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Saiba escolher um bom tênis para corrida ou caminhada e quando trocá-lo

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Denis Fonseca

Colaboração para o VivaBem

19/03/2021 04h00

O tênis é o principal equipamento de quem pratica corrida e caminhada, responsável por reduzir impacto e garantir conforto durante as passadas. Mas diante de tantas marcas e modelos disponíveis —com diferentes tecnologias, tipos de pisada, versões, cores e preços— é muito comum que quem esteja começando a treinar ou até mesmo quem já é experiente na atividade física tenha dúvidas na hora de comprar um calçado.

A seguir, respondemos algumas perguntas para ajudar você a escolher um bom tênis de corrida e caminhada e também cuidar corretamente do seu companheiro de treinos.

O que é mais importante na hora de escolher um tênis para correr ou caminhar?

O conforto é a principal característica que você deve observar. Não adianta nada ter um tênis bonito e ultratecnológico que machuca seu pé, impedindo a atividade física.

A melhor forma de saber se um calçado é confortável é testando. Por isso, na hora de comprá-lo, não tenha vergonha de calçar os dois pares (pois nossos pés não são do mesmo tamanho e às vezes um número fica bom em um pé e apertado no outro) e caminhar ou até trotar por uns minutos na loja, para "conhecer" o calçado. Sinta se ele se encaixa bem em seu pé e não fica apertado em nenhum ponto.

Meu peso importa na hora de escolher o tênis?

Não há uma regra de que pessoas com peso X devem usar tênis Y. Mas lembre-se que conforto é sempre o mais importante e, como sofrem um impacto maior a cada passada, pessoas com sobrepeso tendem a se sentir melhor ao usar tênis que proporcionam bom amortecimento (modelos com o solado mais alto). A regra também costuma valer para os iniciantes, já que o corpo ainda não está adaptado ao impacto do exercício.

Já pessoas mais leves ou atletas experientes podem se dar bem com modelos com menor amortecimento, que por ter menos tecnologia pesam menos. Mas isso é muito pessoal e nada impede de um atleta leve usar um tênis com mais amortecimento, que pode ser uma boa principalmente em treinos e corridas mais longas.

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É importante saber meu tipo de pisada?

Não. Durante muito tempo, acreditou-se que usar um tênis específico para seu tipo de pisada (que pode ser neutra, supinada ou pronada) era essencial para prevenir lesão. Mas isso nunca foi cientificamente comprovado. Por isso, hoje há um consenso que o mais importante é conforto.

"Um estudo observou um grupo de corredores que usaram tênis específicos para a pisada e outro grupo que correu com o modelo que achava mais confortável, independentemente do tipo de pisada. Resultado: o segundo grupo teve menos lesões", explica Sérgio Maurício, ortopedista e traumatologista pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em cirurgia do joelho pelo Into (Instituto Nacional de Ortopedia e Traumatologia).

O formato do pé faz diferença na hora de escolher um tênis?

Faz, sim. Algumas pessoas têm pés mais finos, outras mais gordinhos, outras com o arco mais alto. E alguns calçados podem não se adaptar bem a certos formatos de pé. "Um tênis com forma mais estreita, por exemplo, pode ficar desconfortável em quem tem pé mais grosso, que deve optar por um modelo mais largo. Por isso é muito importante testar muito bem o calçado na loja", diz Rodrigo Roehniss, consultor de tênis de corrida e produtos agregados de atletas profissionais e amadores.

Preciso comprar um tênis de número maior para correr ou caminhar?

Não obrigatoriamente. O mais importante é, ao experimentar o tênis, verificar se a ponta dos dedos não está pegando ou muito próxima da parte frontal do calçado —se isso acontecer, teste um número maior.

Quando fazemos atividade física, nossos pés incham. Então, se o tênis estiver muito justo, pode ficar apertado e começar a incomodar no meio do treino. Geralmente, a recomendação é que sobre o espaço de um dedo (da mão) entre o dedão do pé (se ele for o mais comprido) e a frente do calçado.

Nunca compre um tênis apertado contando que ele vai alaciar, pois isso nem sempre acontece.

tênis de corrida - iStock - iStock
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Um tênis caro é garantia de boa compra?

