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Estudo de Oxford sugere que covid-19 pode danificar tecidos cerebrais

Bruna Alves

Do VivaBem, em São Paulo

08/03/2022 16h55

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e publicado na revista científica Nature, em 7 de março de 2022, mostra que a covid-19 pode danificar o cérebro de maneira sutil.

Os dados revelaram que é possível haver um envelhecimento cognitivo extra de 1 a 10 anos. Acredita-se que esse é o primeiro estudo envolvendo pessoas que passaram por exames cerebrais antes de contraírem covid e meses depois.

Como foi feito o estudo

O estudo, que fornece evidências padrão-ouro, contou com a participação de 785 adultos britânicos, com idades entre 51 e 81 anos, que fizeram exames cerebrais antes e durante a pandemia como parte do estudo do UK Biobank. Mais da metade deles testou positivo para covid entre os dois exames.

Os participantes foram submetidos a duas varreduras cerebrais com cerca de três anos de intervalo, além de alguns testes cognitivos básicos. Entre as duas varreduras, 401 participantes testaram positivo para o coronavírus, todos infectados entre março de 2020 e abril de 2021.

Os outros 384 participantes formaram um grupo de controle porque não haviam sido infectados pelo coronavírus e tinham características semelhantes aos pacientes infectados em áreas como idade, gênero, histórico médico e nível socioeconômico.

Quais foram as principais descobertas?

Os pesquisadores identificaram diferenças após escanearem os cérebros de todos os participantes do estudo duas vezes —uma antes do início da pandemia e outra no início de 2021—, depois que cerca de metade deles foi infectado com Sars-CoV-2.

Segundo os especialistas, os pacientes infectados que foram submetidos à segunda varredura cerebral tiveram perda adicional de massa cinzenta em diferentes regiões do cérebro (entre 0,2% e 2%), ao longo dos três anos. Com o envelhecimento normal, as pessoas perdem uma pequena fração de massa cinzenta a cada ano. Em regiões relacionadas à memória, a perda anual típica está entre 0,2% e 0,3%, disseram os pesquisadores.

As pessoas infectadas também perderam volume geral do cérebro e apresentaram mais danos nos tecidos. O processamento de sinal interrompido nessas áreas pode contribuir para sintomas como perda de olfato. Isso explicaria, em parte, o porquê a perda de olfato é um sintoma comum no curso da doença.

E tem mais: aqueles que foram infectados também pontuaram mais baixo em um teste de habilidades mentais em relação aos indivíduos não infectados.

As diferenças nos cérebros das pessoas que foram infectadas podem ser equivalentes a cerca de um a 10 anos a mais de envelhecimento. Já as mudanças mais nítidas foram observadas nos cérebros dos pacientes mais velhos do estudo, cuja capacidade de realizar tarefas complexas foi prejudicada ainda mais pela infecção.

"É, até certo ponto, um resultado bastante assustador, porque 96% dos nossos participantes tiveram infecção leve", disse ao jornal Insider, Gwenaëlle Douaud, principal autor do estudo, e especialista em neuroimagem da Universidade de Oxford.

Cérebros de pacientes com covid-19 "encolheram"

Os participantes dessa pesquisa foram examinados durante o primeiro ano da pandemia, antes do surgimento da variante delta e ômicron e, provavelmente, antes de qualquer um deles ser vacinado.

Naquela época, muitas pessoas infectadas com o vírus perderam o paladar e o olfato, sintomas refletidos nesse estudo, pois os pesquisadores viram as maiores mudanças nas áreas olfativas correspondentes de seus cérebros.

"Mas também vimos algumas mudanças globais no tamanho geral do cérebro, que encolheu um pouco mais", disse Douaud Priti Balchandani, professora de radiologia, neurociência e psiquiatria, e diretora do programa avançado de pesquisa em neuroimagem da Escola de Medicina Icahn de Mount Sinai, que não esteve envolvida no estudo.

"Essa é uma pesquisa valiosa e impactante, porque o estudo foi bem controlado, e o protocolo de varredura foi consistente entre os participantes. Dessa forma, eles podem realmente ter uma visão melhor do que está acontecendo após a infecção e se as mudanças no cérebro foram ou não atribuídas à infecção", opina Balchandani.

Os cientistas não batem o martelo para explicar alterações cognitivas causadas pela covid-19, mas sugerem algumas hipóteses. Uma dela é de que a perda do olfato "desliga" ou encolhe algumas regiões cerebrais. Outra é de que determinadas mudanças resultam de uma inflamação cerebral ou do vírus invadindo o órgão de alguma forma. Ainda é possível que seja uma combinação desses e mais fatores juntos.

Contudo, os especialistas têm esperança de que a neuroplasticidade —a capacidade do cérebro de crescer, se reorganizar e se curar ao longo do tempo— possa reverter pelo menos alguns dos danos causados a ele devido à infecção viral. De qualquer forma, mais exames são necessários para determinar se essas alterações cerebrais são permanentes ou parcialmente reversíveis.