Topo

'Continuo insegura com corpo, mas não me arrisco', diz Thay OG sobre lipo

Hysa Conrado

De Universa, em São Paulo

05/06/2023 04h00

Quando a função story do Instagram ainda nem existia, Thaynara OG despontou na internet mostrando o cotidiano como advogada e concurseira no Snapchat.

Hoje, aos 31, a maranhense de São Luís é uma das influenciadoras mais populares do país. Ela comanda o São João da Thay, evento beneficente em parceria com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), do qual é embaixadora. Além do trabalho social, é com a festa que ela celebra as raízes e expande a tradição junina do Maranhão.

Em entrevista a Universa, Thaynara relembra o sonho de ser defensora pública, o episódio em que correu risco de morte durante uma lipoaspiração e diz o que não pode faltar na sua festa de São João. Também revelou como se sente com o novo visual — ela trocou o castanho escuro pelo marrom dourado, coloração 7.7 da Niely Cor&Ton.

UNIVERSA: A Thay que começou como influenciadora em 2015 imaginava que teria um evento com o Unicef?
Thaynara OG: Naquela época, eu acompanhava quem surgia na internet e já tinha entendido a dinâmica. Todo mês aparecia alguém novo e, de repente, não se falava mais na pessoa. Eu tinha o seguinte plano: aproveitar os três meses que aquilo durasse, surfar na onda e depois fazer outra coisa. Então nunca imaginei que hoje seria embaixadora do Unicef, teria uma trajetória sólida e um nome bem posicionado no mercado.

Como surgiu a ideia de o São João da Thay ser um evento beneficente?
Quando a internet cruzou meu caminho, minha vida mudou de forma rápida e entendi que precisava retribuir de alguma forma. Sempre gostei de trabalho social, queria ser defensora pública. Por outro lado, cresci com o incômodo de ligar a TV e ver notícias ruins sobre o Maranhão, sempre associadas à pobreza. Isso me machucava. Daí surgiu a vontade de criar um evento que enaltecesse a cultura maranhense, mostrasse o potencial turístico do estado e, ao mesmo tempo, tivesse retorno social.

Que música, comida ou brincadeira não pode faltar no São João e traz memórias da sua infância?
Tem uma música muito emblemática nas toadas de bumba meu boi que é "Maranhão, meu tesouro, meu torrão / Fiz essa toada pra ti, Maranhão". Essa precisa ter todo ano nos arraiais. A primeira manifestação da cultura popular maranhense que dancei, ainda criança na escola, foi o cacuriá. Depois eu comecei a aprender o bumba meu boi. Sempre me apresentava como vaqueiro de fitas.

Quais suas inspirações para os looks deste ano para o São João da Thay?
Uma das roupas é inspirada na figura do boi do bumba meu boi. Aqui no Maranhão se usa um couro de veludo para fazer o couro do boi, que é bordado de acordo com o tema de cada ano. Vou fazer uma roupa inspirada nesse couro. Também vou fazer uma homenagem ao tambor de crioula, uma manifestação da cultura popular maranhense muito forte. A outra roupa é feita com material da fibra de buriti para prestigiar o artesanato maranhense.

Você já morou no Sudeste. Em algum momento as diferenças de tradições do São João chamaram sua atenção ou fizeram com que olhasse com mais carinho para suas raízes?
O Brasil é imenso e muita gente não sabe que só no Maranhão temos essa diversidade toda em único período do ano, que é o São João. Temos o bumba meu boi com cinco sotaques diferentes, o que pode mudar a indumentária e os instrumentos. É uma uma riqueza de detalhes. Quando vejo especialmente no Sudeste como se curte o São João, fico ainda mais inquieta para que se conheça o do Maranhão.

Você já se posicionou contra a xenofobia. Já precisou colocar limites em alguém por causa disso?
Já passei por algumas situações, especialmente por causa do sotaque. Fiz uma campanha e, na hora de gravar o off -- a voz que vai por cima do vídeo -- tinha um texto no qual eu falava "vitamina E". Se sou chamada para uma campanha como a Thaynara, vou levar o meu sotaque. Nós, maranhenses, falamos essa vogal aberta e a pessoa me corrigiu, como se eu estivesse falando errado. Foi uma situação chata. Falei: "Se vocês estão chamando a Thaynara, não vou falar 'vitamina ê'." Não tenho problema nenhum em me impor.

Ja passei pela situação de estar gravando em um lugar e ouvir a equipe falando "ah, fui para um restaurante, maior baianada", para dizer que só tinha gente à toa. Eu me tremi toda, mas terminei a gravação e depois deixei isso registrado, porque não podia. Também acontece a xenofobia velada, de você perceber que as pessoas sempre vão subestimar você, sua equipe, achar que vocês não são tão profissionais baseados no lugar de onde você vem.

Como você escolhe o projeto social que o São João da Thay ajuda a cada ano?
Busco instituições que tenham transparência e trabalho sério. Em 2019, tivemos o match com o Unicef e trabalhamos em cima do índice de mortalidade infantil no Maranhão, que é o segundo maior do Brasil.

É a primeira vez que você muda a cor do cabelo. Como está se sentindo?
Foi uma transformação não só externa, mas interna. Sempre fui um pouquinho insegura, não gosto de sair da zona de conforto. Por muito tempo fui a Thaynara com cabelo escuro, liso e comprido, e passar por essa transformação me fez descobrir uma nova Thay. É bom se amar de um jeito diferente e saber que pode ter pode ter várias versões.

Você passou por uma situação delicada ao fazer uma lipoaspiração e disse que se arrependeu. Como ficou a relação com o corpo após essa experiência?
Minha relação com o corpo sempre foi de altos e baixos. Hoje, depois de ter passado pelo que passei e também com a terapia em dia, tenho uma relação melhor. Continuo com inseguranças, mas não a ponto de me colocar em risco.

Não demonizo a cirurgia plástica, mas é preciso ter o cuidado de identificar de onde surgem as demandas. Crio conteúdo para a internet, mas também consumo muita informação. Tanto é que fui influenciada, fiz a técnica que me seduziu de tanto aparecer no meu feed.

Hoje, vendo o que passei, não teria me colocado naquela situação. Mas não demonizo a cirurgia plástica. Tenho silicone. O implante foi uma experiência tranquila, com o médico em quem confio, que tem credibilidade e uma carreira intacta. Isso melhorou a minha autoestima.

Você ainda tem o sonho de se tornar uma defensora pública?
Não. O que você leva para a vida toda é sua missão e vocação. Eu tinha uma vocação que me levou a focar naquele concurso da Defensoria. Hoje potencializei essa vocação porque consigo ajudar mais gente fazendo o trabalho como embaixadora do Unicef e tendo o São João da Thay.

Me sinto realizada. É como se eu fosse defensora, mas com alcance e poder de mobilização maiores. Fico feliz quando faço parcerias com a Defensoria Pública do Maranhão, eles têm o maior carinho por mim. Todas as campanhas em que precisam da minha ajuda, da minha voz, estou lá emprestando o meu rosto. Nessas horas, é como se eu realizasse aquele sonho do início.