ser por medo de desagradar ou pela necessidade de pertencer ao grupo (principalmente trabalho e família) que a pessoa é sempre condicionada a dizer sim, mesmo quando ela se sente agredida ou em desacordo com os seus valores. É importante ter em mente que são as próprias pessoas que impõe os limites nas relações.
  • Olhar para o seu interior antes de olhar para o externo é outra forma de melhorar o autocuidado, a autoimagem e autoconfiança. A coerção social muitas vezes faz com que as pessoas se sintam inadequadas, seja pela condição social, pela história de vida da própria pessoa, orientação sexual, gênero ou cor da pele. Conhecer a si mesmo e as suas necessidades, te deixa mais forte para seguir com tranquilidade, mesmo em meio a uma multidão em gritos.

Fontes: Rafael Coelho Rodrigues, psicólogo e docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Henrique Bottura, psiquiatra da Clínica Psiquiatra Paulista e colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo.