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Edmo Atique Gabriel

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que homens pegam no sono mais facilmente e dormem melhor que mulheres?

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

17/06/2023 04h00

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Especialistas em medicina do sono costumam enfatizar que o sono é algo realmente variável, de pessoa para pessoa e de uma noite para outra. Esse é um conceito que homens e mulheres precisam ter em mente, ou seja, o sono não é algo engessado, compacto e previsível. Inclusive esses especialistas deixam uma importante mensagem a ser compartilhada: acordar uma ou duas vezes durante a noite e voltar a dormir em 10 a 15 minutos não seria nada problemático.

As mulheres enfrentam vários desafios ao longo de suas vidas. Um deles é a dificuldade de pegar no sono, assim como ter um sono reparador. Diferentemente dos homens, que costumam levar vantagem nessas questões do sono, as mulheres podem vivenciar verdadeiras batalhas para ter um descanso noturno adequado. Essas oscilações na qualidade do sono podem começar por volta dos 11 ou 12 anos de vida e acompanhar as mulheres ao longo da fase adulta.

Mas, afinal, o que estaria por trás dessa dificuldade que as mulheres têm tanto para pegar no sono como para manter um sono tranquilo ao longo da noite?

Podemos destacar que os fatores biológicos e psicológicos são determinantes para justificar mais essa luta que as mulheres costumam enfrentar.

Precisamos entender os fatores biológicos como sendo essencialmente fatores hormonais. As mulheres passam por muitas e diferentes fases hormonais ao longo da vida. Tudo começa com a primeira menstruação e, na sequência, estão previstas a gestação e a menopausa. Cada uma dessas fases se caracteriza por muita oscilação dos hormônios e, consequentemente, sintomas que interferem com a qualidade do sono, como a irritabilidade, presença de inchaços pelo corpo, sensação exagerada de calor e mudanças no funcionamento intestinal.

Não podemos esquecer, também, que as mulheres gestantes ficam mais sensíveis à dor e a estímulos externos como luz e barulho e que, após o nascimento da criança, vem aquele período difícil de acordar ao longo da noite muitas vezes para ver como está o bebê e para amamentação. O primeiro e o terceiro trimestres da gestação são os mais complicados para qualidade do sono.

Ainda falando sobre a gestação, alguns estudos demonstram que o cérebro das mulheres se adapta de tal forma que elas se tornam pessoas altamente reativas e hipervigilantes. São cérebros praticamente treinados a ouvir qualquer movimento ou suspiro do bebê. Algo realmente fabuloso do ponto de vista da neurociência, mas terrível se pensarmos em um sono qualitativo.

O período pós-menopausa pode ser muito crítico para a qualidade do sono feminino, principalmente devido às mudanças no peso corpóreo e ao maior relaxamento dos músculos da respiração, favorecendo roncos e dificuldade de respirar (apneia do sono). Essa tendência maior ao sobrepeso dificulta o funcionamento dos músculos respiratórios do tórax e abdome.

Do ponto de vista psicológico, muitos estudos mostram que a depressão e ansiedade estão presentes duas vezes mais na vida de uma mulher, em comparação com os homens. No período pós-menopausa, as mudanças no corpo feminino e a maior tendência ao sobrepeso podem acentuar significativamente a depressão e ansiedade.

Mesmo diante dessas evidências biológicas e psicológicas, as mulheres não devem se conformar e passar a vida sofrendo com uma má qualidade do sono. Algumas estratégias como terapia comportamental, mindfulness, meditação, reposição hormonal, adequação alimentar, controle do peso, rotina regrada de atividades físicas podem reduzir a insônia das mulheres.

Em suma, as mulheres devem ter consciência de suas dificuldades naturais quanto ao sono, saber que os sintomas depressivos e de ansiedade contribuem bastante para essa dificuldade, mas que não devem sofrer em silêncio —devem buscar tanto as estratégias favoráveis a um sono de qualidade como uma ajuda especializada.