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Assédio na Caixa: 'Palavra de vítimas precisa ser respeitada', diz advogada

                                 Pedro Guimarães se aproximou de Bolsonaro durante seu governo                        -                                 ISAC NOBREGA
Pedro Guimarães se aproximou de Bolsonaro durante seu governo Imagem: ISAC NOBREGA

De Universa, do Rio de Janeiro

26/10/2022 14h58

Após o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) falar em entrevista ao Portal Metrópoles não existir "nada de contundente" nas denúncias de assédio sexual e moral contra o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, a advogada das vítimas Soraia da Rosa Mendes decretou: "estaremos na assistência da acusação em busca por justiça para as vítimas cuja palavra e dignidade precisam ser respeitadas." No último dia 21, a instituição confirmou o encerramento das investigações internas sobre as denúncias, e que as conclusões foram enviadas aos "órgãos competentes".

Em junho deste ano, funcionárias relataram toques indesejados e convites inapropriados de Guimarães em eventos, gabinetes, garagem e dentro de carro da instituição. Ele foi exonerado da presidência da Caixa no dia 29 daquele mês.

Guimarães assumiu a presidência da Caixa em janeiro de 2019, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Hoje é alvo de três denúncias de assédio sexual e nove de assédio moral. No fim de setembro, o MPT (Ministério Público do Trabalho) pediu que a Justiça condene Guimarães a pagar R$ 30,5 milhões pelos crimes citados aos funcionários do banco.

"Indignação e revolta ao minimizar a dor das vítimas"

Na entrevista citada, Bolsonaro afirmou que não teve contato com acusações concretas contra Guimarães e apenas depoimentos de "pessoas que se sentiram assediadas".

"Não faço parte do Poder Judiciário. Agora, não vi nenhum depoimento mais contundente de qualquer mulher. Vi depoimento de mulheres que sugeriam que isso poderia ter acontecido. Está sendo investigado também", disse.

Diante de sua fala, as advogadas Soraia da Rosa Mendes e Ana Maria Martínez emitiram carta aberta em nome das vítimas que diz ser "estarrecedor que para o mandatário da nação não sejam contundentes atos relatados e atribuídos ao presidente de uma instituição do porte da Caixa, que deveria ter instrumentos de controle e governança eficientes, consistentes em violações profundas aos corpos, às imagens e à intimidade de servidoras do órgão."

No texto, elas falam ainda "ser motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para 'massagens', 'banhos de piscina' ou idas a 'saunas' sejam naturalizados e tidos, repetimos, como 'não contundentes' pelo chefe do Poder Executivo.

As advogadas falam ainda em motivo de "indignação e revolta que, ao minimizar a dor e o sofrimento já expressos em inúmeros depoimentos perante a Corregedoria da Caixa, o Ministério Público do Trabalho e, no âmbito criminal, o Ministério Público Federal, as vítimas tenham sua palavra posta em dúvida em contribuição ao processo de revitimização que um presidente da República deveria ter como compromisso combater."

E terminam a carta devolvendo a pergunta a Bolsonaro:

"Seria contundente, senhor presidente da República, se o fato ocorresse com sua esposa ou filha? Acreditamos que sim. Pois saiba que além de mulheres, também somos esposas, filhas, mães e profissionais que foram abusadas, lesadas e agredidas pela conduta de alguém que deveria ser líder, mas que optou por ser algoz. E, assim como em suas duras e desprezíveis palavras, fomos desacreditadas e relegadas à nossa própria sorte pela instituição que deveria garantir nossa integridade."

"Mas não nos calamos e não iremos nos calar. A verdade, apenas a verdade, é suficientemente contundente para fazer justiça e para que outras mulheres não sofram o mesmo que nós."

Em nota enviada ao UOL em agosto, a defesa de Pedro Guimarães informou que ele jamais tomou conhecimento das acusações e nega taxativamente ter praticado ou estimulado qualquer ato de abuso, irregularidade ou ilegalidade. "Por isso, está convicto de que apurações de qualquer natureza, sejam internas ou externas, vão concluir pela correção de seu comportamento."