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'Donas do chat': ela ajuda camgirls com depressão e as ensina a ganhar mais

Janaina Barbosa, 44, atua como camgirl e desenvolveu cursos para ajudar outras mulheres Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para Universa, em São José do Rio Preto (SP)

25/06/2023 04h00Atualizada em 26/06/2023 09h51

Exibir o corpo na internet via uma webcam vai muito além do show de exibicionismo online e do sexo virtual. É preciso estar preparado psicologicamente para toda essa exposição e mais do que isso, é preciso entender o que está por trás da profissão.

Aos 44 anos, a camgirl e consultora Janaina Barbosa, trabalha na área há pouco mais de duas décadas e viu a evolução e também a transformação desse mercado no país. Aliás, quando começou a trabalhar no ramo, Janaina recorda que quase não havia plataformas nacionais.

"Só existiam sites internacionais e quando se criou um brasileiro, ele era super hardcore, muito pobre de conteúdo e extremamente abusivo por expor as meninas como objetos de pouco valor", conta ela.

Naquela época, pouco se falava sobre o camming e as dificuldades enfrentadas pelas meninas que se aventuravam nesse universo. Janaína teve que aprender sozinha que a vida em frente às câmeras e também por trás delas não era fácil e o jogo de cintura seria sua maior arma - ainda que fosse demorar para conseguir entender isso e passar a ter o domínio total de suas ações.

"Com o tempo, entendi que não bastava expor o corpo em frente a uma câmera. Com meninas que se expõem demais, os clientes entram apenas para se masturbar e gastam pouco. Já quando você cria um perfil atraente, discreto e com fotos glamorosas o comportamento dos homens mudam e eles passam a ficar mais tempo nesses perfis", explica.

O pagamento é feito por minuto, por isso, a maioria dos atendimentos tem curta duração. O cronômetro, muitas vezes, fica visível na conversa.

Desgaste emocional

Numa indústria em que sucesso e, consequentemente, o retorno financeiro exigem consistência e acesso, o desgaste emocional das mulheres muitas vezes é deixado de lado fazendo com que muitas apresentem transtornos como burnout, crises de ansiedade e até mesmo depressão.

Janaina explica que quanto mais a camgirl se move, mais chance tem de chamar a atenção de clientes e fidelizá-los. No entanto, esse trabalho de estar sempre em movimento, criando conteúdos eróticos, pode se tornar exaustivo e até mesmo abusivo quando esses homens começam a tratar as camgirl como um objeto sexual com o dever de garantir a felicidade deles em troca de dinheiro.

"Muitos clientes fazem comentários extremamente pesados e permanecem poucos minutos ali conectados, até atingir o prazer apenas, e o retorno financeiro para a camgirl é baixíssimo", conta Janaina. "Essa situação pesa muito na cabeça da mulher que está ali trabalhando e muitas vezes o dinheiro não dá para pagar suas contas."

Para muitas camgirls conseguir encontrar o limite entre ganhar dinheiro e se sentir feliz sensualizando à frente da câmera pode ser uma tarefa difícil e até mesmo dolorosa.

Janaina trabalha há mais de 20 anos como camgirl Imagem: Arquivo Pessoal

Foi após ouvir diversos relatos de mulheres que pensavam em largar a profissão ou até mesmo já estavam em depressão que Janaina passou a conversar com elas e a ensinar como deveriam se posicionar diante das câmeras e nas conversas com os clientes para superar os transtornos. E claro, ter mais retorno financeiro.

"Eu ensino que a dona do chat é ela, e que ela não deve obediência ao cliente. Mas isso deve ser feito de forma delicada, são as rebeldes com luva de pelica", diz.

"Uma vez que essa mulher se empodera, impõe limites aos clientes e vira a dona da situação essa ansiedade e outros transtornos psicológicos melhoram", acrescenta.

Janaina afirma que essa mudança de comportamento das camgirls e, por consequência, do público, fez com que os sites que vendem conteúdo adulto também passassem por adaptações.

"Hoje isso mudou tanto que no principal site brasileiro é proibido colocar foto nua na capa", diz Janaina.

Tem prazer, mas muitos buscam diálogo

Apesar de a consultora afirmar que os chats são, em sua maioria, homens que procuram um prazer sexual rápido, ela garante que existem muitos clientes que acessam as plataformas para simplesmente conversar e serem compreendidos pela mulher que está do outro lado da câmera.

E saber dialogar com o cliente e entendê-lo em suas dores é algo ensinado por Janaina, que também dá dicas de como produzir boas fotografias e como se comportar na

Laís Souza é camgirl há cerca de cinco anos, após começar a vender fotos sensuais pelo Instagram Imagem: Arquivo Pessoal

frente da câmera. Ela criou três cursos de conexão emocional voltados para Camming, que já foi feito por cerca de 500 camgirls, de oito países.

"Eu sempre ajudei camgirls de graça e na pandemia muita gente precisou de ajuda, foi quando tive a ideia de materializar o que eu já fazia em três cursos. Neles abordo muito mais sobre comportamento de camgirls, como manter um diálogo interessante e como falar sobre o sexo", explica.

Um exemplo retratado aqui em Universa é o caso de Laís Souza, paulistana que teve burnout, mas conseguiu se recuperar e voltar a trabalhar com outra mentalidade.

Janaina afirma que um diálogo atrativo e interessante é o que mantém a maioria dos homens conectados por mais tempo e fazem com que eles voltem para novos encontros virtuais.

E, claro, esses encontros se tornam mais rentáveis porque além do tempo gasto em si se tornar maior, esses clientes costumam presentear mais as camgirls - seja em presentes virtuais através das plataformas ou até mesmo com pix, ou presentes enviados diretamente à camgirl.

"A maioria dos clientes chega em busca de sexo, mas ficam por conexão emocional. Eles passam a gostar muito mais dos chats com mulheres que impõe limites e que sabem conversar", finaliza a consultora.

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