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Petrópolis: Menina desabrigada ganha festa de aniversário com nove bolos

Luiza Souto e Zô Guimarães

De Universa, em Petrópolis (RJ)

24/02/2022 04h00

Em meio à tragédia que castiga Petrópolis desde a última terça-feira (15), uma boneca chamada Sophia Maria e nove bolos fizeram a menina Marcelly Rosa, de 6 anos, esquecer por um instante que sua casa, no bairro de Floresta, corre o risco de desabar. A chuva que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro já deixou mais de 200 mortos e cerca de mil desabrigados.

"Não sobrou nenhum bolo, mas amanhã tem mais", avisou a menina à reportagem de Universa, que a visitou na Escola Municipal Duque de Caxias, em Quissamã, onde ela e mais de 60 pessoas —sendo 29 crianças— estão abrigadas há mais de uma semana.

Os doces e o brinquedo foram doados por voluntários que ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade no nono município mais populoso do Rio (cerca de 307 mil moradores), segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

 Marcelly Rosa ganhou uma festa de aniversário em meio à tragédia de Petrópolis - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A jornalista Nathália Yori (dir) organizou uma festa para crianças desabrigadas após chuva em Petrópolis
Imagem: Arquivo pessoal

Entre eles está a jornalista e publicitária Nathália Yorio, 33 anos. Ela diz que soube do aniversário de Marcelly por amigos da academia onde treina: a tia da criança é faxineira no local e comentou sobre a data, em meio a um momento tão trágico. A história se espalhou nas redes sociais e até agentes da Polícia Federal apareceram na escola com bolo e presentes, segundo a diretora da unidade, Cátia Gorges, 45 anos. E as doações não pararam de chegar durante todo o dia.

"Acho que para a Marcelly a festa foi uma fuga, uma ajuda para esquecer tudo aquilo que ela viu. Pela primeira vez, teve um aniversário diferente, com muita gente reunida e presentes. Ela estava radiante com tudo aquilo", descreve Nathália, que organizou os enfeites, os doces e levou três bolos feitos por amigos.

 Marcelly Rosa ganhou uma festa de aniversário em meio à tragédia de Petrópolis - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Adriana Rosa é mãe de Marcelly, de 6, e Tifany, 9
Imagem: Zô Guimarães/UOL

"Às vezes, a gente só precisa de um abraço"

Era fim de tarde de terça (15) quando a faxineira Adriana de Souza Veríssimo Rosa, 25 anos, viu uma parte da casa de uma tia desabar na sua frente. Assim que levou a caçula Marcelly, de 6 anos, e a filha mais velha Tifany, de 9 anos, para a rua, caiu todo o restante do terreno.

"Quando a água chegou à minha casa, a enxurrada desviou. Mas ela foi considerada área de risco", conta.

No momento em que presenciou os desabamentos, Marcelly se desesperou e gritou pelos familiares. Ninguém saiu ferido, e a família se abrigou numa garagem. No dia seguinte, seguiu para a escola, onde estão com mais famílias.

As doações não param de chegar, mas, apesar da solidariedade, Marcelly acordou no dia do seu aniversário, às 5h, com crise de ansiedade, perguntando para a mãe se não teria uma festa. A dupla se entristeceu ao perceber que a data passaria em branco, até que os primeiros doces começaram a aparecer.

"Foi muita doação e, no total, contei nove bolos. Ainda montaram uma mesa com docinhos no refeitório", descreve Adriana.

Segundo Nathália, é exatamente a quantidade de comida que chega na escola que ameniza o clima para as crianças.

"Elas falam que estar na escola é muito bom porque conseguem tomar café da manhã, almoçar e jantar. Muitas não tinham isso na vida, o que me fez entender que a tragédia dessas pessoas está anunciada há muito tempo", constata a jornalista.