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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desafiar os limites do corpo pode ser fatal para nossa saúde

Zhanna Samsonova - Reprodução/Instagram
Zhanna Samsonova Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

05/08/2023 04h00

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O ser humano gosta de criar suas próprias regras, seu próprio código de conduta, mesmo que essa atitude não se baseie no bom senso. As pessoas muitas vezes buscam se destacar, chamar atenção para si e quebrar recordes por absoluta vaidade e ego, sem medir as consequências de seus atos.

Nossa saúde não tolera desaforos, ela grita e emite sinais de alerta para que nós possamos reajustar a rota. O problema é que nossa vaidade excessiva nos mantêm na rota errada, no caminho que pode nos levar à morte.

O que podemos ganhar com essas atitudes de vaidade excessiva? Fama? Muito dinheiro? Seguidores no Instagram? Muito provavelmente essas aquisições acabam acontecendo, pois vivemos num mundo de aparências e vivemos numa competição doentia por um reconhecimento digital. O único detalhe subestimado é que fama, dinheiro e número de seguidores não curam as doenças, tampouco trazem paz.

Nos últimos tempos, os valores morais e espirituais têm sofrido um profundo desgaste. As estatísticas são cruéis e refletem friamente uma dura realidade —as especulações, traições, mentiras, egoísmo, narcisismo e individualismo têm superado a humildade, moderação e a honestidade.

Tivemos, nos últimos anos, uma série marcante de ocorrências catastróficas envolvendo pessoas que desafiaram os limites do corpo, mesmo sabendo dos riscos concretos e desconsiderando que nossa vida pode escapar facilmente de nosso controle. Mais do que isso, essas pessoas tiveram atitudes que encerraram sonhos, metas, longevidade em companhia de amigos e familiares. Tudo por uma suposta sensação mágica do prazer, do ego exacerbado.

Vamos relembrar algumas ocorrências e, na sequência, peço que todos façam uma reflexão e analisem se realmente houve algum valor agregado, além de pura tristeza e pânico.

1. Cinco pessoas que estavam dentro do submarino OceanGate morreram após a descida do equipamento até uma profundidade incompatível, resultando no colapso e implosão súbita da estrutura. Essas pessoas haviam desembolsado uma fortuna para fazer um passeio por pura curiosidade, desafiando a natureza e querendo enaltecer o maravilhoso feito. Segundo especialistas, essas pessoas se transformaram em pedaços e restos humanos como num piscar de olhos.

2. O empresário João Paulo Diniz morreu em 2022, após uma competição de triatlo. Ele apresentava uma condição cardíaca conhecida como cardiomiopatia hipertrófica, na qual o coração nasce com uma espessura muscular acima do normal. A prática de atividades físicas de grande exigência metabólica em pessoas com essa alteração de nascença pode elevar o risco de morte súbita. João Paulo havia recebido essas orientações por parte de seu cardiologista.

3. Em julho deste ano, na Indonésia, um fisiculturista de 33 anos morreu ao tentar erguer um peso de 210 kg sobre seu pescoço. As imagens são terrivelmente fortes, pois o pescoço dele literalmente quebrou, rompendo nervos que conectam coração e pulmão ao cérebro.

4. Numa academia do México, uma mulher estava treinando juntamente com sua filha quando tentou levantar um peso de 180 kg. O peso caiu sobre seu pescoço, causando fraturas, compressão de nervos vitais e morte.

5. Em 2016, houve o fatídico acidente de avião que matou inúmeros jogadores da Chapecoense, além de gestores do clube e membros da imprensa. A causa da queda foi a falta de combustível, situação conhecida como pane seca. Lamentavelmente, por uma suposta tentativa de economizar recursos financeiros, a autoconfiança exagerada predominou, culminando com a morte de pessoas que sequer sabiam o que estava acontecendo e o que poderia acontecer.

6. Muitos artistas conhecidos faleceram em decorrência da overdose de substâncias ilícitas ou mesmo medicamentos. Essas pessoas usavam essas substâncias, mesmo estando cientes dos riscos de morte. Elvis Presley, Whitney Houston e Marlyn Monroe faleceram em decorrência desse tipo de abuso.

7. Muitas pessoas são vítimas de afogamento em rio ou mar, por subestimarem as condições da correnteza e superestimarem seu preparo físico. Em 2016, o ator Domingos Montagner decidiu fazer um mergulho no Rio São Francisco, logo após o almoço, sob altas temperaturas e numa área de risco. Após uma refeição, normalmente ficamos mais sonolentos e um mergulho pode exigir um nível de esforço e concentração muito acima do esperado. Além disso, as forças da água podem sugar nosso corpo para o fundo do rio ou mar. Ele acabou não suportando as forças da correnteza e se afogou.

8. Um escalador de edifícios, o chinês Wu Yongning, 26, morreu ao cair de uma altura de 190 metros . Ele estava no 62º andar de um prédio na China. Sabe qual foi o propósito dessa escalada? Ele queria fazer uma selfie e mandar para sua namorada.

9. Um personal trainer britânico, Tom Mansfield, exagerou na quantidade de cafeína e ingeriu uma quantidade proporcional a 200 xícaras de café. A toxicidade foi extrema, com sobrecarga cardíaca e morte.

10. A influenciadora Zhanna Samsonova não tomava água há seis anos e consumia apenas frutas, sucos e sementes de girassol . Ela acabou desenvolvendo uma infecção severa, por uma queda de imunidade, e morreu.

Valeu a pena? Esta é a pergunta que fica em nossa cabeça. Correr tanto risco, em diferentes circunstâncias, visando se autopromover, visando provar que é capaz de vencer limites que outras pessoas não conseguiriam, visando ser um padrão de referência no Instagram ou simplesmente confiando exageradamente no "próprio taco", realmente vale a vida de um ser humano? Uma decisão movida pelo ego, pela autoconfiança exagerada, pelo exibicionismo, pode acabar com os sonhos e planos de uma pessoa e de uma família.

Sendo assim, sugiro agora alguns minutos de silêncio e uma profunda reflexão sobre essa tendência humana de desafiar os limites do corpo e perder sua saúde e sua vida.