Edmo Atique Gabriel

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Opinião

Tratamento para infertilidade feminina e maior risco para derrame cerebral

Faz parte da cultura feminina cultivar o sonho de ser mãe. Num passado mais distante, as mulheres engravidavam bem mais jovens e eram muitas gestações ao longo da sua fase fértil. À medida que a mulher foi conquistando mais funções na sociedade, a gravidez passou a ser um processo mais controlado, mais programado e o número de filhos também diminuiu.

Esse papel da mulher, exercendo múltiplas funções, acumulando maior desgaste físico e mental, fez com que a gravidez se tornasse um processo mais desafiador e até mais difícil de acontecer. Fatores genéticos e hormonais, faixa etária, endometriose, estilo de vida, hábitos alimentares, sedentarismo, tabagismo, etilismo, nível de estresse são possíveis justificativas para maiores dificuldades de uma mulher engravidar.

A medicina, por sua vez, trouxe, nas últimas décadas, mais opções e maior sofisticação para tratamento da infertilidade feminina.

Mas uma recente publicação deste mês de agosto, em um importante jornal médico, demonstrou que existe um risco maior de hospitalização por derrame cerebral, após o nascimento da criança, em mulheres que fizeram tratamento para infertilidade.

Uma nota como essa certamente pode gerar dúvidas, controvérsias e pânico. Sendo assim, vou apresentar os principais aspectos discutidos na publicação, apontando aquilo que parece ser mais concreto.

O estudo em questão englobou mulheres de 28 estados norte-americanos, no período de 2010 até 2018. A faixa etária dessas mulheres variou de 15 a 54 anos. O foco mais importante da pesquisa foi a ocorrência de derrame cerebral no primeiro ano após o nascimento da criança, considerando mulheres que haviam feito tratamento para infertilidade. Só foram analisados os casos de ocorrência de derrame cerebral não fatal, ou seja, aqueles casos que não resultaram em morte.

Dessa forma, os resultados mais relevantes do estudo foram:

Aumento de 66% no risco de hospitalização por derrame cerebral, nas mulheres que fizeram tratamento para infertilidade.

O risco de hospitalização por derrame cerebral foi maior para casos de derrame cerebral hemorrágico, o qual costuma ser mais perigoso. O derrame cerebral ou acidente vascular cerebral pode ser de dois tipos: hemorrágico, quando um vaso sanguíneo cerebral se rompe e ocorre extravasamento de sangue; e isquêmico, quando um vaso sanguíneo cerebral fica entupido e o fluxo sanguíneo é interrompido.

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O risco de hospitalização por derrame cerebral pode ser evidenciado de forma precoce, ou seja, logo após 30 dias do nascimento da criança.

A doença cardiovascular não é somente a principal causa de mortalidade global feminina, mas também é a principal causa de mortalidade maternal. Dentre os fatores que justificam essa tendência, pode-se citar hipertensão arterial na gravidez, obesidade e diabetes.

O seguimento clínico dessas mulheres que realizaram tratamento para infertilidade deveria ser dividido em duas etapas: uma vigilância cuidadosa nos primeiros seis meses após o nascimento da criança e um acompanhamento periódico após esse primeiro semestre.

Na análise final desse estudo, outros dois pontos muito importantes foram ressaltados, tendo como premissa a prevenção efetiva de um derrame cerebral, seja qual tipo for, após uma gestação baseada em tratamento para infertilidade.

Primeiramente, a presença de hipertensão arterial e de diabetes, durante a gestação, seriam os gatilhos principais para possíveis complicações cardiovasculares e, como tais, deveriam ser melhor controlados.

O segundo ponto seriam os efeitos colaterais das medicações empregadas para tratar a infertilidade feminina; são medicações com potencial de alterar a estabilidade dos nossos vasos sanguíneos e promover distúrbios no fluxo sanguíneo. Uma revisão dessas medicações, tentando encontrar melhores opções tal como melhores combinações, certamente seria válida para reduzir efeitos colaterais.

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Enfim, não podemos negar que a gravidez tem se tornando um desafio para a mulher, num mundo competitivo e mais exigente, no qual ela tem sido protagonista e engajada em múltiplas funções. O tratamento para infertilidade feminina foi uma necessidade premente e passou a ser cada vez mais recrutado, tendo em vista o nível de estresse crescente, os desequilíbrios hormonais e o estilo de vida mais desregrado.

Considerando que esse tipo de tratamento pode comprometer a saúde feminina após o nascimento da criança, sobretudo pelo risco aumentado para derrame cerebral hemorrágico, cabe às mulheres ter esse entendimento e seguir um acompanhamento médico rigoroso.

Para aquelas mulheres que estão tentando engravidar e que necessitam de uma tratamento para infertilidade, a dica é mais valiosa ainda, pois medidas preventivas devem ser implementadas o mais precocemente possível.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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