Topo

Rico Vasconcelos

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Tratamento e prevenção do HIV apenas com anticorpos logo será realidade

iStock
Imagem: iStock

Colunista do UOL

15/07/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Esse ano completamos 41 anos de pandemia de HIV/Aids. Por mais que o empenho infinito da pesquisa científica tenha chegado a um tratamento com antirretrovirais para as pessoas que vivem com esse vírus, ainda carecemos de uma vacina protetora e de uma cura definitiva para essa infecção.

Um dos principais obstáculos para o desenvolvimento de uma vacina ou cura para o HIV está no fato de que os anticorpos produzidos por seres humanos contra o esse vírus não são potentes o suficiente para eliminá-lo, nem funcionam para todas as diferentes variedades virais que surgem conforme o HIV se multiplica no corpo de um indivíduo infectado.

A questão aqui não é produzir ou não anticorpos. Todas as pessoas que vivem com HIV produzem anticorpos anti-HIV em grandes quantidades depois de infectadas. O diagnóstico dessa infecção inclusive é feito por meio da detecção desses anticorpos na sorologia, teste rápido ou autotestes para HIV.

O problema é que o desempenho desses anticorpos no combate ao vírus é decepcionante, principalmente quando comparamos com a resposta imune humana desenvolvida contra outras infecções virais, tais como o sarampo ou a catapora.

Embora a história da ciência seja repleta de decepções, isso jamais fez com que os pesquisadores abandonassem seus estudos. Foi assim que, no final da década de 1990 foi encontrada uma pessoa vivendo com HIV muito especial. Ela aprendeu a produzir espontaneamente um anticorpo anti-HIV muito mais potente e que ainda por cima conseguia eliminar uma grande variedade de diferentes tipos de HIV.

Logo em seguida, descobrimos que aquela não era a única pessoa especial no planeta. Em todo mundo passaram então a ser encontradas diversas dessas pessoas raras vivendo com HIV produtoras dos anticorpos denominados amplamente neutralizantes contra esse vírus, os chamados bNAbs (do inglês, Broadly Neutralizing Antibodies).

Com a melhora da tecnologia laboratorial na imunologia, os bNAbs puderam ser isolados e reproduzidos em larga escala. E com a disponibilidade de ampolas desses anticorpos, finalmente poderíamos desenvolver ensaios clínicos avaliando o desempenho dos bNAbs para o tratamento e a prevenção do HIV.

A cada novo bNAb descoberto, a expectativa dos pesquisadores foi aumentando. Será que um dia chegaríamos a um anticorpo "ideal" tanto por sua máxima potência quanto em termos de cobertura contra absolutamente todos os tipos de HIV do planeta?

Os primeiros ensaios clínicos com bNAbs não encontraram, no entanto, resultados muito animadores. Da mesma forma que com medicamentos antirretrovirais, se houvesse um vírus resistente ao anticorpo testado, a intervenção terapêutica ou preventiva simplesmente falhava.

Entretanto, também de forma semelhante aos antirretrovirais, resultados satisfatórios começaram a ser encontrados nos ensaios clínicos em que diferentes bNAbs em associação foram administrados simultaneamente.

Dessa forma, chegamos nessa linha do tempo ao momento atual. Nesse exato momento, pesquisadores do mundo todo estão em busca não só dos melhores e mais potentes bNAbs contra os diferentes tipos de HIV, mas também da melhor associação desses anticorpos.

A Faculdade de Medicina da USP, por exemplo, está participando de um estudo multicêntrico juntamente com centros dos Estados Unidos, Canadá, México e Argentina para testar a potência antiviral e a segurança do uso de um novo bNAb chamado N6LS.

Para isso, o Centro de Pesquisas Clínicas do HC-FMUSP está recrutando pessoas com o diagnóstico de infecção por HIV ainda virgens de qualquer tratamento antirretroviral para participarem do Estudo Banner. Os participantes receberão uma dose única do N6LS, com posterior avaliação da queda em suas cargas virais, bem como da duração desse efeito.

Todos os participantes do Estudo Banner iniciarão em seguida o tratamento antirretroviral preconizado pelo Ministério da Saúde, recebendo toda a assistência que precisarem durante sua participação no estudo.

Ajude os pesquisadores nessa busca pelos melhores bNAbs divulgando o Estudo Banner. E se você acredita que pode ser um participante dele, entre em contato por meio do e-mail estudo.banner@gmail.com ou do WhatsApp 11 99817-8216.

No futuro, a combinação certa de potentes bNAbs poderá ser uma boa opção de tratamento ou prevenção do HIV, contando com muito menos efeitos colaterais do que com os medicamentos antirretrovirais e não dependendo da tomada diária de comprimidos.