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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Cuidados paliativos: psiquiatras são essenciais para humanizar o tratamento

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Imagem: iStock

Bruna Alves

Do VivaBem, em Porto Alegre*

09/10/2021 04h00

A vida é cercada de dúvidas e incertezas, mas a morte é inquestionável, pois não há como "escapar". A questão é: como serão os dias, meses ou até mesmo anos de pessoas que sabem que vão morrer logo?

Embora seja difícil, é importante falar a respeito, especialmente para que as vontades individuais e a dignidade humana sejam respeitadas, como nos casos de preferências por cuidados paliativos, em que os pacientes recebem o que for necessário para amenizar o sofrimento.

Durante o 38º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Porto Alegre (RS), na última quinta-feira (7), Pedro Daniel Katz, psiquiatra do Hospital Samaritano, da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e chefe de equipe de psiquiatria da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, chamou atenção para um ponto importante. "A gente tem um conceito de que a vida vai bem e nada vai acontecer", disse.

O especialista lembrou que há casos em que a pessoa recebe cuidados paliativos por período indeterminado, mas há doenças oncológicas agressivas em que esse cuidado é urgente, já que o paciente terá pouco tempo de vida.

A pessoa, portanto, deve ter o direito de escolher como quer terminar seus dias. E, veja bem, estamos falando de morte, uma ideia que acaba com a perspectiva de futuro e gera uma reflexão inesgotável, além de angústias e medo de dormir (e não acordar).

"O nosso papel, enquanto médico e psiquiatras, é propor coisas que ajudem o ser humano a ficar bem, mas esse é um direito, não uma obrigação", afirmou Katz.

Além disso, segundo o médico, o psiquiatra não está ali para opinar em coisa alguma, mas, sim, para ouvir e respeitar a decisão do paciente, seja ela qual for. O mais importante é promover acolhimento e conforto nesse momento tão difícil.

"Custaria tão pouco lembrar que o doente também tem sentimentos, desejos, opiniões e, acima de tudo, o direito de ser ouvido", disse o psiquiatra, ressaltando que não tem segredo para fazer o que é certo. "O nosso trabalho é aprender a perguntar, o paciente não quer falar de bolo de chocolate. E preparar a família é importante para o inevitável", acrescenta.

Vale lembrar que há vários estágios durante o processo de uma doença terminal. Primeiro vem a fase da negação, quando ela não aceita que está doente e busca qualquer alternativa para justificar o problema.

Em seguida, vem o processo de raiva: por que isso está acontecendo comigo, o que eu fiz de errado, por que o médico não dá um jeito? A depressão, normalmente, é a próxima fase. Depois vem a "barganha", em que o paciente tenta de todas as formas sair da situação e, por último, a aceitação. Mas há casos em que essa não é a sequência, ou seja, cada um vive momentos distintos.

Em todo esse processo ainda entra a questão da espiritualidade que ainda que os médicos não creiam, precisam respeitar a crença do paciente, que na fase terminal pode tentar se apegar a qualquer fio de esperança.

Milena Sabino Fonseca, psiquiatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, professora e preceptora dos cursos de pós-graduação em psiquiatria do ISMD (Instituto Superior de Medicina) e do Instituto CBI of Miami reforçou que a humanização do atendimento precisa ser resgatada, principalmente dentro da oncologia.

"Humanizar esse paciente é fundamental para que ele tenha uma evolução melhor, até da própria doença, com conforto e em paz."

E quanto ao médico?

Não tem outra forma de lidar com a morte sem presenciá-la de perto. Os médicos psiquiatras que atuam com cuidados paliativos sabem que o paciente vai morrer. Não é fácil, afinal, médicos são seres humanos. Mas é preciso aceitar para conseguir fazer um bom trabalho até o fim.

Na prática, porém, muitos se questionam se fizeram tudo que podiam, se poderiam ter feito algo diferente, procuram qualquer falha que justifique a morte. O profissional também pode passar por todas as fases do paciente.

Mas a opinião dos especialistas é unânime: um psiquiatra só pode atuar com cuidados paliativos se conseguir lidar plenamente com a morte, encarar como algo natural que vai acontecer com todos algum dia.

Cuidados paliativos na pediatria

Quando o assunto é criança, tudo fica ainda mais difícil, pois é preciso lidar com pais ou cuidadores.

"É importante que o psiquiatra conheça a criança para entender em que momento ela vai ter reações frente àquela doença", explicou Sônia Maria Motta Palma, psiquiatra infantil, docente e coordenadora do ambulatório de psiquiatria Infantil da Unisa (Universidade de Santo Amaro).

Ela acredita que o psiquiatra é indispensável para ajudar a criança a lidar com a situação. "O psiquiatra de alguma maneira pode orquestrar um pouco essa equipe que vai cuidar da família e da criança, para que ela fique com menos ansiedade e durma melhor."

Já a reação infantil diante de uma doença terminal pode ser relacionada a diversos fatores como idade, estresse, dor física, angústia, entre outras. O papel principal do psiquiatra é identificar os sintomas que possam interferir ainda mais no curso da doença.

A psiquiatra da BP acrescenta que é importante não levar em conta só o que é dito pelo paciente, mas prestar atenção na sua postura, tom de voz e todos os detalhes possíveis.

"Isso faz parte de um atendimento humanizado. A palavra principal é empatia, entender o que o paciente e a família estão vivendo. É você deixar a doença seguir seu fluxo natural", conclui Milena.

Vem aí a 2ª Semana da Saúde Mental VivaBem

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    *A repórter viajou a convite da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).