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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Brasil avança pouco em meta de erradicação da tuberculose proposta pela OMS

Com mais de 200 novos infectados por dia, doença pode agravar sintomas respiratórios da covid-19 - iStock
Com mais de 200 novos infectados por dia, doença pode agravar sintomas respiratórios da covid-19 Imagem: iStock

Cristiane Bomfim

Da Agência Einstein

19/05/2020 14h30Atualizada em 21/05/2020 16h01

Em 2015, a OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu metas agressivas para o fim da tuberculose. A estratégia para a erradicação global da doença ganhou o nome de End TB - fim da tuberculose, em português - e prevê a redução em 95% o número de mortes e em 90% o de novos infectados. Três anos após aderir ao esforço mundial e criar um programa com medidas que vão do diagnóstico, tratamento até investimentos em pesquisas e intensificação das ações preventivas, o Brasil dá sinais da dificuldade em reduzir os números da doença.

Para efeitos de comparação, em 2017, ano em que o Ministério da Saúde elaborou e divulgou o "Plano Nacional Pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública", foram registrados 73.355 novos casos. No ano seguinte - 2018 - o número cresceu e chegou a 76.323. No ano passado, de acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, foram 73.746 mil pessoas diagnosticadas com tuberculose. Para piorar, o número de infectados hoje está bem próximo do registrado há 30 anos: em média, são 209 novos infectados por dia no país.

Acabar com a tuberculose é um desafio para o mundo e especialmente para o Brasil, responsável por um terço dos casos nas Américas. "É uma doença que atinge as pessoas socialmente marginalizadas, que não aparecem nas estatísticas. Hoje, quem morre de tuberculose são moradores de rua, a população carcerária, quem vive em aglomerações nas favelas e cortiços", afirma o infectologista Hélio Bacha, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Apesar das dificuldades, o médico ressalta a importância de manter os esforços no combate à TB, especialmente em tempos de pandemia do novo coronavírus e sua disseminação rápida no país. "Casos de tuberculose pulmonar grave com sequela respiratória podem ser fator de risco de complicações para a covid-19", explica Bacha.

Mesmo com o aumento da demanda por atendimentos relacionados ao vírus, as ações de assistência a pacientes com outras queixas, incluindo tuberculose, devem e precisam ser mantidas. "A continuidade do tratamento e prevenção à tuberculose reduz as chances de casos graves de Covid-19 para um público que já é mais suscetível como moradores de rua", diz Bacha.

Todos os anos a tuberculose mata cerca de 1,5 milhão de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis —também conhecida como bacilo de Koch. A bactéria é transmitida por aerossol. Ambientes fechados, úmidos, pouco ventilados e a proximidade com pessoas infectadas facilitam o contágio. É mais frequente nas camadas sociais mais vulneráveis e em indivíduos com piores condições de moradia e nutrição.

De acordo com o Ministério da Saúde, embora os números no final da série não apresentem estabilidade, desde 1990 o coeficiente de incidência da tuberculose tem apresentado tendência de queda de cerca de 2,2% ao ano. Já para o aumento de novos casos 2017 e 2018, a principal causa, segundo a pasta é "a intensificação das ações voltadas ao aumento do diagnóstico e confirmações laboratoriais dos casos de TB, motivados pela expansão da rede de diagnósticos e implementação de rede de teste rápido molecular da doença, que foi expandida nos anos de aumento de casos. A pasta afirma ainda que entre as dificuldades para a erradicação da TB no país estão o estigma social e a presença de comorbidades nos pacientes e que algumas ações que impactam no seu controle e redução "estão além do Ministério da Saúde, como a determinação social e ações de proteção social".

Estudo realizado por pesquisadores do Hospital Universitário Aarhus, da Universidade Aarhus, na Dinamarca, comprovou as estimativas de que uma a cada quatro pessoas no mundo está infectado pelo organismo. No trabalho, foram revisados 88 estudos científicos feitos em 36 países. "O desenvolvimento ou não da doença tem relação com o sistema imunológico de cada pessoa. Deste ¼ da população que tem a bactéria no organismo, 6% vão manifestá-la e infectar outras pessoas. Indivíduos em tratamentos que fragilizam as defesas do organismo apresentam mais chances de desenvolver a doença e crianças de zero a cinco anos têm mais riscos de chegar a quadros graves", diz Bacha.

A evolução da doença acontece quando o sistema imunológico não consegue bloquear a multiplicação da bactéria, que causa reações inflamatórias intensas em vários tecidos. A forma mais comum é a infecção pulmonar, mas a tuberculose pode atingir o sistema nervoso central e órgãos como os ossos, os rins, o intestino.

O sintoma mais importante para o diagnóstico da doença é a tosse com catarro por mais de três semanas. Este quadro clínico pode estar acompanhado de febre, cansaço, sudorese, dor no peito, falta de apetite e o consequente emagrecimento. É importante é procurar o serviço médico ainda na fase limitada à tosse constante. O aparecimento dos outros sintomas já configura o diagnóstico tardio. Os exames para identificação da doença e o tratamento são oferecidos gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

O tratamento é longo. Dura em média seis meses e é feito com quatro antibióticos que são ministrados diariamente em regime de Tratamento Diretamente Observado (TDO). Além de construir o vínculo entre o profissional de saúde e o paciente, o esquema leva em consideração a observação da ingestão dos medicamentos e a evolução do quadro clínico. "Este tipo de acompanhamento reduz as chances de o paciente abandonar o tratamento. A tuberculose não diz respeito apenas ao paciente, mas também às pessoas a sua volta", explica o infectologista Bacha. Estimativas do Ministério da Saúde mostram que uma pessoa com tuberculose ativa (ou seja, já com sintomas) é capaz de contagiar de 10 a 15 pessoas em um ano.