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Pandemia completa 2 anos: é possível indicar quando vai acabar?

Sarah Alves

Do VivaBem, em São Paulo

11/03/2022 09h36

Em 11 de março de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou a pandemia do novo coronavírus. Na época, eram quase 122 mil casos da doença —a maioria na China. Hoje, dois anos depois, são mais de 452 milhões de casos no mundo e 6 milhões de mortes.

Neste momento, enquanto flexibilizações se iniciam no Brasil, muitas pessoas têm dúvidas dos próximos passos. Afinal, a pandemia vai acabar? Vamos precisar de novas doses de reforço da vacina? É seguro liberar a obrigatoriedade de máscaras em locais abertos e fechados? VivaBem conversou com especialistas para analisar pontos-chave. Veja abaixo:

Como saber se a pandemia acabou?

Países como Reino Unido, Holanda e Dinamarca já realizaram flexibilização total das medidas de enfrentamento da covid-19. Por mais que um país —ou até estados, como ocorre no Brasil, por exemplo— possam acabar com as medidas restritivas, o fim de pandemia acontece oficialmente por determinação da OMS.

"A Organização Mundial da Saúde tem que fazer esse decreto, é ela quem determina se é pandemia ou deixa de ser. Todavia, os países signatários podem aceitar ou não, em geral aceitam", explica o infectologista Kleber Luz, professor do IMT (Instituto de Medicina Tropical) da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

A pandemia acaba em todos os lugares ao mesmo tempo?

Com a determinação da OMS, os países podem escolher acatar ou não a nova classificação da doença, diz Luz. Isso acontece porque cada território terá números próprios de circulação da covid-19.

Entre outros índices, a OMS monitora a escalada ou não de novas infecções e mortes pelo coronavírus. Enquanto alguns podem viver queda de casos, outros podem estar no pior momento da pandemia. Por isso, é difícil unificar os cenários.

Em fevereiro, o Reino Unido anunciou o fim das medidas restritivas, inclusive afrouxando protocolos para estrangeiros. No mesmo período, a Nova Zelândia, uma das referências mundiais no combate à pandemia, via o maior número de casos já registrados no país.

"Teremos que esperar avaliar o quanto tem de transmissão da doença, o impacto em todos os continentes, para decretar o fim da pandemia", detalha a infectologista Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

O que muda se a covid-19 for classificada como endemia?

A classificação de endemia significa que a doença está presente, mas que a circulação do vírus não causa tanto impacto à sociedade, mortalidade e pressão aos sistemas de saúde. São os casos da dengue e da malária, endêmicas no Brasil e na África, respectivamente, por exemplo.

Essa mudança, no entanto, é gradual. "Falando do ponto de vista biológico no contexto de uma pandemia, o fim não acontece de uma maneira súbita. A redução tende a ser gradual no número de novas infecções e até chegar a um platô baixo de endemia, nível controlado e esperado de novas infecções", diz o médico pesquisador Regis Rosa, do Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre (RS) e integrante da Coalizão Covid Brasil.

Há o risco de novas variantes surgirem?

Sim, o novo coronavírus ainda pode sofrer mutações e criar variantes. "Como se trata de um vírus RNA com grande capacidade de mutação, sempre há possibilidade de novas variantes, é uma característica não só do vírus da covid, mas de outros, como o da hepatite C e HIV", diz o infectologista Kleber Luz, da UFRN.

Novas variantes podem ser mais perigosas?

Segundo os especialistas, as mutações do novo coronavírus são imprevisíveis. Uma expectativa, explica a infectologista Raquel Stucchi, é que futuras variantes transmitam mais o vírus, mas sem grandes impactos na gravidade e mortalidade. Isso se baseia em uma explicação evolutiva, para que ele próprio continue existindo.

"Com o novo coronavírus tivemos muitas surpresas. É sempre uma preocupação, exatamente por não saber se a nova variante vai ser mais ou menos transmissível, se a doença vai ser mais ou menos grave, qual é o impacto que pode ter", conta Stucchi.

Além disso, é importante lembrar que novas cepas abrem espaço para que pessoas que ainda não se infectaram, adoeçam.

Vou precisar de mais doses da vacina?

