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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Faz mal guardar lembranças de ex ou pessoas que já não são tão próximas?

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Imagem: iStock

Flávia Santucci

Colaboração para o VivaBem

01/09/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Manter presentes de ex-amores e ex-amigos só faz sentido se objetos não despertarem dor ou tristeza
  • Redes sociais também precisam ser reorganizadas com fins de relacionamentos e amizades
  • É natural guardar objetos, mas é preciso avaliar se o que está sendo guardado é saudável
  • ?Retiro da boa morte? é dica para quem deseja limpar as gavetas

Dar e receber presentes é natural do ser humano e, em muitos casos, lembranças que você ganhou anos atrás ainda estão guardadas em algum canto da sua casa. A pessoa que deu o presente nem faz mais parte do seu convívio social —pode ser um ex-amor ou um ex-amigo —, mas basta olhar para aquele objeto que imediatamente você se lembra da sua história com ela. Apesar de normal, a atitude pode indicar que o passado ainda está muito presente na sua vida e, dependendo do sentimento que aquele objeto despertar em você, isso pode não ser bom.

"A gente carrega memórias que fazem parte da gente, não precisaríamos de outros elementos para ir ao passado. Guardar coisas já mostra que tem algo que pode não estar resolvido, é como se fosse um apego do que você perdeu", explica o psicanalista Bruno Severo Gomes, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Segundo ele, se o objeto traz dor e tristeza, passou da hora de se desfazer dele. "Existem pessoas que sentem um prazer inconsciente de ficar sempre recordando algo que perderam. Isso acaba nutrindo um sentimento de culpa por aquilo que aconteceu e ainda alimenta um desejo de voltar a se encontrar com a pessoa e reatar (o namoro ou a amizade) mesmo que não exista essa possibilidade. É muito importante deixar algo que já existiu, mas é um processo que depende de cada pessoa".

Como é normal guardarmos coisas que ganhamos, o ideal, ainda segundo Gomes, seria apenas manter por perto objetos que tragam felicidade e lembranças de bons momentos com pessoas queridas e importantes que passaram por nossa vida.

Recordar faz bem. Somos seres emocionais e nos apegamos a qualquer coisa. É perfeitamente aceitável e normal a gente guardar, mas precisamos fazer uma avaliação se o que estamos guardando é saudável ou não". Bruno Severo Gomes, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Muito além de objetos palpáveis, é importante também olhar para as lembranças virtuais. Às vezes, o fim de um namoro ou uma amizade também pode significar que não faz sentido manter aquela pessoa na sua lista de amigos. "Você termina com a pessoa, mas não deleta os amigos dela, os parentes dela. Isso é reflexo de um passado não resolvido. Se causa tristeza, não deveria estar ali", ressalta Thiago Almeida, psicólogo do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) e especialista no tratamento das dificuldades em relacionamentos amorosos.

Cada um deve perceber se faz bem guardar ou não

Para a psicóloga Ligia Kaori Matsumoto, do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim), quando se trata de rompimentos afetivos e amorosos, é importante ponderar que não existem protocolos, certo ou errado, melhor ou pior. Cada indivíduo percebe os relacionamentos de formas distintas. "Tudo isso resulta na forma de enfrentar subjetivamente o término e a perda do vínculo. Os impactos vão de acordo com a sensibilidade de cada um", diz.

Segundo ela, objetos e lembranças físicas marcam episódios da vida, são carregados de memórias afetivas e geram emoções diversas. No rompimento de um vínculo, é importante considerar o que cada material desperta, o que representa e que sentimentos gera. "Muitas vezes, um objeto marca um tempo significativo da vida e, mesmo que a pessoa não faça mais parte dela, aquilo a faz se sentir bem, traz memórias positivas de uma época importante de realização, por que não guardar?", reflete.

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Quando você retira coisas que estão apenas ocupando espaço na sua vida, acaba abrindo mais espaço para que coisas novas aconteçam
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Matsumoto ainda diz que a pessoa pode sentir que a necessidade de guardar estes objetos diminui com o tempo ou até nem existe mais e ela mesma descarta o presente da forma que desejar e quando desejar. "Cada pessoa é única e deve-se levar em conta que este processo é interno e individual".

Para Almeida, não se precipitar em jogar fora pode colaborar no entendimento da real necessidade de manter o objeto ali. "O termômetro sempre vai ser você. Se é bom ou mal, você que decide".

Como saber?

Na dúvida se manter ou não um objeto de alguém que já não faz mais parte do seu círculo de relacionamentos tem sentido, basta pensar qual seria sua reação se o perdesse ou quebrasse, ensina Gomes. Segundo ele, entender se o motivo da sua felicidade está em possuir aquilo também pode ajudar a descartar coisas que já não fazem sentido ter por perto. É o chamado "retiro da boa morte".

"Quando a gente morre, quem fica acaba doando nossas coisas materiais. Por que não fazer isso em vida? 'Retiro da boa morte' é você abrir o guarda-roupa, os armários, as gavetas e tirar tudo aquilo que está ocupando espaço. Quando você retira coisas que estão apenas ocupando espaço na sua vida, acaba abrindo mais espaço para que coisas novas aconteçam. A gente guarda muita bagunça do passado e liberar espaço para coisas novas movimenta a vida. E a vida é movimento".