Edmo Atique Gabriel

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Opinião

O Alzheimer te assusta? Então preste muita atenção ao seu sono

A memória é um dos atributos mais sagrados e nobres de um ser humano; por meio dela nós conservamos as experiências vividas e nos relacionamos com as outras pessoas. A nossa história de vida, com vitórias e percalços, molda nossa personalidade e, sem uma memória sólida, fica praticamente impossível seguir em frente, enfrentando as batalhas que cada novo dia nos oferece.

Por uma multiplicidade de fatores, podemos perder a capacidade de sustentar nossa memória e, então, começamos a esquecer fatos antigos, fatos recentes, nomes, referências geográficas. Este declínio de nossa atividade cerebral muda nosso cotidiano, chama atenção de quem nos cerca, causa situações de profundo desconforto e afeta consideravelmente nossa autoestima.

O Alzheimer representa um tipo de demência, com alterações de memória e das conexões com pessoas e ambiente. Obviamente ninguém gostaria de vivenciar esta doença, mas, nas últimas décadas, pelo avanço tecnológico expressivo, o diagnóstico desta doença tem sido cada vez mais frequente.

Falar em cura total deste problema é algo bem improvável, mas podemos pensar em possíveis relações entre o Alzheimer e algumas condições que poderiam ser abordadas e melhoradas. Umas destas condições seria a qualidade do nosso sono noturno.

Um estudo italiano, liderado por pesquisadores da Universidade de Turim, demonstrou que o repouso noturno, em pacientes com Alzheimer, pode se tornar intensamente perturbado, tanto do ponto de vista da quantidade de horas dormidas, como em relação à qualidade deste descanso.

Além disso, pessoas que ainda não têm este diagnóstico, mas que vivenciam distúrbios do sono, como privação do sono, insônia e apneia, podem se tornar altamente propensas a desenvolver este tipo de demência.

Este estudo também apontou que nosso cérebro possui um sistema próprio de "faxina", que somente é ativado em um sono profundo e reparador. Não ocorrendo esta limpeza, muitas substâncias neurotóxicas se acumulam, causando mais ainda a fragmentação do sono.

Observem que acaba se formando um círculo vicioso, com um desfecho sério que é o surgimento ou agravamento do Alzheimer.

Para piorar o que já está crítico, observamos que as pessoas com fragmentação do sono e declínio de memória podem desenvolver outros problemas de saúde, como obesidade, infarto, diabetes, hipertensão arterial e câncer.

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Um estudo sueco, publicado na revista científica Neurology, reuniu 15 homens saudáveis, com cerca de 22 anos e sem distúrbios do sono. Numa primeira fase, eles foram autorizados a dormir normalmente por duas noites; na segunda parte da investigação, puderam dormir bem uma noite e foram privados do sono na segunda.

Este estudo identificou que a perda aguda de sono causa um aumento nos níveis sanguíneos de proteínas inflamatórias que prejudicam as conexões em áreas do cérebro responsáveis pela memória.

Para aprofundar um pouco mais sobre esta ligação entre o Alzheimer e distúrbios de sono, vale a pena citar também uma pesquisa realizada por neurologistas de Barcelona, na qual dois resultados foram taxativos.

Primeiramente, verificou-se que a insônia produz alterações biológicas, tanto na estrutura cerebral como em exames de sangue. No entanto, para que essas alterações sejam relevantes, os distúrbios do sono têm que durar muitos anos e também deve ser considerada a sua intensidade.

O segundo resultado diz respeito às pessoas com síndrome de Down. Os distúrbios do sono são muito comuns em pessoas com síndrome de Down, um grupo especialmente vulnerável à doença de Alzheimer. Por volta dos 60 anos, 70% das pessoas com síndrome de Down sofrem de Alzheimer.

Sabemos que o sono piora à medida que envelhecemos. Começando por volta da meia-idade, as pessoas geralmente acordam com mais frequência à noite, dormem menos profundamente e acordam muito cedo. Esses problemas de sono podem estar nos colocando em risco para o Alzheimer.

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Diante de tal constatação e com tantos estudos contundentes, fica a dúvida: as alterações cerebrais relacionadas ao Alzheimer levam a um sono ruim ou a falta de sono contribui para a doença?

A melhor resposta seria: pouco importa. A melhor conduta é prevenir e buscar alternativas para um sono de melhor qualidade.

Buscar ajuda especializada é sempre prudente nestes casos, desde os primeiros sinais de instabilidade do sono noturno. Adiar o momento de iniciar um tratamento específico pode ser decisivo para controle adequado do Alzheimer. Ninguém tem saúde plena dormindo mal.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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