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Internada com gravidez de risco e parto prematuro, pedagoga sofre com medo

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Renata Turbiani

Colaboração para VivaBem, em São Paulo

21/04/2020 04h00

No dia 28 de março, a pedagoga Renata Pâmela Andrade Cardoso de Oliveira, 38, então grávida de 30 semanas do terceiro filho, precisou ser internada porque seu bebê apresentava uma séria restrição de crescimento e necessitava de acompanhamento diário.

Após 15 dias no Hospital e Maternidade Sepaco, na Vila Mariana, em São Paulo, o pequeno Miguel, com apenas 1,2 kg e 41 cm, nasceu, prematuramente, e agora é ele quem terá de passar algumas semanas na UTI neonatal.

Em um período normal, toda essa situação já seria motivo de preocupação e angústia. Imagine, então, em tempos de coronavírus —ainda mais que, com o avanço da pandemia, o Ministério da Saúde incluiu gestantes e puérperas no grupo de risco para a doença. Leia o relato de Renata para VivaBem.

"Tenho dois filhos, a Lara de 10 anos, e o Davi, de 6. A minha terceira gestação não foi planejada, eu e meu marido fomos pegos totalmente de surpresa. Quando completei 26 semanas, descobrimos que o bebê estava com restrição de crescimento intrauterino (situação que ocorre quando o feto não atinge o tamanho esperado ou determinado para a idade gestacional em que se encontra) devido a uma deficiência placentária.

Por causa desse problema, passei a fazer acompanhamento quinzenal com o médico e ultrassonografia semanalmente. Tinha uma marcada para o dia 27 de março, com 30 semanas de gestação, mas quando cheguei na clínica, estava fechada por causa da pandemia.

Mesmo com temor do coronavírus, procurei o pronto-socorro para não ficar sem o exame e seguir o tratamento. Lá, os médicos acharam mais seguro me internar. Meu quadro exigia uma atenção mais de perto.

Aquele momento foi um choque. Sou asmática crônica, então já estou no grupo de risco da doença, e a possibilidade de estar mais exposta ao vírus me deixou com bastante medo, que só foi aumentando com o passar dos dias e conforme o número de casos da doença subia.

Também não tinha terminado de preparar enxoval e nem o quarto do bebê, estava me programando para fazer isso em abril. E fora o fato de que eu teria de ficar longe dos meus outros filhos indefinidamente, pois sabia que eu internaria e só sairia após o nascimento. E, nessa situação, eles não poderiam me visitar.

Renata Pâmela Andrade Cardoso de Oliveira 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Já estou há muitos dias no hospital e tem sido difícil. Primeiro fiquei no quarto, e agora estou acompanhando meu bebê na UTI neonatal. Não sabemos o que de fato está acontecendo em relação ao coronavírus e, apesar de a maternidade não ficar perto do PS, a tensão é permanente.

Quando estava no quarto, muita gente entrava e saia, para fazer a limpeza, levar comida, dar medicação... mesmo os funcionários e enfermeiros tomando todos os cuidados necessários, era impossível não se preocupar.

Além disso, nos 15 dias antes do parto, eu tinha de ir todos os dias até a área onde é realizada a ultrassonografia. Era muita movimentação no ambiente hospitalar. Não tinha contato físico com as pessoas, só cruzava com várias no caminho, mas sentia medo. Na volta para o quarto, eu ia direto tomar banho e trocar de roupa.

O hospital não chegou a proibir as visitas, mas recomendou que não fossem feitas. Na minha internação, só meu marido vinha, e apenas uma ou duas vezes na semana. Toda vez que ele chegava, já corria tirar tudo o que estava usando, colocava em um saco e vestia uma roupa limpa.

Nesse tempo todo no quarto, para amenizar a tensão, evitei ficar vendo notícias sobre o coronavírus o tempo todo. Para me distrair, fazia tricô, lia, assistia filmes, ligava para os meus filhos... por falar neles, tem sido difícil lidar com a saudade, pois eu nunca havia ficado longe, ainda mais em uma situação de isolamento, com eles confinados em casa, sem poder ter outras distrações.

A isso soma o receio que meu marido, que é quem circula entre casa, hospital e mercado, possa carregar o vírus ou mesmo adoecer. Têm sido dias de lidar com situações não ideais e inevitáveis, mas procuro focar no imprescindível e tomar todos os cuidados possíveis.

Quando completei 32 semanas, fiz a cardiotocografia (exame que avalia a frequência cardíaca e o bem-estar do bebê) e o resultado não foi tranquilizador. Os médicos, então, decidiram antecipar o parto. O Miguel nasceu na madrugada de domingo, com 1,2 kg e 41 cm, e já foi direto para a UTI neonatal.

Como ele é prematuro e muito pequeno, a previsão é de que fique, pelo menos, quatro semanas internado. Ficarei aqui com ele, já que o hospital tem uma sala específica para esses casos. O problema é que é mais tempo nesse ambiente, mais tempo lidando com o medo do coronavírus, ainda mais que entrei para outro grupo de risco, o das puérperas.

A cada três ou quatro dias devo ir para casa, para ver meus filhos. Mas, agora, preciso ficar perto do Miguel o máximo que puder. Tudo o que desejo nesse momento é que ele fique bem e que possamos sair daqui logo. Quero juntar minha família e curti-la, tentar esquecer esse período que passamos afastados e isolados e voltar à vida normal."