Edmo Atique Gabriel

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Opinião

Quanto tempo você fica nas redes sociais? Sua saúde mental depende disso

Seria inimaginável o mundo atual sem a facilidade de comunicação e de informação que a internet trouxe para as pessoas. Dizer que antigamente as coisas eram mais românticas, a vida era mais calma, o mundo mais tranquilo, até pode ser verdade. No entanto, ninguém vai querer voltar no tempo e deixar de usar a internet, deixar de ter um aparelho de telefone que executa inúmeras funções e muito menos abandonar o prazer de uma rede social, na qual você exibe fotos, envia mensagens instantâneas e ainda faz negócios.

A internet e a rede social foram duas revoluções na vida de todos nós, permitindo tantas facilidades e estimulando um aspecto comum a qualquer pessoa: a vaidade. Não vivemos sem vaidade, ela é essencial para as relações humanas e para que nós tenhamos um mínimo de satisfação em todas as nossas atitudes.

A vaidade está presente em tudo —quando nos olhamos no espelho, quando escolhemos a roupa para vestir, quando estudamos para ter sucesso numa prova, quando escolhemos a pessoa amada para casar. Quando criamos nosso perfil numa rede social e começamos a criar conteúdos —fotos, stories, reels, vídeos—, estamos extravasando nossa vaidade, tentando assumir uma posição de referência e iniciando uma competição com outras pessoas, visando sucesso quanto à imagem corporal e posicionamento profissional.

Até certo ponto, tudo isso pode ser saudável. Como falei anteriormente, não adianta querer bancar o saudosista e dizer que não vai ter rede social. O mundo atual exige essa identidade digital e seria muito mais prudente enfrentar essa realidade do que adotar uma postura negacionista. Sendo assim, temos de desfrutar dos pontos positivos de uma rede social, como a possiblidade de fazer muitas coisas, em pouco tempo, com grande eficiência e com resultados extraordinários.

A questão que eu quero tocar diz respeito a uma espécie de prisão que a rede social pode exercer em nossa mente. Quando uma pessoa é condenada a tantos anos de prisão, ela perde um dos maiores privilégios, que seria sua independência. E isso, sem dúvida, afeta consideravelmente sua saúde mental. Imaginem o que é ficar preso, sendo controlado e vigiado, vivendo em função de regras e padrões determinados por outras pessoas.

Mais de 3 bilhões de pessoas no mundo têm um perfil em rede social e, de forma sistemática, todo santo dia cumprem uma rotina de horas e horas gastas nessa rede.

As funções biológicas acabam até se confundindo com as horas gastas na internet. O sono noturno começa após interações online e acaba com o despertar de um novo dia, também acessando imediatamente a rede social. Nossas necessidades fisiológicas são feitas com atenção máxima na rede social, nossos olhos atentos nas fotos e nos vídeos ali postados. Talvez só quando tomamos banho conseguimos nos afastar por alguns minutos da rede social.

Pergunto a vocês: isso não é uma prisão? Mais do que uma prisão, não estamos criando um estilo de vida que precisaria obrigatoriamente ser aprovado pela rede social? Nos dias atuais, usamos muito dois conceitos: formador de opinião e influenciador. Esses conceitos nasceram, cresceram e se desenvolveram com as próprias redes sociais.

Vejam como está o mundo e como isso pode afetar nossa saúde mental. Para saber qual produto é bom para a pele, precisamos ver se um influenciador recomenda; para saber se determinado hotel ou restaurante tem boa qualidade, precisamos também ter aprovação prévia do influenciador. E, para saber qual a opinião do influenciador, precisamos entrar "na prisão", na rede social.

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Nossa saúde mental tem sido refém, tem ficado enclausurada nas grades da rede social, principalmente devido a dois aspectos: imagem corporal e autoestima.

Nós não somos mais verdadeiros, cada um em sua essência, sua origem familiar, suas caraterísticas físicas familiares, sua forma original de pensar. Nossa tendência é ser o que as redes sociais pregam e definem durante as intermináveis horas que ficamos focados nelas. Nosso corpo não é mais verdadeiro, é um produto moldado pelas redes, pelas pessoas que influenciam, que inspiram, que ostentam poder e riqueza.

Como fica nossa saúde mental se estamos perdendo nossa essência? A situação está realmente ficando confusa, pois não sabemos mais quem verdadeiramente somos, nossa mente não mais reflete nossos verdadeiros sentimentos, somos praticamente "uma média" do que as redes sociais determinam como certo, bonito e interessante.

Uma pesquisa recente, coordenada por cientistas espanhóis, apresentou alguns dados intrigantes e alarmantes quanto ao tempo que dedicamos às redes sociais e seus efeitos em nossa saúde mental. Os principais conteúdos pesquisados são moda e beleza.

A maior parte das pessoas organiza até cinco stories por semana, visando apresentar seus diferenciais, atributos físicos ou profissionais . A maioria das pessoas que gasta mais tempo em rede social não é casada. As pessoas que gastam mais de 3 horas do seu dia com as redes sociais são as que apresentam mais problemas em relação a sua imagem corporal e autoestima.

Acredito que nenhum de nós queira ficar para sempre preso nessa prisão. Queremos, sim, que a rede social seja nossa aliada para bons projetos, relacionamentos e negócios, sem ferir nossa essência. Não podemos ficar horas e horas numa rede social, querendo ser aquilo que nosso corpo não permite ser ou querendo fazer coisas que, do ponto de vista financeiro, são inviáveis.

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Precisamos resgatar nossa essência, de sermos aquilo que verdadeiramente somos. Muito cuidado para não deixar o excesso de horas, preso numa rede social, tornar você um ser humano artificial e facilmente influenciável. Muito cuidado para esse excesso de horas acabar com sua saúde mental, sua autoestima e sua valorização como ser humano único.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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