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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Quais cuidados de saúde são necessários em viagens com idosos?

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

28/01/2022 04h00

Guarde isso: idosos podem viajar, mesmo sozinhos. Em se tratando de cuidados, o que deve ser levado em consideração não é a idade, mas o estado de saúde geral. Tanto é que não faltam exemplos de pessoas com mais de 60 anos que "colocam no chinelo" outras, bem mais jovens do que elas, quando se trata de ter disposição.

Imagina dar a volta ao mundo de barco aos 77 anos, escalar o Everest aos 73, ou desbravar o Polo Norte aos 89 anos?

Sim, embora incomum, é possível na terceira idade. O japonês Minoru Saito ficou 1.080 dias velejando pelo mar, tendo passado por Austrália, África do Sul, Chile e Havaí, antes de retornar para casa. Também do Japão, a alpinista Tamae Watanabe, além de tornar-se a mulher mais idosa a escalar o Everest, subiu o Kilimanjaro, o Mont Blanc e o Aconcágua. E a americana Dorothy Hirsch, a bordo de um navio quebra-gelo russo, desbravou o Ártico e entrou para o Livro dos Recordes.

Mas, não estando tão vigoroso assim, vale o idoso (ou, se for dependente, sua família e os cuidadores) ponderar, tomar cuidados e se informar com o médico e a empresa de turismo para que a viagem e o destino atendam a alguns requisitos importantes, visando bem-estar e segurança.

Até porque, com o envelhecimento, naturalmente o organismo muda. Está mais sensível à desidratação, exposição solar, sujeito a declínios de imunidade, sensoriais e motores.

Acessibilidade é preciso em tudo

Oceani Beach Park Hotel  - Divulgação - Divulgação
É sempre bom pesquisar sobre a acessibilidade do hotel antes de reservar
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Não sendo aventureiro e amante do perigo, é prudente o idoso escolher meios de transporte e alojamentos que atendam suas necessidades. São pontos a se priorizar, ainda mais ele tendo alguma limitação, se há check-in prioritário, embarque com acompanhamento especial, hotel com elevador, equipe médica, rampas de acesso, além de corrimões e barras de apoio em áreas comuns, quartos e banheiros. Geralmente, grandes redes hoteleiras têm tudo isso.

Se hospedar no térreo pode ser vantajoso, para não ter de subir e descer toda hora e correr o risco de se acidentar. Também busque na internet por boas avaliações e recomendações, incluindo de atendimento. Idosos precisam de menos formalidade e mais suporte, atenção, receptividade e carinho. Quando sozinhos, é vantajoso em vários aspectos que participem de grupos de viagem ou que contem com monitores para programações recreativas específicas.

Ter um hospital por perto é necessário, caso o local escolhido pelo idoso não disponha de ambulatório, socorristas. Ou então quando se sofre de algum problema de saúde, como doença cardiovascular, respiratória, labirintite, e ainda caso tenha alguma propensão, como para ter alergias, infecções e enjoos. Aí a necessidade de se avaliar se é uma boa ideia viajar para longe, sem conhecer nada, ou sabendo que o destino é muito afastado de serviços e pessoas.

Não dá para descuidar da dieta

Idoso bebendo água - iStock - iStock
Se a viagem for para um lugar muito quente, a hidratação é ainda mais indispensável
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Na verdade, em nenhuma idade, mas principalmente sendo idoso. Passar tempo demais sem comer, por estar na praia ou piscina, pode repercutir em mal-estar, tontura e taquicardia. Fora que ainda acelera a perda de massa muscular (sarcopenia), que já ocorre naturalmente nessa fase, e há o risco de hipoglicemia (perigosa para quem tem diabetes tipo 1, insuficiência hepática e renal), alterações intestinais, prejudicando até a absorção de remédios e vitaminas.

Também não dá para o idoso passar o dia inteiro bebendo. Primeiro, porque na terceira idade a sensibilidade ao álcool (alcoolemia) aumenta. Depois, porque a bebida agrava diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca, osteoporose, déficits de memória, predispõe a acidentes, como quedas, afogamentos, além de desidratação, falta de coordenação motora e interfere diretamente na ação de medicamentos e vice-versa —eles podem potencializar a embriaguez.

Tem mais. Não dá para descuidar da dieta, pois no último terço de vida somos igualmente mais suscetíveis a ter intolerância à lactose e intoxicações alimentares. Portanto, é necessário que o cardápio seja variado, com opções alimentares para quem não consome leite e derivados, e de excelente qualidade. Uma diarreia pode acarretar, em questão de horas, consequências graves para idosos, como desidratação, mau funcionamento dos rins e presença de sangue nas fezes.

Lembre-se de respeitar horários

Porta-remédios, porta-medicamentos, remédio, medicamento, pílulas - iStock - iStock
É fundamental respeitar os horários dos medicamentos de uso contínuo, e levar em quantidade mais do que suficiente para toda a viagem
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Fazer viagens longas de avião, carro e ônibus também requer cuidados. O risco é de se ter trombose venosa, formação de coágulos nos vasos sanguíneos e que, desprendidos para a circulação, podem acarretar embolia pulmonar e morte súbita.

Idade avançada, dificuldade de locomoção, doenças crônicas, tudo isso são fatores de risco. Assim, além de consultarem o médico antes, idosos devem se hidratar, caminhar e se exercitar no trajeto, a cada duas horas.

Ao chegar no destino, tenha em mente que a programação obviamente vai exigir adaptações. Nem sempre dá para se aproveitar tudo e no tempo que gostaria. Sol em excesso nunca é bom, mas em quem é mais velho leva, de novo, à desidratação mais rapidamente, bem como insolação, e potencializa a chance de se ter câncer de pele.

Sob radiação ultravioleta, manchas, lesões e hematomas podem escurecer e aumentar. É preferível que idosos desfrutem à sombra.

Para se expor, a recomendação é que seja antes das 10h e após às 16h, sempre usando protetor solar. Por falar em horários, leve em conta que idosos devem respeitar os de seus medicamentos, assim como de refeições e descansos.

Com mobilidade, visão e equilíbrio reduzidos é de se esperar que caminhadas e excursões não durem o dia inteiro. Nem a presença até tarde em shows, bailes, sobretudo em pé e de salto alto e se no próximo dia for o da viagem de volta.

Fontes: André Maurício, clínico-geral e cardiologista pela FMB-UFBA (Faculdade de Medicina da Bahia, da Universidade Federal da Bahia) e professor da Faculdade IPEMED-Afya; Felipe Gargioni Barreto, neurocirurgião pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e especialista em coluna da clínica Personal Ortopedia; Marcelo Cabral, mestre em ciências da saúde e geriatra do Hospital Esperança, em Recife; e Paulo Camiz, geriatra e professor do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).