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Blog da Sophie Deram

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Estudo mostra que atividade física é melhor para a saúde que perder peso

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

23/06/2022 04h00

Nas últimas décadas, o número de pessoas com obesidade tem aumentado bastante. Com isso, também aumentaram os métodos, as dietas para emagrecer e as tentativas para perder peso.

Porém, de acordo com um artigo de revisão publicado na revista iScience, empregar um tratamento para obesidade que não seja focado na perda de peso, mas sim na prática de atividade física e condicionamento físico, é mais eficaz para a saúde.

Obesidade, perda de peso e atividade física

Como disse, os autores consideram que tanto a obesidade quanto as tentativas de perder peso crescem no mundo inteiro, no entanto, esses esforços parecem estar contribuindo mais para o ganho de peso e o efeito sanfona, também associado a riscos significativos à saúde e frustração.

Como parte dos programas de perda de peso, temos a prática de atividade física, utilizada nesses casos, de forma convencional para criar um déficit calórico, enquanto importantes benefícios da atividade física para a saúde, que não dependem da perda de peso, são deixados de lado.

Levando isso em consideração, os pesquisadores Glenn A. Gaesser, autor de Big Fat Lies: The Truth about Your Weight and Your Health, e Siddhartha S. Angadi, da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, buscaram entender se a perda de peso deve ser o foco principal do tratamento da obesidade.

Eles comparam a eficácia da atividade física ou da aptidão cardiorrespiratória (ou aptidão cardiovascular, que se refere à capacidade dos sistemas circulatório e respiratório de fornecer oxigênio aos músculos para produzir energia durante atividade física) com a da perda de peso intencional para reduzir o risco de mortalidade e de doenças cardiovasculares.

Para isso, realizaram um artigo de revisão e concluíram que a prática de atividade física como parte de uma estratégia que busca a neutralidade do peso é mais eficaz do que focar na perda de peso.

5 motivos para focar em um tratamento para obesidade guiado pela neutralidade do peso

Os autores do estudo chegaram às suas conclusões e propuseram um tratamento para obesidade guiado pela neutralidade do peso com base nos seguintes motivos:

1- O risco de mortalidade associado à obesidade é atenuado ou eliminado pela prática de atividade física ou por um bom condicionamento físico

De forma geral, fala-se que um Índice de Massa Corporal (IMC) alto (maior que 25 kg/m²) aumenta o risco de mortalidade.

No entanto, além de sabermos das falhas desse índice (como por exemplo, não levar em conta as diferenças na composição corporal e não fornecer informações sobre a distribuição da gordura corporal), esta relação entre IMC e mortalidade não está tão clara, como mostram alguns estudos utilizados na revisão.

Enquanto alguns deles indicam maior risco de mortalidade para adultos em toda a faixa de IMC maior que 25 kg/m², outros mostram risco reduzido entre aqueles considerados com sobrepeso, ou IMC com valores de 25 kg/m² a 30 kg/m². Além disso, entre os idosos, o IMC associado à menor mortalidade normalmente é observado na categoria de sobrepeso.

Já nos estudos que incluíram a aptidão cardiorrespiratória, um baixo condicionamento físico foi associado a um maior risco de mortalidade, independentemente do IMC. Do mesmo modo, estudos epidemiológicos mostraram que a prática de atividade física reduz significativamente o risco de mortalidade ou de doenças cardiovasculares associados ao IMC elevado.

2- Atividade física e condicionamento físico melhoram a saúde cardiometabólica, independentemente da perda de peso

Os autores mostraram que a atividade física e o condicionamento físico podem contribuir para melhorias dos marcadores cardiometabólicos, incluindo doenças cardiovasculares, hipertensão e diabetes tipo 2 de forma semelhante à perda de peso, mas também independentemente dela.

Além disso, eles observaram que embora o déficit calórico seja mais eficaz que a atividade física para reduzir as reservas de gordura do corpo, essa restrição por longos períodos não é sustentável.

3- Perda de peso, mesmo que intencional, não está significativamente associada a menor risco de mortalidade

Enquanto alguns estudos mostram que a perda de peso intencional, por meio de restrição calórica, pode reduzir o risco de mortalidade, outros desconsideram essa associação.

Ou seja, a perda de peso intencional não parece estar associada a um menor risco de mortalidade.

Além disso, a busca pela perda de peso envolve, convencionalmente, diminuir a ingestão de calorias e aumentar os níveis de atividade física, de modo que mesmo nos estudos que relatam redução do risco de mortalidade associado à perda de peso, não está claro se realmente o peso é o principal fator responsável por esses resultados.

4- Aumentos no condicionamento físico ou na atividade física estão associados a maiores reduções no risco de mortalidade do que a perda de peso intencional

Por outro lado, há evidências mais consistentes sugerindo que o bom condicionamento físico pode reduzir os riscos de mortalidade.

5- O efeito sanfona está associado a vários problemas de saúde

A ciclagem de peso, ou efeito sanfona, é quando a pessoa perde peso e depois recupera de forma repetitiva, em um ciclo vicioso. Os efeitos disso têm sido discutidos há anos.

Enquanto alguns estudos sugerem não existir nenhum risco para a saúde, outros mostram que o efeito sanfona gera problemas de saúde muito semelhantes aos associados à obesidade, maior risco de mortalidade, de desenvolver doenças cardiovasculares e efeitos adversos em adultos com diabetes tipo 2 e doença arterial coronariana.

Estudo contribui para entender o conceito de "gordo, mas com saúde"

Por fim, os autores esclarecem que não buscam desencorajar a perda de peso, mas recomendam um tratamento para a obesidade que seja guiado pela neutralidade do peso e se concentre principalmente na prática de atividade física e na melhoria do condicionamento físico para melhores resultados de saúde.

Eles também reconhecem limitações dos estudos revisados, mas apesar das falhas acreditam que as evidências pode ajudar a esclarecer controvérsias em torno do conceito de "gordo, mas com saúde", que se refere a pessoas com sobrepeso ou obesidade pelo IMC, porém saudáveis do ponto de vista cardiometabólico.

O tema merece mais investigações e espero que estudos como estes possam contribuir para um novo olhar sobre obesidade e para um tratamento mais humanizado e respeitoso.

Bon appétit!

Sophie Deram