Topo

'Ouvi que ninguém gosta de comida saudável; hoje faturo R$ 3 milhões'

Maria Elza fundou a LifeMe, de produtos saudáveis, e administra a empresa ao lado da sócia, Tatiana  - Silvia Espeschit/Divulgação
Maria Elza fundou a LifeMe, de produtos saudáveis, e administra a empresa ao lado da sócia, Tatiana Imagem: Silvia Espeschit/Divulgação

Caroline Marino

Colaboração para Universa, em São Paulo

10/10/2022 04h00

Apesar de boa parte da família trabalhar no setor público, a mineira Maria Elza Starling Franco, 32 anos, sempre pensou em empreender. Formada em engenharia química, ela planejava algo diferente para a sua carreira, com mais autonomia e alinhamento com seus propósitos. Até que, ao terminar a faculdade, onde vendia bombons para ter uma renda extra, descobriu uma grave intolerância à lactose que a fez mudar seus hábitos alimentares.

"Como sempre gostei de cozinhar, comecei a preparar minhas refeições com os ingredientes indicados pela nutricionista e, em uma das consultas, em 2015, ela sugeriu: 'Por que não começa a vender o que prepara?'", lembra. Segundo Maria, aquele foi o início da LifeMe, empresa que comercializa comidas práticas e saudáveis.

O primeiro passo foi a elaboração das receitas e, com um investimento de R$ 700, ela iniciou o negócio na cozinha de sua casa e passou a vender para amigos e familiares. Além disso, realizou degustações em feiras, eventos e academias para divulgar os produtos e ter o feedback dos possíveis clientes.

O começo não foi fácil e a empreendedora precisou lidar com a descrença de muitos. "Me lembro de ouvir frases como 'Mas estudou tanto para fazer bolo?" ou "Ninguém gosta de comida saudável'", diz. Porém, isso nunca abalou Maria, que seguiu em frente. "Não ligava, pois acreditava na minha empresa e tinha força de vontade de fazê-la crescer. Quando você acredita em algo, ninguém pode te dizer o contrário", afirma.

Hoje, os produtos da LifeMe, que vão de hambúrgueres e pães a doces, salgados e lanches —todos sem glúten, sem lactose, preparados com 100% de farinha integral, com fibras e grãos, e sem gordura nem açúcares refinados—, estão presentes em mais de 500 pontos de venda, como St Marche, Santa Luzia e Mundo Verde.

Em 2021, a marca alcançou o faturamento de R$ 3 milhões e, este ano, a perspectiva é de um aumento de 30%. Entre os planos da empresa está o lançamento de produtos saudáveis para as crianças.

Da cozinha pequena ao galpão industrial

Para chegar ao patamar atual, Maria conta que muitos passos foram dados, sempre com cautela e de acordo com o crescimento e o lucro da companhia. Quando a demanda começou a aumentar, por exemplo, ela decidiu alugar uma cozinha pequena, com cerca de 20 m², e contratar uma funcionária. "Já não dava mais para ficar na minha casa e sabia que o negócio tinha chance de crescer. A aceitação era boa e poderia, sim, fazer daquilo o negócio da minha vida", diz.

Com o aumento da procura e o retorno positivo dos clientes, dois anos depois, a empreendedora decidiu abrir uma fábrica, contratar uma equipe e montar um galpão industrial.

Mas, para dar conta de toda a operação, ela sabia que precisava de uma sócia, alguém para ajudá-la com a gestão e o crescimento. "Eu entendia das receitas, dos produtos e do estoque, mas não da parte financeira e de pessoas", diz.

Na época, a mineira Tatiana Veloso Franco, 41 anos, que era sua cunhada, estava mudando para Belo Horizonte e se propôs a ajudá-la a organizar essa parte. "Lembro que anotava tudo em um caderninho e cheguei a usar um sistema, mas que não era completo o suficiente, pois só controlava as vendas", afirma.

Deu tão certo que Maria convidou Tatiana para ser sua sócia. Segundo ela, a escolha se baseou na confiança e no fato de as duas se complementarem. "Eu cuido de toda a parte de produção, matéria-prima e estoque, e Tati do financeiro e do pessoal. É o casamento perfeito." Foi aí que a empresa decolou.

'Aprendemos na raça mesmo'

Dificuldades vieram com o crescimento, é claro, mas Maria ressalta que empreender é isso: errar, tentar e aprender com os obstáculos. Ela dá um exemplo. "No início, com o crescimento, não tínhamos tanta experiência no processo de envio, como prazo de entrega e tempo de transporte, e já mandamos cargas que tiveram de voltar, pois a loja não estava aberta ou o produto não chegaria de acordo com as normas de qualidade por causa do tempo de transporte", conta. "Aprendemos na raça mesmo", completa.

Segundo ela, um pilar muito importante nesse sentido é a troca de ideias e experiências com colegas do mesmo setor. "Muitos nos ajudaram no percurso e levamos isso ao nosso modo de trabalhar. A colaboração é essencial; somos parceiros, não concorrentes."

Além disso, ela destaca mais três pontos importantes para o sucesso da LifeMe. O primeiro é ter uma equipe comprometida e que acredita na empresa. "O time é crucial. Por isso, sempre buscamos pessoas que vestem a camisa do negócio e que se identificam com o produto, o que ajuda muito nas vendas", diz.

O segundo é o perfil de quem empreende. "O empreendedor deve ter muita resiliência e força de vontade. Essas características ajudam a abrir caminhos e a não desistir diante das dificuldades, pois elas existem. O segredo é saber enfrentá-las e ter disposição de resolvê-las para continuar. Tem que amar muito."

Tão importante quanto esses pilares, é manter a essência caseira da empresa com o crescimento. Atualmente, 16 pessoas trabalham na operação, que produz 20 mil itens por mês. Há uma máquina de coxinha, por exemplo, um dos carros-chefes do negócio, mas a mandioca chega crua, é cozida e recebe o tempero da marca. As máquinas cuidam das embalagens, expedição e finalização.