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Victor Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Você não precisa cortar o glúten se não tiver sensibilidade ao nutriente

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

28/06/2021 04h00

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Já faz um tempo que, por conta das dietas da moda, o glúten (proteína encontrada no trigo, na cevada etc.) ganhou um papel de vilão na alimentação da população brasileira.

Uma das alegações é que o trigo possui propriedades inflamatórias para o intestino e, portanto, não poderia ter um lugar em um estilo de vida saudável. Desde meados de 2010, o tema inflamação intestinal vem ganhando grande proporção e muitas vezes é utilizado para justificar tudo, principalmente quando se fala sobre emagrecimento, e por isso surgiram muitas dietas com a exclusão de glúten como estratégia para emagrecer.

Acontece que, mesmo com essas estratégias de retirar o glúten, além de outras existentes, à população brasileira continua aumentando os índices de sobrepeso e obesidade. Então, talvez retirar glúten não seja tão milagroso assim para emagrecer.

Claro que esse tema não pode ser resumido de forma tão simplória e que, de fato, existe uma boa parte da população que é sensível à presença do glúten no organismo, o que pode vir a aumentar processos inflamatórios no intestino. Dessa forma, dependendo de como estiver o estilo de vida de quem tem sensibilidade ao glúten, seu consumo tende a dificultar o emagrecimento. Lembrando que isso não é uma verdade absoluta para toda a população.

Um estudo feito em Harvard (EUA) com mais de cem mil pessoas não encontrou nenhuma associação com consumo de glúten e doenças inflamatórias. Em longo prazo, também não foi encontrada nenhuma comprovação do aumento de doenças cardíacas por causa da ingestão de glúten —este era o foco do estudo. Na verdade, foi demonstrado que a retirada de glúten por pessoas que não tinham sensibilidade ou doença celíaca tendia a diminuir o consumo de alimentos ricos em fibras, o que favorecia o desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes e problemas no sistema gastrointestinal. Além de diminuir a presença de prébioticos, que são alimentos para as bactérias boas do intestino.

Quando se fala de consumo de fibras é importante deixar claro que elas não existem só em alimentos com a presença de glúten e a substância está presente na aveia, na quinoa, no amaranto dentre outros alimentos, que também vão ser benéficos para as bactérias boas ao intestino.

Em relação as pessoas que são sensíveis ao glúten e que mesmo tendo uma sensibilidade leve continuam consumindo alimentos com presença de glúten, para o organismo é como se o sistema imunológico estivesse sempre batalhando para evitar o impacto da sua presença no intestino, o que pode causar problemas. Em geral, as consequências são inchaço, cansaço, constipação ou diarreia.

Conforme essas consequências se tornam mais graves, pode-se dizer que esses indivíduos têm doença celíaca, portanto, nesses casos o glúten deve ser eliminado da alimentação. Além dos celíacos e daqueles que têm sensibilidade ao glúten, pessoas com alergia ao trigo ou dermatite herpetiforme devem evitar o consumo da proteína encontrada no trigo.

Já quem não tem problemas com doenças intestinais pode consumir o glúten sem problema nenhum. Repare que isso não é um discurso apenas para favorecer a indústria alimentícia. Há estudos que demonstram que o mercado de comida "sem glúten" fatura mais de US$ 10 bilhões por ano desde 2012. Sendo observado também que as pessoas que consumiam mais esses alimentos não tinham nenhum problema intestinal nem doença celíaca. O que demonstra que mesmo que existam alguns estudos tendenciosos por aí, para a indústria, tanto alimentos com ou sem a presença de glúten serão altamente lucrativos.

Sendo assim, algo relevante de se observar na maioria dos estudos é que, se você não tem nenhum problema com o consumo de glúten, não precisa excluir ele da sua vida só porque alguma celebridade divulgou essa informação na internet. Para esse assunto, assim como outros relacionados à saúde, é importante ter senso crítico e entender os motivos das suas escolhas relacionadas à saúde e ao bem-estar.