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Mistura remédio com álcool? Veja o que combinação pode causar no organismo

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Imagem: iStock

Bruna Alves

Colaboração para o VivaBem

21/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • A combinação entre álcool e remédios pode causar diversos efeitos colaterais, e em casos extremos levar a morte
  • O álcool é uma substância tóxica para diversos tecidos, que sofrem uma ação direta ou indireta quando há interação com medicamentos
  • Se consumido em excesso, o álcool afeta a atividade cerebral, dificultando até mesmo o sono

#Sextou e é Carnaval. A folia, geralmente, está associada ao consumo excessivo de álcool, mas se você está tomando algum remédio, é bom ficar atento. E não precisam ser só medicamentos de uso contínuo, como os utilizados para tratar hipertensão, diabetes, problemas cardíacos, depressão ou mesmo infecções.

Até um simples analgésico para combater aquela dor de cabeça chata combinado com bebida alcoólica em excesso pode inibir ou aumentar o efeito e colocar sua saúde em risco.

Por ser solúvel, o álcool acessa rapidamente a corrente sanguínea e passa por vários órgãos do corpo, afetando, principalmente, o fígado. Os medicamentos, que são divididos por classes, como antibióticos, anti-inflamatórios e antidepressivos, por exemplo, quando chegam ao organismo são transformados em outras moléculas, que atuam no combate ao diagnóstico.

Contudo, grande parte dos medicamentos sofre ação de enzimas no fígado, onde o álcool tem ação direta e é metabolizado. Dessa forma, outras substâncias que dependem do fígado para funcionar, como alguns remédios, também sofrem alteração em seu metabolismo.

Isso pode resultar em reações adversas e aumentar a chance de hepatite aguda, por sobrecarregar o órgão. Em outras palavras, o álcool altera a quantidade ou a atividade de algumas enzimas utilizadas na biotransformação de vários medicamentos.

De acordo com Patrícia Moriel, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), 17% dos remédios podem causar danos ao serem consumidos com álcool em excesso. Desse total, 15% podem causar interações graves e levar até mesmo a morte. Ela ressalta também que, na dúvida, a melhor opção é não beber aquela cervejinha ou vinho enquanto estiver fazendo uso de medicamentos.

O metabolismo do álcool

Após ingerido, o álcool é transportado pelo sangue para todos os tecidos que contém água, sendo que suas maiores concentrações se encontram no cérebro, no fígado, no coração, nos rins e nos músculos. Cerca de 90% a 95% do álcool que ingerimos é metabolizado no fígado por enzimas (moléculas) especiais.

Essas enzimas dividem o álcool em várias substâncias, como acetaldeído e ácido acético. Depois, ele é eliminado pela urina e 5% por meio da respiração, transpiração e salivação.

Quais as consequências da interação entre álcool e psicotrópicos?

Tanto o álcool como os remédios psiquiátricos, chamados de drogas psicotrópicas, atuam no sistema nervoso central cerebral. Logo, se uma pessoa está fazendo um tratamento psiquiátrico e continua ingerindo bebida alcoólica, o efeito do remédio poderá ser afetado.

"Na psiquiatria, piora o tratamento da depressão, da ansiedade e de outros transtornos mentais. O álcool, inclusive, desorganiza a atividade elétrica cerebral, dificultando uma função vital básica, que é o sono", explica Victor Bigelli de Carvalho, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e colaborador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Segundo o psiquiatra, na maioria dos casos o álcool potencializa o efeito dos psicotrópicos e, por consequência, aumenta a chance de efeitos colaterais, como tontura, náusea, palpitação e insônia, até casos mais graves, como parada respiratória, coma e morte.

Ele também pode inibir ou alterar o efeito, mas não cortar a ação completamente. No entanto, as reações dependem da quantidade de álcool ingerida e do tipo de concentração da medicação utilizada.

No caso da depressão, por exemplo, o álcool vai potencializar a doença, mas não a ação do medicamento em si. Por isso, segundo os especialistas, não se deve parar de tomar psicotrópico por causa da ingestão da bebida alcoólica.

Porém já existem novos antidepressivos com uma baixa interação com o álcool. Sendo assim, já é possível realizar um tratamento sem comprometer sua segurança. "Agora, é bom sempre lembrar que o álcool joga contra o tratamento de qualquer transtorno mental agudo ou crônico por ação direta no cérebro. De maneira geral, se estiver tomando psicotrópicos, não se deve ingerir bebida alcoólica", explica Carvalho.

Todavia, cada caso deverá ser avaliado por um médico individualmente, pois cada organismo reage de uma forma diferente. Outro fator importante a ser destacado são os pacientes que tomam medicação psicotrópica sem prescrição médica.

Uma pesquisa realizada em abril do ano passado pelo CFF (Conselho Federal de Farmácia), por meio do Instituto Datafolha, apontou que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros.

O estudo detectou também que, embora muitas pessoas sejam atendidas por especialistas e tenham receita médica, elas simplesmente decidem alterar a dose prescrita por conta própria. Esse comportamento foi relatado pela maioria dos entrevistados, 57%. Além disso, familiares, amigos e vizinhos também foram citados como influenciadores na escolha da maioria dos medicamentos.

Em relação aos psicotrópicos que são misturados com álcool, tal comportamento é nocivo para a saúde, pois com a dose alterada, os efeitos colaterais também serão maiores. Outra coisa comum é "conseguir" uma receita médica com outras pessoas, ou até mesmo em mercados clandestinos.

Nesse caso, o risco é ainda pior, já que o paciente não foi avaliado por um profissional especializado e não conhece os efeitos que essa mistura pode causar. A recomendação é sempre procurar um médico para avaliação.

E outros tipos de remédios?

Há uma interferência no organismo porque o álcool é uma substância tóxica e, em geral, misturar remédios com bebidas não faz bem e pode haver interações. Essa combinação pode aumentar os efeitos colaterais da medicação, diminuir o efeito ou ainda alterar a distribuição no corpo. Porém, o resultado vai depender da concentração, do tipo de medicamento e da quantidade de bebida ingerida.

Os órgãos que mais podem ser prejudicados com essa combinação são o fígado, o cérebro, o estômago e o pâncreas. Além disso, diversas infecções também podem piorar. Em geral, o álcool consumido fora da quantidade considerada saudável —aquela que o fígado consegue metabolizar normalmente, que são duas doses por dia para homem e uma para mulher (o equivalente a três dedos)— já pode acarretar em uma série de problemas para o organismo.

Assim como alguns alimentos e demais substâncias, a interação do álcool com bebida alcoólica pode, ainda, aumentar ou diminuir a absorção e a excreção do medicamento.

Fontes: Victor Bigelli de Carvalho, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e colaborador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas; Patrícia Moriel, farmacêutica e professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Alfredo Salim Helito, clínico geral e médico da família do Hospital Sírio Libanês (SP); Elie Cheniaux, psiquiatra e professor da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e Bruno Zilberstein, gastroenterologista do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, o acetaldeído e o ácido acético não são enzimas. As substâncias são, na verdade, resultados da metabolização do álcool no organismo.