Quando você foi convidada para voltar para a L'Oréal, estava grávida. Achou que seria outro passo para trás na sua carreira?
Nesse momento, não. Eles foram muito cuidadosos. Eu estava grávida de seis meses da minha primeira filha, Valentina. Queria voltar para o Rio, e eles me contrataram sabendo da gravidez. Fiquei muito feliz. Mas, quando engravidei da minha segunda filha, achei que pesaria. Eu fui convidada para assumir um cargo de diretora comercial nacional, que cuidava de mais de 800 pessoas e tinha mais de 200 clientes. Achei que eles não me dariam a vaga por causa da gravidez. Quando me perguntaram se eu topava, disse que tinha duas respostas, uma pessoal e uma profissional: que eu queria muito, mas que estava grávida e entenderia se eles não quisessem me dar o cargo. E me surpreendi. Ouvi deles: "Você está grávida? Não tem problema algum, a vaga é sua".
O que é mais difícil: cuidar de 800 pessoas ou criar duas crianças pequenas?
Acho que os dois são igualmente difíceis, mas, ao mesmo tempo, que mulher já nasce CEO. É difícil gerenciar minhas filhas, mas tenho tantas outras gestões no meu dia a dia que quando uma se joga no chão e esperneia, consigo administrar de maneira natural. Esses dias, eu queria jantar em um restaurante japonês com elas e meu marido, mas as meninas já estavam de pijama, já tinham tomado banho. Aí levei as duas de pijama mesmo, com um casaco por cima porque estava frio. Elas adoraram, imagine, sair de pijama? A gente vai administrando como dá.
Hoje você lidera um time de 250 pessoas. Dá para ser uma chefe acessível com tanta gente assim?
Eu tento ao máximo. Se o estagiário quiser tomar um café comigo, é só falar que anoto na minha agenda. Quando assumi a divisão de luxo da L'Oréal, que cuida de produtos como Lancôme, Ralph Lauren, Yves Saint Laurent, eu criei a missão LL2020, uma meta até 2020. Assumi em 2017, fiz planos e, em um ano e meio, já aumentamos em dois dígitos o faturamento da área. Isso é maravilhoso. No primeiro ano, a gente planeja, no segundo, executa e, no terceiro, começa a colher os resultados. Eu criei uma conta no Instagram só para a equipe da área postar projetos, trabalhos, e é uma forma de a gente estar próximo. Tem dado certo.
O que de mais inesperado você já fez para treinar seu time?
Eu coordenava um time que vendia produtos de beleza e, como a maioria do grupo era de homens, muitos não sabiam se maquiar. Chamei uma equipe e fiz todo mundo passar por um treinamento de maquiagem. Todos se maquiaram e saíram 'experts'. Foi bem legal ver um monte de homem barbudo se maquiando. Até esmalte na unha eles tiveram que passar. Eu gosto de ir até os pontos de venda sem avisar e, lá, pedir que algum dos atendentes faça minha maquiagem. Faço isso com frequência. Depois, tiro foto e posto no Instagram do grupo, marco as meninas. É uma forma de estar perto da equipe.
Quais foram os três cursos que você fez que impulsionaram sua carreira?
Fiz um MBA [especialização] em que aprendi todas as questões de liderança que sei hoje; um curso sobre como a vida pessoal e a profissional devem caminhar juntas com um consultor americano chamado Bob Malick; e um curso funcional sobre direção de marketing na [Universidade] Sorbonne, em Paris. Falo espanhol porque morei seis meses na Argentina, inglês fluente e preciso voltar para o francês.