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Opinião

Neurocientista em livro para mulheres na menopausa: 'Você não está louca!'

"Você não está Louca." O título do primeiro capítulo do livro The Menopause Brain, lançado esta semana nos EUA (ainda sem previsão no Brasil), é uma resposta fundamental que toda mulher na menopausa precisa ouvir.

A autora do livro, a renomada neurocientista italiana Lisa Mosconi, inicia a obra relatando uma situação que muitas mulheres entre 40 e 60 anos já passaram: acordar um dia pela manhã e se perguntar: "Será que estou perdendo a cabeça?".

Pode ser que você esteja vivendo coisas como entrar em um cômodo da casa e esquecer o que foi fazer lá; guardar os óculos na geladeira ou o celular no armário de mantimentos; ou ainda esquecer o nome de um conhecido. Pode estar sentindo uma espécie de nevoeiro mental, uma falta de clareza no pensamento.

Suas emoções também podem parecer uma montanha russa, como se estivesse numa eterna TPM, oscilando entre a ansiedade, a tristeza e a raiva sem motivo aparente. Para piorar, pode ser acordada no meio da noite por uma insônia sem explicação ou por sentir ondas de calor que a fazem suar como num verão escaldante. Não é por menos que tantas mulheres temem estar enlouquecendo.

Eu passei por isso. Há seis anos, fui procurar no Google informações sobre demência e falta de memória (condição que afetou alguns familiares no passado). Não estava me reconhecendo. Foi uma surpresa quando, nessa busca, esbarrei no termo "menopausa".

Jamais poderia desconfiar que isso estava acontecendo comigo, afinal estava menstruando normalmente (só depois de consultar um especialista entendi que estava na perimenopausa). Como diz Liza Mosconi, hoje esses sintomas têm nome: cérebro na menopausa (menopause brain em inglês).

O fato é que, assim como eu, a maioria das mulheres não sabe nada sobre essa fase de transição que pode durar mais de uma década. E essa transição afeta muito além dos nossos ovários e nossa fertilidade, ela causa uma verdadeira transformação no cérebro.

Menopausa é uma transição neuroendócrina

O que Mosconi nos assegura em seu livro, é que, não, não estamos loucas. Nem sozinhas. E vamos melhorar. O que está mudando agora é que estamos começando a entender o que acontece com nosso corpo e como podemos ajudar a viver com eles.

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Mosconi mesmo começou a estudar o cérebro feminino devido ao histórico de mulheres em sua família que desenvolveram Alzheimer (dois terços dos casos no mundo são de mulheres). Hoje ela é diretora do Programa de Prevenção do Alzheimer da Faculdade de medicina Weill Cornell, nos EUA.

Até há pouco se achava que isso era porque as mulheres vivem mais e, portanto, teriam mais risco de desenvolver a doença que atinge os idosos. Mas Mosconi passou a estudar os cérebros femininos e a mostrar que esse risco aumenta justamente por conta da queda da hormonal que acontece na menopausa e afeta o cérebro diretamente porque o órgão tem uma série de receptores que dependem dos hormônios.

Durante a menopausa, Mosconi explica que nosso cérebro passa por uma espécie de "reforma". Ao mesmo tempo em que estamos com a sensação de estar "perdendo" capacidades, na verdade o que está em curso é uma reorganização dos circuitos cerebrais.

"O cérebro passa por uma transição porque faz sentido fazê-lo. Após a menopausa, todos aqueles neurônios e conexões entre neurônios que eram necessários para apoiar a ovulação e possibilitar uma gravidez não são mais necessários e podem ser descartados. É a chance do cérebro ficar 'mais enxuto e eficiente', se quiserem dizer assim —isso pode levar a alguns problemas, mas também tem algumas vantagens", diz a cientista. Ou seja é uma fase que causa solavancos na transição, mas depois há uma acomodação

"As mulheres pós-menopausa não são mais reprodutivas, mas podem permanecer produtivas. Algumas mulheres relatam sentir-se mais liberadas e experimentar um novo sentido de clareza e foco pós-menopausa. A redução nas flutuações hormonais também pode levar a um renovado bem-estar emocional para algumas. Essa fase parece promover uma conexão mais profunda com o próprio corpo e mente, melhorando a empatia e o domínio emocional."

Como cuidar da saúde do cérebro na menopausa

Com tantas mudanças, você deve ser perguntar, tem algo que eu possa fazer? Mas trago boas notícias. A resposta de Mosconi é: sim. Mudanças no estilo de vida e cuidados integrais com a saúde fazem toda a diferença.

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O conselho de Lisa para todas as mulheres na perimenopausa e além seria priorizar o autocuidado. Dieta, exercício, sono e redução do estresse, entre outros, são todos importantes para manter um cérebro saudável, enquanto reconhecer os sinais do cérebro na menopausa é vital para buscar apoio e cuidados médicos oportunos e apropriados. Para as mulheres que não possuem contraindicação, a reposição hormonal também pode ser benéfica para o cérebro.

O mais importante é a gente ter a certeza de que não é coisa da nossa cabeça. Existe de fato. Uma transformação física e não devemos aceitar que profissionais de saúde, principalmente, não nos acolham ou ofereçam suporte para esses sintomas.

Mais importante ainda: entender que nós, mulheres, não estamos em desvantagem só porque estamos passando por essa transição.

Para finalizar, guarde esta informação final de Mosconi: "Adoraria que as mulheres percebessem que, mesmo durante a menopausa, quando você sente que seu desempenho não é mais tão bom quanto costumava ser, a mulher média ainda supera os homens da mesma idade e nível educacional em testes cognitivos."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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