Não. Hoje, há muito investimento de tecnologia e marketing nos calçados, o que pode fazer com que alguns produtos custem mais de R$ 1200. Mas é importante avaliar se você realmente precisa de tudo aquilo que o modelo oferece, pois muitas vezes um modelo mais barato pode ser tão confortável quanto e entregar tudo que você precisa. Ou seja, será uma compra muito melhor.

"Os modelos mais caros, que acabam ultrapassando a casa dos mil reais, têm como diferencial uma placa de carbono —colocada na entressola e que promete ajudar na performance. Eles são voltados para o alto desempenho e dificilmente mudarão os resultados de atletas iniciantes ou mais lentos, que podem encontrar ótimos calçados pela metade do preço", fala Roehniss.

Após quanto tempo preciso trocar de tênis?

Segundo os fabricantes, um calçado geralmente dura de 300 km a 600 km (dependendo do modelo) e depois disso sua capacidade de absorção de impacto pode ficar comprometida. No entanto, os especialistas alertam que para "aposentar" um tênis é mais importante observar seu desgaste do que se basear só na quilometragem.

"É hora de comprar um tênis novo quando o solado está muito desgastado, torto ou com deformidade, ou se o revestimento interno ou o cabedal (parte de cima do calçado) estão rasgados", recomenda Maurício.

Pablius Staduto Braga, médico do esporte do Hospital Nove de Julho, indica que os corredores tenham sempre dois calçados e façam um rodízio entre eles. "Assim, você terá uma referência para comparação e poderá perceber quando um modelo perdeu sua capacidade de amortecimento, algo que nem sempre é notado visualmente, por exemplo", afirma.

Correr com um tênis novo pode causar bolhas?

Sim, pois o calçado ainda não "se ajustou" ao formato dos seus pés e pode haver alguns pontos de maior atrito. Portanto, é recomendado que nunca se faça treinos muito longos ou provas com um tênis novo —uma bolha pode tirar você de uma competição para qual treino por meses.

Ao comprar um tênis, use-o alguns dias em casa ou para pequenas caminhadas, como para ir até a padaria, para que ele se adapte aos seus pés. Depois, utilize-o em corridas curtas e leves e só depois em treinos longos ou competições.

Posso usar um tênis de corrida para fazer musculação e aulas na academia?

Até pode, mas isso não é necessário nem vantajoso. Os tênis de corrida possuem tecnologias de amortecimento, correção de pisada etc., que não ajudam em nada na musculação —o solado mais alto, inclusive, pode até atrapalhar o equilíbrio e estabilidade em alguns exercícios.

Como o atrito de alguns aparelhos de musculação com o calçado podem acelerar seu desgaste, muitas vezes compensa mais ter um modelo mais barato e sem tecnologia só para ir à academia e deixar o tênis de corrida só para correr. A exceção é para quem faz aulas na academia com exercícios de impacto ou danças. Nesse caso, o amortecimento do calçado de corrida pode trazer conforto.

Tem problema correr ou caminhar com tênis para outros esportes?

Isso não é muito recomendado. Além de geralmente ser menos confortável, um tênis que não foi feito para correr ou caminhar pode não ter boa aderência e aumentar o risco de queda, por exemplo. Ou de uma torção de tornozelo se não tiver boa estabilidade.

"Hoje, sabemos que o tênis de corrida não tem um papel tão significativo para prevenir lesões por 'excesso de uso', como tendinites, fascite plantar, canelite, fraturas por estresse etc., mas nem por isso vale o risco de treinar com um calçado inapropriado, já que podem ocorrer outros problemas", explica Maurício Garcia, fundador da Sonafe (Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva) e fisioterapeuta do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Vale lembrar que as lesões mais comuns entre corredores geralmente ocorrem pelo aumento excessivo do volume e da intensidade de treino, pela falta de descanso adequado entre os treinos, por causa de pouca mobilidade do atleta e falta de força muscular.

Como limpar os tênis?

É importante tratá-los com delicadeza, pois esses calçados contam com tecnologias avançadas, materiais delicados —como fibras e espumas— e técnicas especiais de colagem e costura.

Com um pano úmido, remova a sujeira mais grossa. Depois, use água, sabão neutro e um escovão macio (ou até uma escova de dentes) para lavar o solado. No cabedal e no interior do calçado, utilize esponjas mais macias.