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Física combate fake news e aproxima ciência do cotidiano nas redes sociais

Prêmio Inspiradoras: Gabriela Bailas é finalista na categoria Mulheres na Ciência - Mariana Pekin/UOL
Prêmio Inspiradoras: Gabriela Bailas é finalista na categoria Mulheres na Ciência Imagem: Mariana Pekin/UOL

de Universa, em São Paulo

04/08/2023 04h00

A doutora em física Gabriela Bailas, 32 anos, mais conhecida como Bibi Bailas, chega a alcançar 50 milhões de visualizações em vídeos que posta nas redes sociais. Só no Instagram, a gaúcha natural de Bagé (RS) conta com 300 mil seguidores. Já em seu canal no YouTube, batizado de "Física e Afins", são 400 mil inscritos.

Nos dois espaços, ela desmistifica temas científicos, aproximando-os do dia a dia dos seguidores. "Tento mostrar que a ciência está em tudo. Não conseguimos perceber porque a estrutura educacional no ensino médio é focada em quantidade de conteúdo", diz Gabriela, finalista do Prêmio Inspiradoras 2023 na categoria Mulheres na Ciência.

Gabriela também combate a chamada pseudociência. A física já fez vídeos para falar de temas como "thetahealing", apontada como uma técnica energética capaz de quebrar crenças limitantes, e constelação familiar, terapia alternativa que atribui problemas pessoais a conflitos familiares não resolvidos.

"Falar sobre esses assuntos no campo da fé individual, tudo bem. Mas não se pode dizer que isso é ciência ou tem física quântica envolvida, como fazem", explica Gabriela.

No Brasil, a constelação familiar tem sido usada em processos jurídicos para criminalizar e punir mulheres em disputas familiares. Há casos graves, como o de quem sofreu violência doméstica, mas acaba passando de vítima a ré por argumentos tirados de sessões de constelação.

A prática tem sido usada para fazer com que a mulher peça perdão ao abusador. Isso é violência de gênero. Gabriela

No ano passado, a física respondeu a um chamado da Organização das Nações Unidas (ONU) para que fossem enviados relatos de problemas no Brasil a serem verificados pelo órgão internacional. Junto com outros três colegas, Gabriela escreveu um documento sobre o tema. Em outubro, a ONU publicou um artigo sobre o assunto, reconhecendo se tratar de prática que coloca em risco a segurança de mulheres e crianças.

Antes disso, em março do ano passado, a cientista também participou de audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Seu desejo agora é que o tema seja discutido num projeto de lei no Congresso.

Prêmio Inspiradoras | Categoria: Mulheres na Ciência

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Mariana Pekin/UOL
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Popularizando a ciência

Gabriela passou a produzir conteúdo para o YouTube em 2016, quando fazia doutorado na França. O canal que ela criou se chamava "França e Afins" e o objetivo era falar sobre cultura, a experiência de viver no país, além de dar dicas sobre como estudar fora do Brasil.

Dois anos depois, ela mudou o nome para "Física e Afins", que se tornou popular ao explicar a ciência por trás de vídeos que viralizaram na internet. Num deles, a pesquisadora mostrava sua reação frente a uma discussão entre uma psicóloga e um homem que se dizia coach quântico.

"Bibi é uma inspiração. Ela ajuda as pessoas a desenvolver o pensamento crítico, alertando contra as más práticas", diz a nutricionista Lorella Barbi, que é pesquisadora na Universidade de Lisboa e divulgadora de ciências no Instagram.

Para a colega, Gabriela tem ainda outro mérito: o de ser um exemplo de mulher na ciência, ocupando um espaço importante na sociedade e servindo de inspiração para outras. Hoje, o "Física e Afins" é conhecido como o maior canal de divulgação científica criado e produzido por uma mulher.

Assim como a Bibi, Lorella também sente na pele a discriminação. "A ciência é um meio praticamente dominado por homens. A mulher precisa se posicionar três vezes mais para ser ouvida", afirma.

De volta ao Brasil com planos para educação

Atualmente, a pesquisadora vive no Japão, mas está arrumando as malas para voltar ao Brasil junto com o marido japonês e o filho Umi, que nasceu em março. Na bagagem, transporta também muito estudo, pesquisa e experiências, como a de ter feito pós-doutorado e trabalhado no High Energy Accelerator Research Organization, o maior laboratório de física de partículas do Japão.

Além do Japão e da França, onde conquistou o título de doutora, Gabriela também passou por Portugal, o primeiro país onde estudou fora do Brasil. Na época, estava na graduação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e conseguiu uma bolsa para estudar na Universidade de Coimbra, conquistando diploma pelas duas faculdades.

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Prêmio Inspiradoras: Gabriela Bailas é finalista na categoria Mulheres na Ciência
Imagem: Mariana Pekin/UOL

A pesquisadora, no entanto, quase desistiu de seguir o caminho das ciências exatas aos 14 anos, quando estava num curso técnico em eletrônica. Na turma, só havia Gabriela e mais três garotas. "No primeiro ano, o professor me fez uma pergunta e eu não sabia a resposta. E ele falou: 'Está vendo? É por isso que mulher não tem que estar aqui, tem que fazer corte e costura'. Aquilo me deixou arrasada, mas meus pais me incentivaram a não desistir", conta.

Agora, o plano é inaugurar uma escola no Brasil que ensine ciência desde o ensino infantil.

O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. O foco está nas seguintes causas: enfrentamento às violências contra mulheres e meninas e ao câncer de mama, incentivo ao avanço científico e à promoção da equidade de gênero, do empoderamento econômico e da cidadania feminina.