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Mãe com covid-19 dá à luz, fica em coma e conhece filho 23 dias após parto

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

20/05/2020 14h00

Com suspeita de estar infectada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), a recepcionista Renata Fernandes Izolli, 39, foi submetida a uma cesárea de emergência com 35 semanas de gestação. O resultado demoraria 48 horas para sair, mas como o quadro dela era grave, os médicos decidiram fazer o parto para tentar salvar a vida dela.

Murilo nasceu no dia 15 de abril de 2020 e ficou em isolamento numa incubadora sem contato com os pais —Renata foi colocada em coma induzido, e Fernando teve que fazer a quarentena em casa. O resultado de Renata deu positivo para covid-19; já pai e filho tiveram a doença descartada pela ausência de sintomas.

Recuperada, Renata conta como foi conhecer o filho 23 dias após o parto:

"Eu e meu marido, o Fernando, sempre tivemos vontade de ter um filho. Tentei engravidar por três anos até que em outubro de 2019 descobri que estava grávida de dois meses e meio. Meu pré-natal foi tranquilo, mas no final da gestação minha pressão subiu, fui diagnosticada com pré-eclâmpsia, e passei a tomar medicação para controlar a pressão.

Em março, começaram as orientações para evitar aglomerações por causa do coronavírus. Como fazia parte do grupo de risco por estar grávida, me mudaram de setor no meu trabalho. Era recepcionista de um hospital e, para não ficar em contato direto com o público, fui transferida para a área administrativa. Quando chegava em casa, deixava a roupa e o sapato na lavanderia, tomava banho e seguia todas as recomendações de higiene.

Os primeiros sintomas foram falta de ar, tosse seca e fadiga

Tive os primeiros sintomas da covid-19 com 35 semanas de gestação. Sentia muita falta de ar quando colocava a máscara no trabalho. Além disso, comecei a ter tosse seca e a ficar cansada quando conversava. Meu marido falou para irmos ao hospital, mas não queria, falei que ia melhorar. Achei que fosse uma gripe, nunca tinha passado pela minha cabeça que poderia ter contraído o vírus.

Nós fomos ao pronto-socorro e fiquei em observação durante 48 horas. Os médicos suspeitaram que estava com coronavírus e fizeram o exame, mas demorava alguns dias para ficar pronto.

No dia 14 de abril fui transferida para o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Lá, fiz mais exames, outro de corona e fui submetida a uma tomografia de tórax que constatou que meus dois pulmões estavam muito debilitados e que eu estava com uma infecção, possivelmente por coronavírus.

Meu quadro evoluiu rapidamente, tive febre, queda de saturação e precisei de oxigenação. Os médicos tinham certeza que eu estava com coronavírus, mas o resultado só sairia em dois dias, eles não podiam esperar. Decidiram fazer uma cesárea de emergência para tentar salvar a minha vida. Pela idade gestacional de 35 semanas, não haveria riscos para o Murilo naquele momento. Estava com muito medo de que eu e meu bebê morrêssemos.

Por causa da suspeita, avisaram meu marido que ele não poderia assistir ao parto e precisaria cumprir a quarentena em casa. Me deram anestesia geral e fizeram o parto do Murilo no dia 15 de abril de 2020. Dois dias depois, o resultado do meu exame deu positivo para covid-19.

Quando nasceu, o coração do Murilo batia, mas ele não conseguia respirar

Segundo Marilia Milano Michelan, pediatra neonatologista do IAMSPE, que acompanhou o parto, devido ao meu quadro, a anestesia geral e à prematuridade, o Murilo apresentou frequência cardíaca, ou seja, o coração dele batia, mas ele não conseguia respirar. Meu filho precisou de reanimação, ventilação, oxigenoterapia e foi encaminhado para a UTI neonatal.

Logo após o nascimento dele, fui para a UTI adulta e colocada em coma induzido. Nesse período, tive pneumonia, insuficiência renal e fiz hemodiálise. Uma médica chegou a dizer para o meu marido que se ele tivesse um Deus em que acreditasse, era para rezar para eu voltar do coma. E eu voltei, 11 dias depois.

Acordei confusa, não sabia o que estava acontecendo e não me lembrava se eu havia tido meu bebê. Perguntei à médica, ela disse que sim e que o Murilo estava bem.

Pelo protocolo médico, o Murilo só faria o exame para saber se tinha contraído a covid-19 se ele apresentasse algum sintoma. Durante os 14 dias de isolamento na incubadora, o quadro respiratório dele evoluiu e ele não teve nenhuma intercorrência.

Sem contato comigo que estava na UTI, e nem com o meu marido, que estava fazendo a quarentena em casa, ele tinha sempre uma técnica de enfermagem que cuidava exclusivamente dele. Pelo que me contaram, toda a equipe cuidou dele com muito amor e carinho.

Quando acordei do coma, fiquei muito ansiosa para vê-lo. As enfermeiras gravavam vídeos, tiravam fotos e me mostravam. Na primeira gravação, uma das meninas disse para o Murilo sorrir para a mamãe e ele fez uma expressão como se fosse de um sorriso. Foi emocionante.

Meu filho e meu marido não foram contaminados

Passados os 14 dias sem sintomas, foi constatado que nem meu filho nem meu marido contraíram o vírus. Foi um alívio saber disso e, finalmente, o Fernando pôde buscar o Murilo no hospital. Eles foram para a casa da minha cunhada enquanto eu continuava internada.

O Fernando fazia videoconferência todos os dias para eu ver o Murilo. Chorava toda vez, queria pegar meu filho no colo. Foi um momento bastante difícil, sentia muita falta da minha família, queria estar com eles.

Aos poucos, meu quadro foi melhorando, e no dia 8 de maio tive alta. Conheci meu filho pessoalmente 23 dias depois do parto. Nosso encontro foi maravilhoso. Passar o meu primeiro Dia das Mães com ele foi muito especial. Tive momentos de sofrimento, mas estou curada do coronavírus e Deus está me dando uma segunda chance de viver para realizar o meu sonho de ser mãe".