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Mariana Varella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

DIU é ótima opção, mas poucas mulheres o usam

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

16/02/2022 10h18

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Imagine um método anticoncepcional cuja taxa de eficácia seja superior a 99% e que não dependa de administração diária, mas, ao contrário, dure cerca de 10 anos. Agora pense que ele pode ser utilizado após o parto, durante a amamentação e por quase todas as mulheres em idade fértil, incluindo as muito jovens. Além disso, suponha que cause poucos efeitos colaterais e seja oferecido gratuitamente pelo sistema público de saúde. Em um país como o Brasil, em que pouco falamos de educação sexual e direitos reprodutivos, embora a cada mil brasileiras de 15 a 19 anos, 53 tenham se tornado mães em 2020, seria ótimo, não?

Só que esse método já existe, e está disponível pelo SUS. Apesar de oferecer inúmeras vantagens, o dispositivo intrauterino (DIU) é usado por apenas 2% das mulheres em idade fértil. Por quê?

De acordo com a ginecologista Thais Travassos, há vários motivos, entre eles a falta de informação da população, incluindo os profissionais de saúde. Não é raro, por exemplo, escutar de médicos que adolescentes ou mulheres que nunca tiveram filhos não devem usar o DIU, embora a OMS e a própria Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) afirmem que os benefícios do DIU para adolescentes superam os riscos.

Há dois tipos de DIU, os não hormonais e os hormonais. Os primeiros são feitos de cobre ou de cobre associado à prata e podem ser usados por até 10 anos. Os íons de cobre liberados na cavidade uterina agem no endométrio (tecido que reveste o útero) e têm ação espermicida, impedindo que os espermatozoides cheguem às tubas uterinas, onde ocorreria a fecundação.

Como esse tipo de DIU pode aumentar as cólicas e os sangramentos menstruais para algumas usuárias, não deve ser indicado para pacientes com problemas de coagulação e anemia, mas é bem tolerado pela maioria das mulheres.

Já os DIUs hormonais liberam uma pequena quantidade de progesterona no interior do útero, promovendo o espessamento do muco cervical, de forma a dificultar a passagem do espermatozoide, e impedindo o desenvolvimento do endométrio. Esses DIUs reduzem ou até mesmo interrompem o fluxo menstrual, mas a mulher continua tendo ciclo hormonal. Além de serem indicados para a contracepção (duram 5 anos), os DIUs hormonais podem ser utilizados no tratamento de doenças como adenomiose e endometriose.

A inserção do DIU é simples e pode ser feita em consultório, sem anestesia, na maioria das vezes. Algumas mulheres, no entanto, necessitam de sedação leve em centro cirúrgico. O DIU pode ser inserido por ginecologistas, médicos de família e enfermeiros tecnicamente treinados, o que torna o dispositivo mais acessível em regiões que não contam com ginecologistas.

Os DIUs não hormonais são oferecidos pelo SUS, mas os hormonais só são ofertados em determinados hospitais públicos, para o tratamento de doenças específicas. Seu preço na rede privada pode passar de 1 mil reais, mas os planos de saúde são obrigados a custear tanto os DIUs não hormonais quanto os hormonais.

Para a dra. Thais Travassos, as vantagens do uso do DIU são incomparáveis as de outros métodos anticoncepcionais. Em primeiro lugar, eles podem ser utilizados pela maioria das mulheres, independentemente da idade. Em segundo, duram anos, o que facilita a adesão de mulheres muito jovens, que tendem a se esquecer de tomar a pílula diariamente.

Além disso, são mais efetivos que os métodos de barreira como diafragma e mesmo os hormonais liberam pouca quantidade de hormônio, que não é absorvido pelo organismo a ponto de interferir significantemente no ciclo hormonal e causar efeitos colaterais como os anticoncepcionais orais.

Podem ser inseridos no pós-parto e durante o período de amamentação, causam poucos efeitos colaterais (os mais comuns são aumento do sangramento e cólicas), e as mulheres podem interromper seu uso quando desejarem, sem que haja interferência na fertilidade. Não há, portanto, motivos para tão poucas mulheres o utilizarem.

É importante salientar que as mulheres não precisam de autorização do parceiro para utilizar o DIU, conforme circulou nas redes sociais recentemente. O DIU é inserido no corpo da mulher, portanto mesmo adolescentes que optarem por esse método devem ser respeitadas.

Escolher se desejamos ter filhos e quando tê-los é um direito que deve ser assegurado a todas as pessoas. Nesse caso, o DIU é uma boa escolha: acessível, eficaz, durável e seguro. Não há motivos para ser tão pouco utilizado, a não ser pela falta de informação e dificuldades de acesso que podem e devem ser superadas pelo SUS.