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Suco de cranberry ajuda a reduzir o risco de infecção urinária?

Sibele Oliveira

Colaboração para o VivaBem

23/10/2019 05h00

Só quem tem ou já teve infecção no trato urinário (ITU) sabe como é ruim. Dói e arde para fazer xixi, a urina pode ficar escura e com um cheiro forte, causa micção urgente, há um desconforto na região inferior do abdome e, alguns casos, há até sangramento.

Uma das medidas populares para reduzir o risco de ter o problema é tomar suco de cranberry (ou oxicoco). Mas será que funciona mesmo? Uma pesquisa realizada por cientistas americanos apontou que sim.

No estudo, publicado no The Journal of Nutrition, o consumo da fruta reduziu o risco de infecção urinária em 26%. O trabalho foi feito com mulheres que apresentavam um risco 50% maior de desenvolver o mal ao longo da vida, além de serem as que sofriam mais com infecções frequentes. Embora outras pesquisas estejam sendo realizadas para confirmar esses benefícios, o suco de cranberry já é indicado por muitos especialistas.

Como o cranberry ajuda a prevenir infecção urinária

Antes de tudo é importante saber que o alimento somente ajuda a inibir cistite. Essa é a forma menos grave da infecção urinária, que geralmente surge quando a bactéria Escherichia Coli, naturalmente presente no intestino e importante para a digestão, atinge a bexiga. Já a uretrite, infecção na uretra, e a pielonefrite, tipo mais perigoso da enfermidade que acomete os rins, não podem ser prevenidas com o suco.

Não é difícil entender como o cranberry ajuda a evitar a cistite, também chamada de infecção urinária baixa. A bactéria E. Coli tem fímbrias, que possuem uma espécie de cabelo longo que gruda na parede da bexiga. As fímbrias do micro-organismo e as células do órgão são ligadas por gordura, e a fruta tem um polifenol lipolítico (proantocianidina) que quebra essa ligação, agindo como se fosse um sabão. Em outras palavras, o suco impede que as fímbrias colem na mucosa do trato urinário e a bactéria acaba "escorregando" e sendo eliminada pela urina.

Suco não trata a doença nem dispensa outros cuidados

É importante saber que o cranberry não tem o poder de curar a prevenção urinária. O suco da fruta geralmente é recomendado a mulheres que têm cistite com frequência, ou seja, mais de duas vezes por ano, com o objetivo de prevenir futuras infecções. Mesmo assim, ele não substitui outros cuidados essenciais para evitar a doença, como não usar calcinhas apertadas, manter a umidade da região genital (com a ajuda de cremes, se necessário), evitar o uso de papel higiênico áspero, de preservativos de borracha (se a pessoa for alérgica), tomar probiótico para melhorar a flora intestinal, urinar depois da relação sexual, caprichar na higiene íntima e não segurar o xixi. E o mais importante: beber bastante líquido.

Quando a infecção está instalada e é causada por bactérias, não dá para escapar dos antibióticos. Devemos ter consciência de que essa é uma enfermidade que não se cura sozinha. Sem o tratamento, há o perigo de desenvolver até uma septicemia, que acontece quando os micro-organismos patogênicos invadem a corrente sanguínea.

Como obter os benefícios do cranberry

Para se proteger de cistites, é preciso beber um copo de 240 ml a 300 ml do suco uma ou duas vezes por dia, de modo que sejam absorvidas em média 36 mg de proantocianidina. O concentrado de cranberry geralmente é dissolvido em água na hora de fazer o suco e essa diluição deve ser de pelo menos ¼ ou 25% para manter o efeito protetor. O ideal é não adicionar açúcar na bebida —e se for consumir o suco de caixinha, lembre-se de checar se ele contém açúcar e qual é a proporção de suco de cranberry no produto.

O consumo de frutas in natura é incentivado por especialistas, até porque elas são consideradas as melhores fontes de antioxidantes. Mas no caso do cranberry, a recomendação é consumi-lo na forma concentrada, que contém 20 vezes mais composto bioativo que o suco e 300 vezes mais do que uma unidade da fruta. Isso para alcançar a quantidade de proantocianidina que oferece efeito protetor contra cistites. No Brasil, as formas menos processadas e mais benéficas da fruta são a congelada e a desidratada. A única ressalva é para pessoas que usam medicamentos anticoagulantes orais (varfarina), que não devem fazer uso dessa receita.

Fontes: Oscar Fernando Pavão dos Santos, nefrologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein; Roni de Carvalho, urologista do Hospital São Luiz; e Sérgio dos Anjos Garnes, nutrólogo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

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