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Sarcopenia afeta a força muscular; veja como combater problema na 3ª idade

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Samantha Cerquetani

Colaboração para VivaBem

10/07/2020 04h00

Resumo da notícia

  • A sarcopenia é uma condição bastante frequente em idosos e afeta a força e a resistência muscular
  • Esse problema de saúde é agravado pelo sedentarismo e alimentação inadequada
  • Diminui a capacidade de movimentação física, aumenta a fadiga muscular e pode causar dor pela falta de uso da musculatura
  • Alternar exercícios aeróbicos com treinamentos de resistência pode preveni-la
  • É muito importante ficar de olho na dieta e consumir mais alimentos com proteínas e vitamina D

Com o passar dos anos, é bastante comum que as pessoas percam a massa muscular e, consequentemente, a força nos músculos. Conhecida como sarcopenia, essa condição se apresenta como um processo natural do envelhecimento, que é agravada pelo sedentarismo e alimentação inadequada. Por isso, para quem está na terceira idade, esse problema pode comprometer o equilíbrio, a coordenação motora e, em alguns casos, afetar a autonomia do idoso, impactando diretamente na sua qualidade de vida.

"Cerca de 20% das pessoas com mais de 75 anos são afetadas pela sarcopenia. E elas ficam mais suscetíveis a quedas, perdem a mobilidade, podem sentir dor e se tornarem dependentes. Em alguns casos, é bastante limitante, por isso sempre recomendamos um envelhecimento ativo", destaca Renato Mello, diretor científico da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia).

Vale destacar que algumas doenças como câncer, infecções ou inflamações a longo prazo, além de traumatismos, podem acelerar a perda da massa muscular. Há outras condições de saúde que contribuem com o surgimento da sarcopenia tais como diabetes, insuficiência cardíaca, desnutrição e a doença pulmonar obstrutiva crônica.

O uso de algumas medicações também aceleram a perda de massa e a função muscular.

Além disso, com a idade há mudanças hormonais importantes —queda nos níveis de testosterona, estrogênio ou hormônio do crescimento. Há também a perda de neurônios que estimulam o músculo, resistência à insulina e uma diminuição da capacidade do corpo em converter proteínas em energia. Tudo isso pode alterar a força e a resistência dos músculos.

Como saber se tenho sarcopenia?

Quem tem sarcopenia frequentemente percebe uma fraqueza muscular e nota que eles perdem resistência. Como essa condição afeta a marcha, alguns idosos podem perder o equilíbrio e sentem dificuldade de realizar tarefas diárias.

Ela diminui a capacidade de movimentação física, aumenta a fadiga muscular e pode causar dor pela falta de uso da musculatura. Além disso, pode tornar mais lenta uma recuperação de cirurgia e um tratamento com internação hospitalar.

Há várias maneiras de se diagnosticar a sarcopenia. É possível avaliar a função muscular dos membros superiores e inferiores por meio de testes funcionais ou medindo a massa muscular com exames indicados pelo geriatra, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, densitometria de corpo total ou ultrassonografia.

"Recomenda-se que o diagnóstico seja feito por meio da identificação de perda de força muscular, medida pelo uso de um dinamômetro de pressão manual, juntamente com a pesquisa de redução de massa muscular. É importante que seja identificado o problema para evitar comprometimento da qualidade de vida. Quem tem essa perda muscular apresenta mais risco de hospitalizações e morte", explica Ivan Aprahamian, especialista em geriatria e psiquiatria e professor da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Um grupo que merece atenção são os idosos que estão acamados. Isso porque eles passam longos períodos deitados sem praticar qualquer atividade física e são mais propensos a desenvolver sarcopenia.

Mas é possível minimizar a perda da massa muscular e de sua função. De acordo com Paulo Cesar Ribeiro, gerente médico da equipe de terapia nutricional do Hospital Sírio-Libanês, no processo de envelhecimento, "a alimentação saudável, rica em proteínas, assim como exercícios físicos regulares de resistência são muito úteis para retardar a sarcopenia".

O tratamento e a prevenção envolvem sempre a orientação de profissionais de saúde como geriatras, nutricionistas ou nutrólogos e a prática moderada de atividade física de resistência com o acompanhamento de um educador físico.

