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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Como saber se terapia está funcionando? Veja formas de avaliar seu processo

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Dan Novachi

Colaboração para o VivaBem

20/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • A confiança no profissional escolhido e o tipo de linha a ser seguida são essenciais para a qualidade da terapia
  • A primeira sessão pode ser um termômetro importante para entender se houve sinergia
  • O tempo de tratamento na maioria das abordagens não é especificado e varia de acordo com as questões individuais

Partindo de um universo grande de linhas e abordagens, a psicoterapia e a psicanálise costumam levar algum tempo até darem resultado. Quando se trata de saúde mental, não é tão simples estabelecer uma linha de evolução como em outras áreas da saúde, nas quais prescrições e tempo de tratamento são específicos.

O início da jornada de autoconhecimento não corresponde a um processo linear, mas sim a um caminho demorado, com momentos tranquilos e tumultuados. "Normalmente os resultados da terapia infantil são mais imediatos e as mudanças são observadas mais facilmente. Mas nos adultos é mais demorado e difícil, pois existem comportamentos que já se tornaram hábitos ao longo da vida", diz Mônica de Barros Soutello, psicóloga clínica, pós-graduada pela USP (Universidade de São Paulo).

O melhor indicador de eficácia do tratamento são as sensações do próprio paciente. Conseguir se expressar mais emocionalmente ou até mesmo notar uma nítida melhora em quadros específicos de crises de ansiedade ou de pânico, por exemplo, também são bons marcadores.

Teoricamente, um bom critério para esse término é o paciente está se sentindo bem o suficiente para encerrar o assunto que o levou à psicoterapia. A questão é que a vida é feita de problemas, e não apenas um.

"O processo de autoconhecimento é difícil e contínuo ao longo da vida. Você pode querer dar um tempo na sua terapia e está tudo bem. É importante, entretanto, finalizar o processo iniciado, colocar um ponto final. Todo processo tem início, meio e fim", diz Soutello. Nesse caso, ela sugere que o paciente converse sobre o real motivo de estar parando e, se achar importante mudar de profissional, experimentar.

Ela, que atua como psicoterapeuta há mais de 20 anos, observa que muitos pacientes param porque a queixa inicial foi resolvida e, embora existam outras, preferem dar um tempo. Da mesma maneira, muitos pacientes voltam depois de um tempo com outras queixas.

O importante é saber qual seu real motivo para parar ou continuar. Por que descontinuar o tratamento? Já alcançou os objetivos iniciais? Há um medo de seguir a vida sem a ajuda de um terapeuta? Ainda há questões profundas mal resolvidas? De tempos em tempos, pode ser bom fazer uma avaliação do progresso e até mesmo pedir para o especialista dar um feedback sobre as sessões. Além disso, pessoas "de fora", como amigos próximos ou parceiros, podem ser questionados se houve uma evolução perceptível.

Quanto tempo leva para o fim?

Não se deve ter pressa para concluir o tratamento. Geralmente, ele é individual e depende das necessidades de cada paciente. "Não dá para fazer uma terapia olhando o relógio, para a ampulheta. É um processo, não é um ato", diz Sandra Maria da Silva Costa, mestra em psicologia clínica pela PUCSP e professora do curso de psicologia do Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo).

Ela diz que as tentativas de comparação do tratamento psicoterapêutico com tratamento médico influenciam a uma visão equivocada. É comum que os pacientes esperem um tratamento pontual, como se fosse um medicamento, mas não é possível lidar com as emoções dessa maneira. "As pessoas querem coisas imediatas e é aí onde entra a crença no medicamento, que é uma terapia excelente no imaginário social. Só que com ele não questionamos nós mesmos, nossas relações ou aquilo que nos afeta. Simplesmente queremos um medicamento que nos cure de imediato, para não indagarmos mais sobre a nossa experiência".

