Orgia forçada e beber urina: guru de ioga tântrica é preso por abusos em série

Nesta terça-feira (28), a polícia francesa prendeu na região parisiense dezenas de membros de uma seita internacional de ioga tântrica, conhecida como federação Atman. Entre os detidos está o guru Gregorian Bivolaru. O romeno de 71 anos pedia às seguidoras que dormissem com ele para alcançar a chamada "elevação espiritual".

O correspondente da RFI na Índia, Sebastien Farcis, que revelou o caso, conversou com duas vítimas do movimento.

No quarto localizado em um hotel em Rishikesh, uma cidade sagrada no norte da Índia, cerca de cinquenta jovens caminham de olhos fechados, em fila. Todos devem se deixar acariciar pelas mãos dos outros praticantes. "Conecte-se com seus sentimentos, desconecte sua mente e sinta as energias amorosas dos outros", incentiva a professora, Purusha Ananda, vestida com uma túnica vermelha.

Esta "Caminhada do Anjo" é o primeiro exercício de uma aula de ioga tântrica, oferecida pela escola Mahasiddha. O objetivo é incentivar os jovens a seguirem um curso de três dias.

"A energia erótica é a fonte do nosso poder interior", explica a professora. "E vou ensiná-los a controlar essa energia para tornar o amor melhor e purificar suas emoções para a transcendência e comunhão com Deus."

A proposta no início pode parecer atraente, mas esconde os abusos da seita, a Federação Atman, que estimula centenas de jovens mulheres a terem relações sexuais com o líder do grupo.

O objetivo final do curso em questão é convencer as adeptas a satisfazer os desejos do "mestre" Gregorian Bivolaru. O líder da seita foi detido na terça-feira e está sendo processado por tráfico de pessoas, sequestro, formação de quadrilha, "abuso de situação de fraqueza" por membros de uma gangue organizada, além de estupro.

Ele pode pegar até trinta anos de prisão.

Orgias forçadas entre seguidores

Várias vítimas concordaram em dar depoimentos anônimos à RFI sobre sua experiência traumática na seita. Para Silke, tudo começou em outubro de 2019, em Rishikesh, em uma das dezenas de associações filiadas à federação Atman. A alemã de 21 anos foi seduzida pelo discurso "livre de tabus" sobre sexualidade e espiritualidade, citando deuses hindus e anjos cristãos.

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"Venho de uma formação ateia, e foi tudo emocionante e intrigante para mim", diz Silke. Eu estava vulnerável, saindo da faculdade e buscando um propósito na minha vida", justifica. Ela se juntou à seita por três anos na Alemanha e depois na Romênia, onde foi convidada para o acampamento de verão mais importante da federação, organizado pela MISA, uma associação fundada por Gregorian Bivolaru em 1990.

"Assim que você chega, eles tiram fotos e vídeos da gente nua", diz Silke. Então perguntam quando você quer conhecer Grieg"- o apelido dado a Gregorian Bivolaru na federação.

É impossível dizer não a tudo isso, porque se você fizer isso, será expulso do campo.

Durante o curso de duas semanas em Costinesti, na costa do Mar Negro, os ensinamentos tornaram-se cada vez mais sexualmente explícitos: as mulheres tinham que ouvir histórias picantes e, no final, eram incitadas a reproduzir o que ouviram.

Tudo é feito para acabar com todos os limites ou qualquer tipo de vergonha em relação ao sexo. Somos também levadas a pensar que é normal pensar em Grieg como um amante, e o intuito é fazer com que os membros concordem em dormir com ele.
Silke

A seita nega o pedido para tirar fotos nua e admite que só pede imagens em maiôs, "para mostrar as transformações físicas e a harmonia do corpo obtidas pela prática da Hatha Yoga". A organização também chama a roupa de "mito".

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Um sequestro em Paris para conhecer Gregorian Bivolaru

De acordo com esses ex-seguidores entrevistados pela RFI, o acampamento de ioga MISA serve como um centro de recrutamento para jovens mulheres que deveriam ter relações sexuais com Gregorian Bivolaru.

Stella, uma inglesa, é uma delas. Ela foi levada a Paris para conhecer o mestre do movimento tantra, para uma "iniciação sexual". Stella se encontrou com dois romenos em um posto de gasolina, que a colocaram em uma van, usando óculos e um chapéu, que a impediam de ver para onde estava indo - uma casa espaçosa no subúrbio de Paris.

"Eles revistaram minha bolsa e levaram meu passaporte, cartões de crédito e celular, que embrulharam em papel alumínio", diz Stella. "Também tive que assinar muitos documentos garantindo que não fui estuprada ou traficada."

No entanto, durante as duas semanas na casa, Stella só poderá sair para ligar para os familiares uma vez, durante uma conversa controlada pelos romenos, de um telefone emprestado, e sem poder revelar seu paradeiro.

Abusos em menores

Ela foi "convocada" por Gregoriano Bivolaru depois desses 15 dias. "Quando o vi, de cara pensei que ele era frágil e velho e não queria dormir com ele", lembra Stella. "E, ao mesmo tempo, ouvia essa voz em minha cabeça, me dizendo que sou superficial, que precisava vê-lo como o ser divino que ele é, e que esta era uma grande oportunidade para mim", diz.

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O endeusamento do mestre e a cultura do segredo são dois dos elementos que fazem os antigos adeptos afirmarem que o movimento Atman é uma "seita".

"Durante a penetração, ele ficou de olhos fechados, e eu pensei que ele estava meditando", diz Stella. "Mas, nesse ato, o mais importante para ele é beber a urina. Então ele me fez beber a urina dele e bebeu a minha. Então ele se deitou, e adormeceu, roncando."

Silke também conheceu Gregorian Bivolaru em um apartamento parisiense. Mas o que mais a chocou foi vê-lo com uma menor de idade. "Ela era uma menina húngara de 16 anos e tinha vindo com a mãe", diz Silke. "E Gregorian Bivolaru gritou com ela, porque ela não queria chupá-lo por tempo suficiente. Foi aí que eu pensei que isso realmente não era normal."

A federação Atman não respondeu aos múltiplos pedidos de respostas às acusações. Tanto para Silke quanto para Stella, esse relacionamento forçado com Gregoriano Bivolaru iniciou o longo processo de saída do culto.

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