Manter-se ativo é fundamental

Não é novidade que praticar atividade física faz bem para a saúde. Além de evitar diversas doenças, realizar exercícios regularmente contribui para manter os músculos ativos e é uma forma de combater a sarcopenia.

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Alternar exercícios aeróbicos, treinamentos de resistência e equilíbrio podem prevenir a perda muscular. "O sedentarismo faz com que os estímulos de contração dos músculos diminuam, o que consequentemente gera a perda da massa muscular de forma mais abrupta e de risco. Geralmente, indica-se a musculação a partir dos 40 anos por ser uma atividade específica para ganho de massa muscular", destaca Páblius Braga, coordenador do Centro de Medicina do Exercício e do Esporte, do Hospital 9 de Julho (SP).

Uma pesquisa realizada com mais de 800 pessoas acima de 60 anos mostrou que a caminhada também pode ser eficaz contra a sarcopenia. Já um estudo, feito com mais de 400 mulheres na pós-menopausa por um ano, concluiu que quem realizou atividade física como ciclismo, corrida ou caminhada por cinco vezes na semana teve um aumento da massa muscular.

Vale destacar que é importante buscar ajuda de um educador físico e fazer acompanhamento médico antes de começar a se exercitar. É necessário um check-up da saúde de forma geral e dos indicadores de sarcopenia. A atividade deve respeitar a aptidão física atual da pessoa e ser personalizada de acordo com as deficiências ou limitações musculares.

Alimentação deve ser aliada

A dieta também desempenha um papel importante na construção de massa muscular. Por isso, ter hábitos alimentares inadequados podem contribuir para o aparecimento de sarcopenia.

"O cuidado deve ser ainda maior com idosos que apresentem excesso de peso e que fazem dietas desequilibradas. Nesses casos, eles podem ter uma perda de massa magra muito mais acentuada", destaca Clarissa Fujiwara, nutricionista do Hospital das Clínicas da FMUSP e da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Síndrome Metabólica).

Alguns nutrientes são essenciais para manter a saúde muscular ou aumentar os benefícios do exercício. De acordo com a European Union Geriatric Medicine Society, os idosos precisam incluir mais proteína na dieta do que os jovens por serem mais vulneráveis a perdas na capacidade da função física muscular. A recomendação é ingerir de 1 a 1,2 g de proteína por quilo todos os dias. Para pessoas internadas ou imobilizadas essa quantidade pode aumentar.

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É necessário consumir com mais frequência alimentos de origem animal tais como carnes vermelhas, aves, peixes e ovos. Além de leite, iogurtes, queijos e leguminosas como feijão, grão-de-bico, ervilha, vagem e soja.

"Recomenda-se que a ingestão de proteínas deva ser distribuída ao longo do dia. É importante evitar consumir em uma única refeição a fim de garantir o ganho de massa muscular dentro das 24 horas", alerta Fujiwara.

Já a vitamina D é um nutriente bastante importante para os idosos, mas os níveis tendem a diminuir com o envelhecimento. Isso ocorre devido a ingestão inadequada de alimentos e a redução da exposição ao sol. E a vitamina D ajuda a absorver o cálcio no organismo, apresentando importante influência na composição óssea e no metabolismo.

Ela contribui para manter a estrutura do esqueleto saudável. E sua deficiência está associada com a perda óssea, aumento do risco de quedas e fraturas e diminuição da força muscular. A quantidade ideal é consumir de duas a três porções de alimentos com vitamina D por dia. Por isso, é importante incluir na dieta com regularidade os peixes gordos como salmão ou sardinha, o leite e seus derivados e os ovos.

"A suplementação de proteínas e aminoácidos, muitas vezes, se faz necessária. Em estágios avançados de sarcopenia, o tratamento pode incluir também o uso de esteroides anabolizantes, sempre com acompanhamento médico. Há a necessidade de uma mudança de estilo de vida e pode demorar um bom tempo para termos os resultados. Mas é possível reduzir a sarcopenia ou pelo menos estabilizar o quadro", finaliza Marcella Garcez, nutróloga e diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).

Revisão técnica: Páblius Braga.