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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Como identificar e não ser enganado por um leigo que age como especialista

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Imagem: iStock

Diego Garcia

Colaboração para o VivaBem

27/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • O efeito Dunning-Kruger é quando alguém superestima seus conhecimentos quando não conhece algo ou subestima quando conhece
  • Para não ser enganado é essencial checar as informações e buscar mais referências ao invés de aceitar de pronto qualquer informação
  • Todos estão sujeitos a isso, então, questionar seus conhecimentos e buscar aprender sempre, são dicas simples para não cometer erros

Alguma vez você já se sentiu frustrado por se preparar bastante para uma apresentação no trabalho ou na faculdade e na hora viu alguém que se apresentou sem preparo ou com total desconhecimento sobre o assunto tomar a atenção do público, por falar com convicção e ênfase no discurso? Já presenciou discussões infladas, mas, vazias de conteúdo porque quem falava não tinha conhecimento algum do que dizia? Esse fenômeno é conhecido como efeito Dunning-Kruger e tem sido cada vez mais comum em nossas vidas todos os dias.

Com a ascensão da internet e a facilidade em se comunicar com qualquer pessoa, o efeito Dunning-Kruger foi amplificado e nunca tivemos tantos especialistas em tudo no mundo virtual. Hoje além dessas pessoas estarem no trabalho e em ambientes de estudo, religiosos, esportivos e familiares, estão também em nossas redes sociais. Saiba mais sobre ele e aprenda a não cair nessa:

Capacidade cognitiva e superioridade ilusória

Foram os psicólogos norte-americans da Universidade de Cornell, em Nova Iorque, David Dunning e Justin Kruger que começaram os estudos sobre capacidade cognitiva, com base em um caso policial, ocorrido em 1995, em que um indivíduo assaltou dois bancos consecutivamente, sem utilizar máscara, pois acreditava que se utilizasse suco de limão no rosto ele não apareceria nas câmeras de segurança. De tão absurda a história, o criminoso foi submetido a exames toxicológicos e psicológicos, mas nada foi detectado.

Em 1999, Dunning e Kruger publicaram o estudo "Não qualificado e inconsciente: como as dificuldades em reconhecer a própria incompetência levam a auto-avaliações infladas", seguidos por outros três estudos e que concluíram que: pessoas que não têm conhecimento ou que possuem um conhecimento raso de algum assunto acabam superestimando o próprio conhecimento, ou seja, a incompetência que as pessoas têm em conhecer as próprias debilidades sobre determinada área do conhecimento as fazem apresentar uma superioridade ilusória.

Porém, é interessante destacar que o efeito Dunning-Kruger não afeta somente pessoas que têm conhecimento raso sobre um determinado assunto, ele afeta pessoas que conhecem bem um assunto de forma contrária, fazendo-as achar que sabem menos do que realmente sabem.

Pesquisadores têm utilizado o efeito Dunning-Kruger para compreender a propagação de algumas notícias falsas. Por exemplo, um estudo recente da Harvard Kennedy School sobre campanhas contra vacinação evidenciou que as pessoas com os mais baixos níveis de conhecimento sobre causas de autismo e que estavam mais mal informadas sobre a existência de uma relação entre autismo e vacinas, tinham mais confiança de que entendiam mais sobre o assunto do que médicos e cientistas da área.

Em outro estudo, os pesquisadores encontraram indícios do efeito Dunning-Kruger entre estudantes de aviação. Aqueles com menores notas em uma prova sobre conhecimentos gerais de aviação superestimaram suas habilidades, ao passo que os alunos com melhor desempenho na prova subestimaram suas habilidades.

Como não se deixar enganar

Como não nos deixar enganar por quem não sabe o que diz e se acha um expert no assunto? Busque saber quem é a pessoa que está falando, qual o grau de comprovação de conhecimento sobre o assunto que ela tem, por exemplo, se tem formação na área, estudos complementares, trabalhos, artigos, enfim, dados que provem que a pessoa tem gabarito para dizer o que diz.

Cheque as informações que a pessoa fornece, compare com outras fontes, analise dados e estatísticas, questione e apure sempre o máximo que puder antes de dar a sua credibilidade a alguém que pode não saber absolutamente nada do que está falando e, pior do que isso, passar uma informação oposta do que verdadeiramente é.

Não se engane, você pode sofrer do efeito e não saber

Todas as pessoas estão sujeitas a vivenciar esse erro de percepção. Afinal, é impossível conhecer tudo ou ser competente em tudo. E é possível que em algumas das áreas em que o conhecimento e a habilidade sejam muito ruins, a pessoa também não saiba reconhecer sua ignorância.

Esteja atento a critérios mais objetivos sobre o seu desempenho, evitando apenas a sua própria impressão. Por exemplo, se você se acha o melhor funcionário do setor, mas nunca é promovido ou se considera um motorista excelente, mas bate o carro com frequência, talvez você esteja superestimando seu desempenho. Se for muito relevante que o seu desempenho melhore em uma determinada área, procure um especialista que avalie objetivamente sua atuação e seja capaz de informá-lo os aspectos que precisam ser ajustados.

Ter humildade para aceitar que não sabe de todas as coisas é essencial para não se iludir e ter a consciência do que você sabe ou não sabe. A humildade permite estar aberto para aprender mais, assim como para perguntar quando se tem dúvidas, expandindo cada vez mais a capacidade de aprender e ampliar os conhecimentos.

Fontes: Elson Asevedo, psiquiatra do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo), Fernando Fernandes, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq- HC-FMUSP) e Teng Chei Tung, psiquiatra, coordenador de interconsultas do IPq- HC-FMUSP.