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Dono de lava jato suspeito de filmar funcionárias no banheiro é preso em MG

Câmeras eram usadas para filmar funcionárias em banheiro - Reprodução/TV Globo
Câmeras eram usadas para filmar funcionárias em banheiro Imagem: Reprodução/TV Globo

Juliana Siqueira e Daniela Mallmann

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

09/03/2021 11h13Atualizada em 09/03/2021 16h54

Um homem de 53 anos, dono de um lava jato no bairro Buritis, em Belo Horizonte (MG), foi preso ontem, no Dia Internacional da Mulher, suspeito de instalar câmeras no banheiro feminino do local para filmar as funcionárias. Uma das câmeras foi encontrada ao lado do vaso sanitário pela perícia da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).

De acordo com o boletim de ocorrência, 12 mulheres prestaram depoimento na delegacia e relataram episódios em que já teriam sofrido assédio sexual, mas eram ameaçadas de demissão quando questionavam as atitudes do chefe. Porém, ontem, uma delas descobriu uma câmera no teto do banheiro ao ligar a lanterna do celular e junto com as outras testemunhas realizou a denúncia.

Ainda de acordo com a vítima que descobriu a câmera, ela já desconfiava que filmagens eram feitas no local, pois o proprietário havia dito que sabia quando as funcionárias estavam menstruadas, se estavam usando calcinha fio-dental e qual era a cor da peça íntima. Além disso, ele teria chamado as mulheres de "gostosa" em várias ocasiões.

lava jato - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Dono da lava-jato foi preso em MG
Imagem: Reprodução/Instagram

Uma das funcionárias, Valdenice Silva Santana, que trabalhava no local há cerca de oito meses, relatou a Universa que era vítima constante de assédio por parte do empresário.

"Ele me chamou no escritório dele para uma reunião onde eu seria promovida. Em uma das entrevistas, onde ele me colocaria como encarregada de supervisão, estávamos só nós dois — ele liberou todo mundo mais cedo porque não tinha movimento — e ele chegou a me elogiar falando que eu estava linda, que adora meus cachos. Ele falou que o sonho dele era me ter na cama dele, e aí eu fiquei constrangida e falei para ele: 'vamos focar no que é importante'", desabafou Valdenice

Segundo a funcionária, não era apenas ela que era vítima dos assédios cometidos pelo homem.

"A gente já estava sofrendo assédio, incluindo tapa na bunda. Às vezes a gente estava aspirando os carros, e ele chegava e encostava na gente fingindo que era sem querer, fazia umas brincadeiras e encostava as partes dele na perna da gente", acrescentou.

Outra funcionária do local alega que o homem costumava fazer brincadeiras de cunho sexual e já teria, inclusive, feito um convite para que eles tivessem relações íntimas. Uma terceira vítima, por sua vez, afirma que o proprietário do lava-rápido teria oferecido R$ 2 mil para que ela e a esposa ficassem com ele, o que foi negado.

A perícia da Polícia Civil esteve no local e encontrou três câmeras: além das que estavam no teto e ao lado do vaso sanitário, outra estava posicionada atrás da porta de entrada do banheiro.

O suspeito afirma que o local utilizado pelas vítimas era, inicialmente, para ser o almoxarifado. Ele ainda alega que não tem acesso às imagens, pois não conseguiu pagar pelo serviço.

O caso foi encaminhado para a Delegacia de Plantão de Atendimento à Mulher, que vai investigar as denúncias.

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.