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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Depressão a dois: como evitar que os sintomas afetem a relação?

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Imagem: iStock

Heloísa Noronha

Colaboração para o VivaBem

02/02/2022 04h00

A depressão pode ser uma prova de fogo para muitos casais. Falta de iniciativa, baixa libido, mau humor ou humor instável, pouca vontade de conversar, entre outras situações, costumam afetar o relacionamento quando um dos dois está deprimido. Para minimizar o impacto da doença na rotina, é necessário que o par tome algumas atitudes.

A primeira delas, uma unanimidade entre psiquiatras e psicólogos, é que a pessoa busque informações precisas sobre a depressão para lidar com o outro com mais compreensão e paciência. "Acompanhar a consulta médica, entender que a condição se trata de uma doença, saber quais são os efeitos colaterais iniciais da medicação e incentivar o processo de psicoterapia são comportamentos que podem fazer toda a diferença na hora de assimilar o quadro e suas necessidades", diz o psiquiatra Luiz Scocca, membro da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e da APA (American Psychological Association).

O acolhimento é indispensável, segundo Adriane Branco, psicóloga especialista em TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) pelo CPCS (Centro Psicológico de Controle do Stress). "Seja empático, ofereça afeto e esteja disposto a fazer o possível para que o parceiro não se sinta sozinho", recomenda.

Indivíduos deprimidos nem sempre conseguem perceber seu estado emocional, o que muitas vezes favorece o conflito dentro da relação e interfere na dinâmica e na qualidade de vida do casal. Por esse motivo, saber lidar com essa situação requer paciência e boa vontade. Vale se disponibilizar para buscar ajuda juntos, conversar sobre a doença e esclarecer dúvidas e crenças sobre a depressão. Também é importante encorajar o uso de medicação quando necessário.

Em algumas situações, ambos podem passar por processo psicoterapêutico, individual ou mesmo de casal, para aprenderem a lidar com a situação", diz Branco.

Segundo a psicóloga Andreína Moura, conselheira do CRP-RN (Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte), é válido lembrar que lidar com a parceria em depressão vai depender da saúde do relacionamento antes mesmo de a doença entrar em cena. "Problemas de comunicação e conflitos mal resolvidos, juntando com o cenário em que um dos dois está deprimido, pode ser um desafio maior", avisa.

Falas com julgamento devem ser evitadas

Também é necessário prestar atenção em algumas atitudes que podem ser prejudiciais, como julgar os comportamentos e sentimentos apresentados pelo parceiro. "Algumas pessoas se sentem tristes e apáticas perante a vida e muitas vezes ouvem frases como 'você tem tudo e mesmo assim não se sente feliz', 'não lhe falta nada', 'vai passar', 'isso é bobagem' etc. Há uma gama enorme de comentários que acabam atrapalhando em vez de ajudar", diz Branco.

De acordo com ela, quando o parceiro desmerece a dor do outro, ele intensifica o sofrimento da pessoa. "Portanto, não julgue, não critique, não faça sugestões que podem não ser adequadas, como tentar obrigar a pessoa a ter reações que não consegue. Nunca menospreze a dor do outro, respeite-a", sugere.

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É essencial buscar informações precisas sobre a depressão para lidar com o outro com mais compreensão e paciência
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A não compreensão de que a depressão é uma doença por parte do parceiro pode gerar muitos equívocos e direcionamentos que só prejudicam a recuperação de quem sofre dessa patologia. "Muitas vezes, não entender o quadro faz o parceiro pensar que as sensações de tristeza de quem sofre dessa doença também vão passar logo, que a pessoa deve 'reagir' e se 'esforçar' para que isso aconteça, o pode gerar culpa e ansiedade. Outro ponto muito sério é minimizar a necessidade de tratamento e medicações", observa a psicóloga Aline Melo, do Grupo São Cristóvão Saúde.

E se a depressão acometer a ambos?

Pode acontecer. E a maneira de cada casal lidar com ela vai depender do quanto estão afinados e dispostos a permanecerem juntos. Não é tarefa simples, pois terão que se amparar mutuamente, ou seja, se um não tem energia muitas vezes para lidar com as próprias dificuldades, imagine com as dificuldades do outro. "Entretanto, entender o outro através dos próprios sentimentos pode auxiliar a compreensão da doença em si, aproximar o casal, facilitar a busca de ajuda profissional e até mesmo favorecer o tratamento", salienta Branco.

Porém, se o casal já passa por desentendimentos na relação, as dificuldades podem ser maiores. Mas mesmo assim é possível tratar a depressão e posteriormente a relação conjugal.

Na opinião de Melo, em uma circunstância como essa, em que ambos na relação estão deprimidos, também é muito importante contar com uma rede de apoio para esse casal, com pessoas de confiança que possam observá-los e acolhê-los nesse momento, sendo reforçadores em seus respectivos tratamentos para uma boa evolução. "Acho importante destacar que, quanto mais nos conhecermos e compreendermos nosso funcionamento emocional, fica mais fácil de identificarmos quando algo não anda bem em nosso psicológico e tratarmos antes que vire uma patologia mais grave", diz.