Topo

Brasil tem aumento em todos os tipos de violência contra mulher

Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

De Universa, em São Paulo

20/07/2023 10h01

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quinta-feira (20) mostrou piora em todos os indicadores de violência contra a mulher em 2022.

Os registros de feminicídios aumentaram 6,1% em 2022. Foram contabilizados 1.437 registros policiais de homicídios de mulheres com motivações misóginas em todo o país. As tentativas de feminicídio também subiram: mais 16,9%, em relação ao ano anterior. O levantamento é feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em comparação a 2021, também cresceu o número de mulheres que procuraram delegacias para registrar a ocorrência de lesão corporal por misoginia ou violência doméstica. Foram mais de 245,7 mil notificações no país, um aumento de 2,9% em relação ao ano anterior.

O estado do Amazonas foi onde este índice mais cresceu, 92%. Já o Ceará teve a redução mais expressiva: conseguiu reduzir pela metade os boletins de violência doméstica —é o estado com o menor número de ocorrências, 24,7 registros para cada 100 mil mulheres.

Já Mato Grosso lidera o número de ocorrências, com uma taxa de 631,6 registros a cada 100 mil mulheres; no estado, houve um aumento de 2,6% de casos no último ano.

Juliana Martins, coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que os dados oriundos das polícias corroboram a pesquisa "Visível e Invisível", que o instituto divulgou em março deste ano — o estudo mostrou que mais de 18 milhões de mulheres haviam sofrido alguma forma de violência em 2022.

"Houve crescimento de todas as violências de gênero: feminicídio, lesão corporal dolosa, aumento das violências sexuais, stalking e violência psicológica", afirma a pesquisadora.

Ameaças a mulheres aumentaram 7,2% no país, totalizando 613.529 casos.

Os casos de perseguição (stalking) somaram mais de 53,9 mil registros. Já as notificações de violência psicológica totalizaram 24,3 mil ocorrências. Como são crimes tipificados recentemente, não houve comparação com anos anteriores.

Entre as hipóteses levantadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública para a piora dos indicadores está a redução de investimento em programas públicos de enfrentamento à violência contra a mulher.

"Na última década, houve o maior corte orçamentário do governo federal para a área da história. Sem recursos, não se faz políticas públicas. E os serviços que foram afetados pela pandemia permaneceram com funcionamento afetado", diz Martins.

Outro fator, analisa a diretora do Fórum, é o crescimento dos movimentos ultraconservadores com pautas antigênero. "Esse é um obstáculo relevante porque a pauta de igualdade de gênero se tornou um tema delicado de debate nas escolas", argumenta.

Por último, ela afirma que um movimento de "backlash", ou seja, reação em sentido contrário, explica o cenário de aumento a violações às mulheres e à população LGBT. "Tivemos o avanço de discussões relevantes para mulheres, como o MeToo, em que elas passaram a reconhecer muitos tipos de violência. Esses avanços geram mais uma reação, uma maneira de tentar restabelecer uma suposta superioridade masculina. O movimento 'redpill' e discursos de ódio reforçam e potencializam essas violências", afirma Martins.

Como denunciar violência doméstica

Se você está sofrendo violência doméstica, seja ela física ou psicológica, ou conhece alguém que esteja passando por isso, pode ligar para o número 180, a Central de Atendimento à Mulher. Funciona em todo o país e no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita. O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. O contato também pode ser feito pelo WhatsApp no número (61) 9610-0180. Para denunciar formalmente, procure a delegacia próxima de sua casa ou então faça o boletim de ocorrência eletrônico, pela internet.

Outra sugestão, caso tenha receio em procurar as autoridades policiais, é ir até um Cras (Centro de Referência de Assistência Social) ou Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) da sua cidade. Em alguns deles, há núcleos específicos para identificar que tipo de ajuda a mulher agredida pelo marido precisa, se é psicológica ou financeira, por exemplo, e dar o encaminhamento necessário.