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Empresária cria técnica de depilação para pele negra e fatura R$ 300 mil

A paulistana Zarah Flor Rizzo iniciou empreendimento com R$ 500 - Arquivo pessoal
A paulistana Zarah Flor Rizzo iniciou empreendimento com R$ 500 Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Universa, de Recife

09/05/2022 04h00

Moradora do Jardim Miriam, periferia de São Paulo, Zarah Flor Rizzo, 36 anos, decidiu ter um negócio próprio após sofrer racismo em processos seletivos. Foi "com a cara, a coragem e R$ 500" rumo à abertura de uma clínica de estética que oferecesse um diferencial para pessoas negras.

Após meses de testes com amigos e familiares, Zarah desenvolveu uma técnica de depilação a laser específica para a pele negra, indolor e sem deixar manchas. A empresa com sede na Bela Vista, na capital paulista, cresceu e ganhou uma filial em Copacabana, no Rio de Janeiro. Atualmente, a Zarah Flor Estética e Laser fatura R$ 300 mil ao ano, emprega pessoas negras e dá descontos para pessoas trans.

"No começo, em 2016, foi muito difícil encontrar materiais de estudo com essa especificidade. Portanto, é uma vitória poder atender a população negra e compreender quais são as demandas desse público", diz a empresária, formada em estética e cosmetologia.

Sem recursos para montar equipe, trabalhou sozinha por três anos. Quando engravidou, em 2019, contratou a primeira colaboradora para auxiliá-la e ajudar nos procedimentos.

Diagnóstico de câncer veio no dia de assinar contrato

Em 2020, Zarah foi surpreendida por um diagnóstico de câncer de mama. A notícia, conta ela, chegou no dia de assinar o contrato de locação do espaço onde ela abriria a primeira clínica. Ela e o marido venderam o carro e os equipamentos dele de DJ, e assim conseguiram levantar dinheiro para investir em um lugar maior e contratar parceiros.

Passei por todo processo de tratamento e fiz cirurgia para retirada da mama. Fiquei um ano em tratamento, sem poder trabalhar. Meu marido contratou funcionárias, administrou a empresa e me deu todo apoio para não desistir do meu sonho.

Recuperada, a empresária retomou a rotina, os estudos e os experimentos. O laser depilador indolor e que não deixa marcas em pessoas negras foi aperfeiçoado. Ela assegura que o procedimento é seguro quando realizado por profissionais capacitados. "Ele emite um comprimento de onda específico em que o alvo é o pelo. O mecanismo é capaz de distinguir o que é pelo e o que é pele. Após a depilação a laser, a pele negra adquire um aspecto bem cuidado, lisinho e sem manchas."

Mas como diferenciar as técnicas para peles claras e peles negras? A especialista explica que, durante a depilação com laser convencional, o laser é atraído pela melanina, que é o pigmento presente nos pelos e na pele, sem distinção entre um e outro. Por essa razão, no caso de peles negras e morenas, que têm muita melanina, os lasers convencionais podem causar queimaduras, dores e desconfortos.

A pele negra mancha com mais facilidade do que a pele branca, devido à maior presença de melanina, explica Zarah. "A maior diferença é que temos de ter o maior cuidado com a pele negra para atingir somente os pelos e não a pele. A programação do laser e o modo de aplicação têm um diferencial em que entra o protocolo que eu desenvolvi", ressalta.

Na técnica criada, o laser emite um feixe de luz que é disparado e guiado mais profundamente na melanina do pelo, sem dispersar e distribuindo pouco calor na superfície da pele. Esse foco mais seletivo no pelo causa a destruição do folículo piloso através do aquecimento de suas estruturas.

"Tanto para pele negra quanto para a branca, o laser proporciona um tratamento super confortável, por possuir um sistema único de resfriamento que gera um efeito anestésico e protetor na pele durante a aplicação", completa.

Embora o negócio tenha um diferencial para a pele negra, as profissionais atendem todos os tipos de pele e gêneros. A empresa se orgulha de ter uma equipe multidisciplinar, além de oferecer um atendimento mais acolhedor.

A analista de comércio exterior Camila Hora, 32, mora em Portugal, mas não encontrou na Europa um tratamento semelhante ao oferecido pela especialista. Ela lembra que o procedimento realmente é indolor.

"Tive uma experiência em outra clínica em que o procedimento doía muito e eles falavam que era normal. Quando entrei em contato com a Zarah, ela me explicou que não havia nada de normal sentir dor durante o procedimento. Assim que entrei em contato já pude sentir a segurança que ela passa com o seu trabalho. Fiz um tratamento de 12 sessões, sendo uma a cada 20 ou 30 dias, e hoje não tenho mais pelos."