Estudos que avaliam o tempo de eficácia das vacinas já são realizados no mundo todo. Especialistas consultados por VivaBem lembram que a produção de anticorpos contra o novo coronavírus não dura para sempre. Ou seja, é provável que novas doses sejam necessárias, mas ainda sem data definida. No Brasil, imunossuprimidos (pessoas com deficiências no sistema imunológico) já recebem o segundo reforço —ou quarta dose.

"A resposta imune não é duradoura. Esse conceito na medicina significa que é para o resto da vida. Quem tem sarampo, é quase impossível ter novamente pelo resto da vida, ou seja, a proteção contra o sarampo é duradoura. A produção de anticorpos contra a covid não é, há a necessidade de fazer as doses de reforço", comenta Kleber Luz.

As farmacêuticas e laboratórios continuarão a atuar no aprimoramento das vacinas atuais?

Hoje, a perspectiva é que novas vacinas sejam desenvolvidas. A ideia é que elas tenham, principalmente, maior tempo de proteção. O investimento em pesquisas deve indicar qual o período de resposta imune dos imunizantes utilizados atualmente, para detalhar as necessidades de doses de reforço, além do melhor intervalo entre elas.

"As vacinas que temos hoje foram extremamente importantes e possibilitaram o controle da pandemia, é inegável o benefício que elas nos trouxeram, mas sabemos que elas precisam de dose adicional", diz Raquel Stucchi, da Unicamp.

Também já há projetos de vacinas exclusivas contra cepas da covid-19, como a ômicron. O Instituto Butantan, por exemplo, também realiza testes de um imunizante único contra a covid e a gripe.

Existe risco ao não usar máscaras em ambientes abertos?

Capitais brasileiras flexibilizaram seus protocolos sobre o uso de máscaras. Em São Paulo, o fim da obrigatoriedade em espaços abertos já vale desde a última quarta-feira (9).

Para os especialistas, há segurança sanitária para a flexibilização, mas é necessário atenção ao distanciamento social e imprescindível colocá-las ao entrar em locais fechados —como no transporte público, por exemplo.

No entanto, é recomendado que grupos mais vulneráveis não abandonem o item de proteção, mesmo ao ar livre. É o caso de:

  • Idosos;
  • Imunossuprimidos;
  • Pessoas com comorbidades;
  • Quem ainda não tomou a terceira dose;
  • Pessoas que não se vacinaram
  • Crianças não vacinadas.

Quem tem contato com os perfis descritos acima também devem priorizar o uso de máscara como maneira de protegê-los.

É seguro ficar sem máscara em ambientes fechados?

Já o uso de máscaras em ambientes fechados é considerado crítico. A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou nesta semana o fim da obrigatoriedade em lugares fechados, baseando-se em orientação do Comitê Científico.

Neste caso, a infectologista Raquel Stucchi defende que seria interessante fomentar a vacinação —sobretudo infantil— e aguardar o fim do inverno do ano, já que na estação normalmente favorece o aumento de infecções respiratórias.

"Após essa data, o período de evolução da queda seria mais sedimentado, além da época do ano em que a transmissão é mais preocupante já ter passado", explica. "O município do Rio de Janeiro não é ilha, tem a sua característica de ser uma cidade que atrai tanto para trabalho, quanto para lazer, recebendo milhares de pessoas em situação vacinal muito diversa."

Qual máscara devo usar?

Neste momento da pandemia, com a escalada das flexibilizações e a tendência de mais pessoas sem máscaras, é necessário buscar boa proteção das máscaras. Por isso, a infectologista Raquel Stucchi recomenda a máscara PFF2 como melhor escolha, principalmente em ambientes fechados e com muitas pessoas.

Em segundo lugar, é possível usar uma combinação de máscara cirúrgica e, por cima, a de pano.

Por que as aglomerações do Carnaval não causaram picos de contaminação e mortes?

O rastro deixado por aglomerações do Carnaval ainda é incerto. Isso porque, é preciso esperar mais uma semana, no mínimo, para saber se elas vão alterar ou não o número de casos da covid-19.

"O aumento do número de casos geralmente não é instantâneo após as festas, pode durar até mesmo quatro semanas, um mês e meio para se reparar aumento no número de casos, porque os primeiros geralmente não são percebidos de uma forma imediata", descreve o infectologista Kleber Luz.

No entanto, há expectativa de que não cresçam como em ondas anteriores, principalmente devido à vacinação e pelo grande número de pessoas que se contaminaram assim que a variante ômicron chegou ao Brasil.