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'Estou em pedaços', diz mãe de adolescente encontrada amarrada em árvore

Ana Kemilli foi encontrada sem vida e amarrada em árvore em Campo Belo do Sul - Arquivo Pessoal
Ana Kemilli foi encontrada sem vida e amarrada em árvore em Campo Belo do Sul Imagem: Arquivo Pessoal

Hygino Vasconcellos e Luan Martendal

Colaboração para Universa, em Chapecó (SC) e Florianópolis

12/02/2021 15h15Atualizada em 13/02/2021 08h40

A mãe da adolescente encontrada morta e amarrada a uma árvore fez um desabafo nas redes sociais na noite de ontem, um dia após o corpo de Ana Kemilli, 14, ser localizado em uma mata. Na mensagem, Keli Taques disse que não tinha mais lágrimas ou forças por tudo que aconteceu e lamentou não ter "ido logo" procurar a filha. O crime ocorreu em Campo Belo do Sul, cidade de pouco mais de 7.000 habitantes na serra catarinense.

Segundo o MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), a adolescente morreu estrangulada. A Justiça ainda determinou a internação provisória do adolescente de 15 anos suspeito de participação no crime, pedida pela Polícia Civil, mas remetida à Justiça pelo MPSC (Ministério Público De Santa Catarina), que fez a representação depois que o suspeito confirmou, em depoimento na tarde de ontem, ter participado do crime.

Nas redes sociais, a mãe de Ana Kemilli salientou que, ao invés da mensagem de luto, queria colocar na foto "uma legenda feliz".

"Minha filha, eu não consigo me conformar, eu não consigo acreditar. Eu tinha tanto para te falar, tanto para conversar, tantos abraços para te dar, tantos beijos, minha filha. Tanto amor que não cabe no peito. Estou pedindo forças, consolo e perdão por não ter dado 100% de mim como mãe. Só eu sei o quanto está doendo. Eu amo tanto, tanto você, nega. Eu estou em pedaços, mas Deus irá receber você de braços abertos minha menina", disse a mãe da menina nas redes.

Eu já ñ tenho mais lágrimas e as ñ tenho forças td oq eu mais queria era colocar em sua foto uma legenda feliz mais Deus...

Publicado por Keli Taques em Quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Por telefone, Keli contou para Universa que a filha saiu de casa às 17h30 e que não se preocupou com a demora dela, já que estava planejado de Ana Kemilli ir à casa do seu pai, próxima da residência da mãe. "O pai achou que ela estivesse comigo." Despreocupada, a mãe chegou a tirar um cochilo com o filho de três meses. Por volta das 21h, a madrasta da menina mandou mensagem. A partir dali, começaram as buscas.

"Até o ultimo minuto tinha esperanças de que ela estivesse viva, que ela tivesse sido levada para algum lugar, estivesse em cativeiro", conta Keli.

Vizinhos, amigos da família e até desconhecidos deram início às buscas. A mãe da adolescente reclama da demora da polícia e dos Bombeiros para se deslocarem até o local, a 20 km do centro da cidade. "Eu comecei a ligar às 23h e só foram aparecer por lá às 11h do outro dia", reclama.

Keli conta que foi contida por outras pessoas para não ver o corpo da filha amarrado na árvore. "Eu entrei em estado de choque. Eu falava que não era ela", conta a mãe, com a voz embargada.

Horas após o enterro, Keli ainda se questiona o que teria motivado o crime. "A gente fica tentando achar motivo, razão para isso. Ela não tinha inimigos. Ela era maravilhosa, fiquei comovida porque era querida por todo mundo. Era alegre, divertida, brincalhona e ajudava a cuidar do irmãozinho."

Moradores fazem protesto

O corpo de Ana Kemilli foi liberado na noite de ontem por volta das 22h para o velório. Naquele momento, amigos e familiares fizeram um protesto e carregaram cartazes pedindo justiça, a pé e de carro, debaixo de chuva. Em seguida, o grupo foi em direção à capela mortuária.

No momento em que o caixão foi retirado do carro da funerária, muitas pessoas começaram a chorar. O sepultamento da adolescente ocorreu na manhã desta sexta.

'Era amiga de todos', diz professora

Na manhã de hoje, houve comoção no velório. Os professores da Escola Estadual Básica Major Otacílio Couto, onde Ana Kemilli estudava, levaram flores e confortaram familiares e colegas de classe da adolescente.

De acordo com a diretora da escola, Danielle Pucci Branco, que também lecionava artes para a menina, mesmo estudando de forma remota desde o ano passado, Ana Kemilli era muito querida por todos e comprometida com os estudos, tendo sido aprovada para o 8º ano do ensino fundamental. As lembranças que ficarão dela são de uma aluna esforçada e criativa.

Corpo foi encontrado em matagal no interior de Campo Belo do Sul - Corpo de Bombeiros/Divulgação - Corpo de Bombeiros/Divulgação
Bombeiros realizaram buscas e localizaram corpo da garota em mata
Imagem: Corpo de Bombeiros/Divulgação

"A Ana era muito comunicativa, amiga de todos, esforçada. Ela era tranquila e, ao mesmo tempo, como toda menina nessa idade era sapeca, alegre e cheia de vida. Assim vamos lembrar dela, como uma ótima aluna", recorda.

Segundo a professora, o adolescente que confirmou à polícia participação na morte não era aluno da instituição. "Não existe motivo que justificasse o que fizeram. Para toda a comunidade é um momento muito forte, chocante, porque ela tinha a vida toda pela frente. A cidade inteira está indignada e o que todos queremos hoje é justiça", completa Danielle.

Segundo a polícia, o adolescente não agiu sozinho e pelo menos um adulto também é suspeito do assassinato.

"Nós já descobrimos o envolvimento de um maior de idade na morte de Ana Kemilli, mas não podemos passar mais informações para não prejudicar as investigações. De momento, a Justiça aceitou nosso pedido de internação do adolescente e nesta tarde ele fez o exame de corpo de delito para seguir para a internação", afirma o delegado.

De acordo com as medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente para casos como esse, onde ainda não há sentença, o prazo de internação provisório inicial pode ser determinado pelo prazo máximo de 45 dias.