Além disso, quando a busca pelo atendimento tem uma causa latente, como a morte de um ente querido, o processo terapêutico terá como foco não o sintoma de dor narrado, mas o luto como um todo, podendo, em um primeiro momento, potencializar o sofrimento —e dar a sensação de regressão. "Ao dar espaço para a narrativa da perda e conhecimento do vínculo com a pessoa que morreu, o paciente poderá entender que não está progredindo. Há uma concepção errônea de que a efetividade da terapia é se livrar do sintoma narrado de forma mágica ou instantânea", diz Vanessa Karam, psicóloga da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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Autoavaliação de progresso ou até mesmo perguntar para o terapeuta podem ajudar
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Confiança é chave para evolução

Encontrar um especialista que passe confiança não é uma tarefa simples, mas essencial para o progresso na terapia. Se o paciente se sente seguro para se abrir e contar o que lhe aflige, o profissional também se sentirá confortável para explorar os diversos aspectos da vida (relação do paciente consigo mesmo, com o outro e com o mundo).

"Por meio dessa confiança, o especialista poderá encorajar o paciente a examinar o sintoma narrado, suas relações com papéis e funções sociais, bem como seus sentimentos, expectativas, comportamentos", diz Karam. Para ela, se o paciente se sentir seguro e encorajado para essas reflexões, entende-se que há uma progressão no processo terapêutico.

Sem a participação, entrega do paciente e confiança no terapeuta, o processo não caminha. Tem de ser um caminho percorrido a dois, pelo especialista e o paciente.

Costa também ressalta a importância dessa sensação de segurança: "A terapia tem momentos dolorosos, nós vamos expor as nossas falhas, nossas faltas e angústias e vamos também entender como nós produzimos isso. Neste processo, o paciente estará nas mãos do analista, para que este possa entender tudo isso e ajudar o paciente a compreender".

Para ajudar na escolha do profissional, algumas perguntas podem ser úteis. Elas devem ser refletidas após uma primeira sessão com um terapeuta:

- Você sentiu que o profissional realmente escutou o que você disse?
- Você se sentiu respeitado ou julgado? (O esperado é sentir-se respeitado)
- Conseguiu falar sobre o que fez você buscar ajuda?
- Você se sentiu ouvido e compreendido?
- Sentiu que pode confiar no profissional? Sentiu-se acompanhado?
- Você saiu da sessão mais aliviado do que estava quando chegou?

Metas para a terapia

Algumas pessoas buscam a terapia com um objetivo específico, como o enfrentamento de uma doença, um processo de luto, uma crise de ansiedade, um comportamento compulsivo ou até a própria vida na pandemia. Nesses casos, há linhas específicas que trabalham com metas e objetivos mais bem definidos.

A psicoterapia breve focal, por exemplo, estabelece um período de seis meses de tratamento, com avaliação do processo e estabelecimento de uma questão focal. A terapia cognitiva comportamental, diante de dificuldades pontuais, também permite estabelecer número de sessões, metas e objetivos.

Soutello, no entanto, levanta uma questão para a adoção de metas ou número de sessões: "Muitas vezes, o paciente chega com uma queixa e antes da solução da mesma surge outra questão mais 'urgente', que toma o lugar da primeira e mudamos a direção. Esse é mais um motivo para não se definir um número de sessões para o processo terapêutico".

E quando não sentimos progresso?

Diante da sensação de falta de progresso, Karam sugere discutir a questão com o próprio profissional. Às vezes, esse diálogo ajuda a terapia a deslanchar, ou pode evidenciar que a relação não está funcionando.

Se a sensação de estagnação ou regressão dos sintomas permanecer, o indicado é que se troque de terapeuta. Como a segurança no psicoterapeuta é um ponto importante para o processo terapêutico, geralmente a troca de profissional tem relação com o enfraquecimento dessa confiança.

E não tenha medo de começar do zero. Por mais dolorido e demorado que possa parecer, seja qual for o motivo que o tenha levado à terapia, depressão, problemas de relacionamento, ansiedade, o intuito do processo é ajudá-lo.