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Caso Henry: remédio para ansiedade deve ser usado com cautela em crianças

Henry Borel, de 4 anos, morreu no dia 8 de março no Rio de Janeiro - Reprodução/Redes Sociais
Henry Borel, de 4 anos, morreu no dia 8 de março no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

15/04/2021 12h58Atualizada em 15/04/2021 16h28

Em novo depoimento, a empregada doméstica Leila Rosângela de Souza Mattos, que trabalhava na casa do médico e vereador Dr. Jairinho (sem partido) e Monique Medeiros, padrasto e mãe do menino Henry Borel, disse ontem que Monique dava remédio de ansiedade para o filho pelo menos três vezes ao dia porque ele era um menino que "não dormia direito".

Segundo Mattos, a mãe de Henry ainda oferecia xarope de maracujá porque o menino "não dormia direito, passava muito tempo acordado". A empregada ainda disse que Monique e Jairinho faziam uso de muitos remédios, mas não sabe por que os patrões faziam uso excessivo de medicamentos.

A indicação de remédios para controlar problemas como ansiedade e depressão em crianças pode ser importante em algumas situações, mas o uso— o que inclui a dosagem e a frequência de ingestão diária — deve ser feito sempre orientado por um especialista.

"Nunca devemos medicar a criança sem prescrição médica, sem que ela passe por uma avaliação para entender o quadro psicológico que ela está mostrando", afirma Danielle Admoni, psiquiatra da infância e da adolescência na Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Medicação em crianças requer cautela

Remédios para tratar ansiedade e depressão, entre outros distúrbios psiquiátricos e psicológicos, podem eventualmente ser usados em crianças que tenham algum quadro comprovado dessas enfermidades e estejam muito agitadas ou se machucando, por exemplo.

No entanto, por ainda estarem em desenvolvimento físico e neurológico, o especialista precisa avaliar o caso de forma cautelosa para garantir que a medicação trará mais benefícios do que problemas.

Quadros leves de ansiedade e depressão, por exemplo, podem ser tratados inicialmente com psicoterapia. "É uma tentativa de evitar a medicação, especialmente em crianças menores", explica Admoni.

As medicações consideradas naturais para a ansiedade, como é o caso do xarope de maracujá, também precisam de cautela e também precisam de orientação na hora do uso (quando são recomendadas). "A dosagem para o peso de um adulto é diferente daquela usada para o peso de uma criança pequena, e isso pode até interferir na frequência cardíaca e respiratória", alerta a pediatra Ana Barroso, do Rio de Janeiro.

Compartilhar medicamentos não é recomendado

Em seu depoimento, não fica claro se Monique e Jairinho compartilhavam os próprios remédios com a criança. Mas, é importante reforçar que isso nunca deve ser feito, já que a prescrição é feita de forma individualizada para cada paciente.

"Os medicamentos dos pais nunca devem ser compartilhados com as crianças, especialmente as pequenas, pois o que é bom para indivíduos adultos não necessariamente é recomendado para os menores", alerta a especialista.

Além disso, alguns medicamentos antipsicóticos, estabilizadores de humor e até medicações para dormir são evitadas ao máximo em crianças pequenas por falta de estudos que indiquem a segurança na sua aplicação.

Agente estressor precisa ser afastado

Por fim, é importante falar que nenhuma medicação para ansiedade resolverá o quadro se o agente estressor que desencadeou a situação não for afastado.

"Se a criança está com comportamento ansioso, é preciso entender o que está acontecendo, quais as causas por trás daquilo, antes de recomendar a medicação", afirma Admoni. "Sem afastar o agente estressor, fica difícil resolver a situação", afirma a médica.

Por isso, é importante os pais ficarem atentos a qualquer mudança brusca de comportamento, como aconteceu com Henry. Dificuldade para dormir sozinho, regressão de fala ou qualquer outra habilidade já estabelecida, choro constante e medo constante são sinais de que algo está acontecendo.

"A criança pequena costuma fantasiar sobre heróis e personagens, mas não mente sobre a violência que vive", afirma Ana Barroso. "É fundamental que os pais reforcem que a criança está segura para que ela possa se abrir", afirma.