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Sintomas da depressão pós-parto podem surgir já na gravidez. Entenda

Vesnaandjic/Getty Images
Imagem: Vesnaandjic/Getty Images

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa, em São Paulo

31/10/2022 04h00

A gravidez pode ser uma fase maravilhosa na vida da gestante ou, bem ao contrário, uma experiência que não merece lembranças. Estima-se que 25% das mães brasileiras desenvolvam um quadro depressivo durante o período e, apesar de comumente se falar sobre a depressão pós-parto, os sintomas podem surgir bem antes do parto ou puerpério.

O panorama também é conhecido como depressão perinatal ou gestacional, por isso, é importante compreender a diferença entre uma condição perinatal e outra depois parto, que se manifestam em momentos diferentes.

De acordo com a psicóloga perinatal parental Nara Anadão, professora da Estácio Maceió, a condição correspondente ao puerpério é sentida entre quatro a seis semanas após o nascimento do bebê, enquanto a perinatal começa ainda na gestação.

"A depressão periparto engloba os episódios que podem ocorrer na gestação e/ou pós-parto. Isso ocorre pois, muitas vezes, o diagnóstico só acontece no puerpério, mesmo que já houvesse manifestações durante a gravidez", explica a especialista.

Nara destaca que, na maioria dos casos, a depressão acaba não sendo diagnosticada por uma confusão com alterações comuns da gravidez. Afinal, cansaço, mudanças de humor, vontade de dormir e menor capacidade de pensar ou se concentrar são frequentes durante o período, da mesma forma que são doença.

Efeito colateral da romantização

"Vivemos em uma sociedade que romantiza a maternidade e estimula um padrão de 'mãe ideal', que já começa na gestação, com uma cobrança de que a mulher deveria estar feliz, satisfeita, bem-humorada e realizada durante essa fase", aponta a psicanalista Paloma Carvalhar.

Essa imagem idealizada da gestante cria um sentimento de frustração nas mulheres que não conseguem atingir esse ideal. Com isso, surge um conflito interno entre as expectativas e o que realmente está acontecendo.

Além do mais, existe um outro ponto importante nessa história: a sensação de luto. Apesar de pouco falado - afinal, como falar de luto num momento de nascimento? -, a psicanalista lembra que o sentimento pode estar presente nessas mulheres que se tornarão mães dentro de alguns meses.

"Essa mulher nunca mais vai deixar de ser mãe, portanto, sua versão anterior à gestação, que deixa de existir, também pode significar uma perda para ela, trazendo tristeza, insegurança e conflitos internos", diz Paloma.

Denise Suguitani, fundadora e diretora-executiva da ONG Prematuridade.com, lembra que, além de fatores clínicos, algumas questões sociais são capazes de aumentar o risco de desenvolver o transtorno durante a gravidez.

Dentre eles estão possíveis dificuldades financeiras, episódios de violência doméstica, o não planejamento da gravidez, a falta de ajuda e até mesmo um histórico prévio de depressão.

Como identificar

"Quando não tratada ainda durante a gestação, essa depressão periparto pode continuar no pós-parto, podendo, inclusive, agravar os sintomas, com sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada quase todos os dias, por exemplo", afirma a psicóloga Nara.

Por essa razão, é essencial estar atenta aos sinais durante os nove meses da gravidez. Caso alguns sinais sejam percebidos, é recomendada uma avaliação médica. Sendo diagnosticada, a depressão gestacional deve ser tratada, evitando uma continuação ou piora no puerpério.

Entre os sintomas para ficar de olho estão:

  • sensação de desamparo;
  • falta de esperança;
  • sensação de que não será capaz de cuidar do filho;
  • choros frequentes;
  • tristeza profunda;
  • irritabilidade;
  • falta de motivação para atividades que antes lhe davam prazer, realizar o pré-natal e planejar a chegada do bebê;
  • alterações bruscas no humor ou no sono;
  • comportamentos que podem prejudicar a gestação, como uso de drogas ou álcool.

Já no pós-parto, outros sintomas são acrescentados à lista. "Agitação ou retardo psicomotor, humor deprimido na maior parte do dia ou até mesmo o cuidado excessivo com a criança, como se apenas a mãe conseguisse cuidar e atender as demandas do bebê, são alguns deles", cita Nara.

Tratamento e apoio

Para lidar com a depressão perinatal, a busca por apoio é o primeiro passo. Além de uma rede de apoio fortalecida e disposta a acolher e colaborar com a mãe, a psicanalista Paloma reforça a importância de um acompanhamento psicológico. "Procurar a terapia para lidar com seus dilemas, seus medos e suas novas questões certamente vai ajudar essa mãe a lidar melhor com essa fase", assegura.

Inclusive, esse tratamento profissional pode envolver uma equipe multidisciplinar, contando ainda com psiquiatras, caso seja necessário medicar a gestante. "Validar o que a pessoa está sentindo e ser acompanhada por um profissional qualificado em saúde mental ajuda demais no enfrentamento desta situação", afirma Nara.

Sabe-se que, quando a maternidade surge, automaticamente cria-se (ou deveria ser criada) uma rede de apoio junto dela. Nesta fase, a mãe precisa de pessoas dispostas e capacitadas a ajudá-la com as novas demandas.

Assim, além do(a) parceiro(a), que deve dividir as mesmas obrigações, a família, pessoas próximas e até colegas de trabalho exercem esse papel de apoio com o bebê.

Contudo, do mesmo modo que essa rede colaborativa pode ajudar bastante, a falta dela costuma impactar negativamente o momento. Segundo a psicanalista Paloma, a relação da mãe com o pai do seu filho, bem como sua estrutura familiar, são fatores capazes de contribuir ou influenciar na depressão gestacional.

"Ter uma rede é fundamental para reduzir a sensação de solidão e desamparo. Com outras gestantes e mães, por exemplo, gera identificação e troca de experiências. Enquanto a rede de apoio familiar faz com que essa mãe se sinta cuidada, amada e acolhida", indica a profissional.