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Blog da Sophie Deram

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ultraprocessados impactam meio ambiente e também sua saúde

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

05/05/2021 04h00

O que comemos e o modo como produzimos os alimentos provoca impactos ambientais importantes a serem considerados, principalmente diante da crise climática vivenciada em todo mundo. Vários estudos têm investigado esses impactos, porém pouca atenção parece ser dada à contribuição do processamento de alimentos nisso tudo.

Por isso, um grupo de pesquisadores publicou um artigo na revista científica The Lancet Planetary Health, apresentando uma gama de fatores pelos quais os alimentos ultraprocessados interferem no meio ambiente, na sustentabilidade ambiental e consequentemente na nossa saúde.

Impactos ambientais da produção de alimentos ultraprocessados

Os ultraprocessados são alimentos e bebidas que passam por processos industriais, geralmente envolvendo a adição de açúcares, gorduras e aditivos alimentares (estabilizantes, emulsificantes, conservantes, corantes etc.). Biscoitos recheados, balas, salgadinhos e macarrão instantâneo são alguns exemplos de ultraprocessados.

Esses alimentos são convenientes, atrativos, poupam tempo, usam ingredientes de baixo custo, têm alta durabilidade e, pela combinação de gorduras, açúcares e aditivos alimentares, tornam-se hiperpalatáveis.

Se de um lado temos conveniência e praticidade, de outro, a produção em larga escala e o alto consumo de alimentos ultraprocessados provocam impactos no meio ambiente e na nossa saúde que são destacados pelos autores do comentário:

  • Muitos alimentos ultraprocessados contêm óleos de palma e soja, cuja alta produção exige o desmatamento de vastas áreas verdes com efeitos negativos para o meio ambiente;
  • O uso de aditivos alimentares nos ultraprocessados são autorizados por órgãos reguladores, mas frequentemente seus efeitos são controversos. Existem evidências de que alguns possam levar a um consumo alimentar excessivo, contribuindo para o risco de desenvolver doenças crônicas, e danos ambientais, por impulsionar uma produção de alimentos cada vez maior.
  • Ultraprocessados necessitam de embalagens que geram resíduos para o meio ambiente. Muitas delas contêm compostos que podem ser carcinogênicos e provocar desregulações hormonais, como o bisfenol A.
  • Grandes corporações transnacionais são responsáveis pela produção de alimentos ultraprocessados. Elas são poderosas e podem definir o que deve ser cultivado, produzido, comercializado e vendido no mundo, utilizando para isso marketing agressivo para aumentar a demanda por alimentos ultraprocessados.
  • A indústria de alimentos também pode usar o discurso da sustentabilidade como motivação econômica, promovendo os alimentos ultraprocessados como opções sustentáveis e saudáveis. Por exemplo, indústrias de bebidas podem vender um refrigerante "verde" porque é produzido com adoçante natural, quando isso, na verdade, não faz dele um alimento sustentável e nem saudável.

Meio ambiente, alimentação e saúde

De acordo com os autores do artigo, considerar esses pontos na avaliação dos impactos dos ultraprocessados no meio ambiente possibilitaria políticas públicas mais eficazes em direção a uma alimentação saudável e sustentável. Isso porque, meio ambiente, alimentação e saúde estão intimamente relacionados.

Quando pensamos em saúde geralmente focamos na condição do nosso corpo e na ausência de doenças. Mas ela vai muito além disso. Como conceitua a OMS (Organização Mundial da Saúde), saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social.

Nesse sentido, o meio ambiente se insere também como um determinante que impacta a nossa saúde. Pense um pouco nas consequências de viver em um ambiente cheio de fatores estressantes, como barulho, poluição, contaminantes e sem uma boa alimentação. Já ambientes saudáveis nos fornecem água, solo e ar limpos, fontes de energia e terras férteis para a produção de comida de qualidade.

Infelizmente a forma majoritária como produzimos e consumimos os alimentos tem contribuído para mudanças climáticas globais, impactando o meio ambiente, a nossa saúde e tornando imprescindível buscar formas de produção e consumo de alimentos com baixo impacto ambiental, que gerem uma alimentação de qualidade e garantam uma vida saudável para as próximas gerações.

Dicas práticas para reduzir o consumo de ultraprocessados

Por tudo isso, está mais do que na hora de pensar no impacto do que você come no meio ambiente e reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados. Para ajudar nisso, trago 5 dicas práticas.

1. Consuma mais comida fresca e caseira

Para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, aumente o consumo de alimentos in natura e coma mais comida caseira e fresca. Lembre-se, os alimentos ultraprocessados não são proibidos, apenas não devem compor a base da nossa alimentação.

2. Cozinhe mais

Desenvolver habilidades culinárias é uma ótima forma de consumir mais comida fresca e, consequentemente, reduzir os ultraprocessados na alimentação, tendo mais consciência do que se coloca no prato. Além disso, é uma atividade que pode ser prazerosa e relaxante, pois é comprovado que você pode até mesmo sentir um bem-estar semelhante à meditação enquanto cozinha.

Mas não podemos esquecer: preparar uma refeição demanda tempo e por isso é tão importante que as tarefas envolvidas nessa atividade sejam realizadas de forma prática e compartilhada com todos, no dia a dia. Uma ótima sugestão é cozinhar, em um único dia, refeições para a semana toda e congelar as porções para ter comida caseira sempre disponível, sem gastar muito tempo.

3. Planeje suas refeições

Uma das vantagens dos alimentos ultraprocessados está justamente na possibilidade de poupar tempo. Muitas vezes optamos por aquela lasanha congelada porque o dia foi muito corrido. Para evitar que isso aconteça, planejar bem a alimentação é uma saída. Defina um cardápio para a semana, faça a lista de compras e vá ao mercado, sendo fiel ao seu planejamento e comprando realmente o que for necessário.

4. Frequente feiras livres

Além de buscar nos mercados mais alimentos in natura, sugiro que você frequente feiras livres, que apresentam uma grande variedade de alimentos. Opte por aqueles da estação, geralmente mais baratos e nutritivos, pois não necessitam de tantos processos na sua produção para se desenvolverem de forma adequada.

Nas feiras você também pode comprar alimentos orgânicos a preços melhores. Faça uma busca nesse mapa de feiras orgânicas, é possível que encontre alguma perto da sua casa.

E não esqueça de levar sua sacola retornável. Isso vale para quando for à feira ou mesmo ao mercado, pois evita o uso de sacolas plásticas.

5. Tenha uma horta

Mesmo que você more em um espaço pequeno é possível ter uma horta em casa. Plantar alguns alimentos como alface, tomate, cebolinha, manjericão e outros temperos pode ajudar a ter mais comida fresca, economizar e é uma experiência maravilhosa, que pode mudar nossa relação com a comida e contribuir para a saúde e o bem-estar.

Bon appétit!

Sophie Deram