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Coronavírus: como segurar a ansiedade diante de tanta informação?

O fluxo de informações e a incerteza a respeito do novo coronavírus podem despertar sentimentos de ansiedade e angústia - Istock
O fluxo de informações e a incerteza a respeito do novo coronavírus podem despertar sentimentos de ansiedade e angústia Imagem: Istock

Danielle Sanches

Do VivaBem, em São Paulo

16/03/2020 12h18Atualizada em 16/03/2020 19h08

Resumo da notícia

  • As informações que não param de chegar sobre o novo coronavírus e a incerteza sobre o futuro causam ansiedade e angústia em muitas pessoas
  • Mas é possível lidar com esses sentimentos para que eles não se tornem um problema capaz de gerar efeitos que durarão bem mais do que a pandemia
  • Procurar fazer algo dentro da sua comunidade, treinar a resiliência e buscar informações apenas de locais confiáveis ajudam a conter as expectativas
  • Se a angústia for muito grande, vale procurar o médico de confiança ou um psicólogo; amigos e família também podem oferecer suporte nesse momento

Desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou oficialmente uma pandemia de coronavírus, o fluxo de informações a respeito da doença mais que dobrou. Números de contaminados, taxas de sobrevivência e mortalidade, sintomas, métodos duvidosos de cura e prevenção... Cada novidade tornou-se motivo para sobressalto e um crescente sentimento de angústia e vulnerabilidade.

Diante desse cenário tão incerto, o que fazer para manter a sanidade mental e não surtar?

Pare, respire, encontre o que fazer

Para começar, vamos assumir que essa é uma situação completamente atípica e que foge ao nosso controle. Por isso mesmo, é normal sentirmos medo: ainda não sabemos exatamente como o vírus se comporta nem como vai ser o cenário no Brasil. "O desconhecido assusta, pois cria outras perguntas: como eu vou lidar com isso? Como vai ser comigo?", afirma Dorli Kamkhagi, psicóloga e psicanalista do Laboratório de Neurociências do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Diante dessa expectativa, o melhor então é voltar-se para dentro e pensar: o que posso fazer? Como posso contribuir como pai, como filho, como cidadão? Tornar-se útil nesses momentos é uma boa medida para reduzir a sensação de impotência e ainda encontrar um sentido no meio de todo o caos. Um exemplo é se oferecer para fazer compras para os idosos, que nesse momento precisam ficar em casa para se proteger —inspire-se com a história de uma mulher que deixou bilhete no elevador para ajudar vizinhos mais velhos.

Tente manter a normalidade

Com o isolamento imposto para conter o avanço do vírus, sabemos que a vida está prestes a mudar bastante (se não é que já mudou). Mas é preciso tentar manter uma certa normalidade dentro dessa rotina anormal. "Vamos continuar fazendo as refeições, lendo o jornal que gostamos, conversando com pessoas queridas, nos exercitando e trabalhando de casa, quando for possível", afirma a psicóloga.

O importante é admitir que serão tempos difíceis e que a rotina vai ter de ser alterada de alguma forma. Isso não significa, no entanto, entrar em pânico. "É uma ótima oportunidade para refletir sobre prioridades nas nossas vidas e ainda pensar em novas formas de executar nosso trabalho, por exemplo", afirma.

Treine a resiliência

Capacidade de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas: a definição de resiliência cai muito bem para esse momento que estamos vivendo. Isso quer dizer olhar o problema de frente, mas sem entrar em pânico (o que prejudica nosso juízo) e, ao contrário, pensar em formas de lidar com ele até que a situação melhore.

"Isso significa ficar triste porque cancelei uma viagem, mas lembrar que essa situação vai mudar e que eu não vou morrer de depressão por isso", explica a psicóloga.

Não se isole emocionalmente

O ser humano é uma "criatura" social. Ficar isolado pode ser bastante complicado e agravar a ansiedade e o estresse do momento. Por isso, tente manter contato com as pessoas queridas, como amigos e familiares. "O isolamento é mais um estressor. Então, sempre que possível, tente manter os vínculos ativos", afirma o psiquiatra Rodrigo Leite, coordenador dos Ambulatórios do IPq (Instituto de Psiquiatria) da USP (Universidade de São Paulo). As redes sociais podem ajudar nessa tarefa, fazendo com que as pessoas consigam interagir sem estar fisicamente presentes.

Filtre as informações

Já era esperado que, em uma sociedade tão conectada como a nossa, o fluxo de informações seria imenso diante de uma pandemia. Para não entrar em parafuso com o volume de dados que chega a todo momento, o melhor é filtrar tudo o que chega até você.

Isso significa escolher alguns veículos de confiança para se informar e evitar compartilhar mensagens das quais você não sabe a procedência ou a fonte. "Do contrário, a nossa estabilidade emocional vai se abalar e vamos ficar com o juízo de valor comprometido", alerta Kamkhagi.

Isso vale também para aquele momento de angústia em que decidimos expor esse sentimento nas redes sociais. "Talvez seja melhor conversar com pessoas próximas, já que isso só vai aumentar o desespero do próximo", opina a especialista.

Ou seja, se bater o desespero diante de tanta informação nova, é melhor buscar suporte emocional da rede de apoio social, ou seja, na família e nos amigos. "São essas conexões que vão reduzir o sofrimento psicológico desse momento tão duro", acredita Rodrigo Leite.

Se estiver sofrendo, busque ajuda

Pessoas que já sofrem de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno bipolar, tendem a experimentar um agravamento de sintomas nos próximos dias e podem experimentar sintomas como falta de ar se estiverem vivenciando um ataque de pânico.

Se isso acontecer, é importante não sofrer sozinho e buscar ajuda com um médico de confiança e/ou seu psicólogo, para que seja avaliada a necessidade de medicamentos ou outras medidas terapêuticas.