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Ex dá entrevista para TV antes de se entregar e confessar assassinato no ES

Luana Demonier, de 25 anos, foi morta no ES - Reprodução/Facebook
Luana Demonier, de 25 anos, foi morta no ES Imagem: Reprodução/Facebook

Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL, em Vitória (ES)

11/02/2021 11h34

O suspeito de matar a facadas Luana Demonier, de 25 anos, em Cariacica (ES), deu uma entrevista para uma emissora de TV afiliada do SBT no Espírito Santo, antes de se entregar à polícia, ontem à tarde. Segunda a delegada responsável pelo caso, ele acabou confessando o crime em depoimento.

Na gravação à TV Tribuna, feita por um jornalista da emissora, o suspeito Rodrigo Pires Rosa, de 38 anos, disse que há quase um ano ele perdeu a filha que teve com Luana, um bebê de cinco meses, e que a criança estava com saudade da mãe e "chamava por ela" (veja abaixo).

"A minha filha estava sempre chamando há dias e dias a mãe dela. A mãe dela foi agora para onde a minha filha está. Ela [a filha] faleceu tem nove meses e chamava todos os dias pela mãe dela. Agora a mãe dela foi pra lá, cuidar dela", disse Rodrigo, na entrevista.

coringa - Reprodução/TV Tribuna/SBT-ES - Reprodução/TV Tribuna/SBT-ES
Roberto Pires confessou o crime, segundo a delegada responsável pelo caso
Imagem: Reprodução/TV Tribuna/SBT-ES

Em outro trecho da entrevista, o suspeito foi questionado se teria assassinado Luana. Rodrigo afirma que tinha sido o personagem 'Coringa', inimigo do Batman. "Foi o Coringa. Eu não sei como aconteceu, mas foi o Coringa, do Batman, Cavaleiro das Trevas. Ele tem que pagar", finalizou o suspeito.

Por medida de segurança, o jornalista responsável pela gravação, preferiu não ser identificado. Ele contou que chegou para trabalhar ontem à tarde e foi abordado pelo homem que estava na recepção querendo falar com alguém da TV.

"Ele disse que queria sugerir uma reportagem. Chegou a dizer que era sobre um homicídio que tinha acontecido na noite passada. Eu entrei, deixei as minhas coisas e voltei para conversar com ele. Até então não sabia quem era ele, até contar sobre a morte da filha", relatou o jornalista, ao UOL.

Depois da entrevista, jornalistas da emissora orientaram Rodrigo, a ir até uma delegacia mais próxima. Ele se apresentou no Departamento de Polícia Civil na Praia do Canto em Vitória e depois foi encaminhado para a DHPM (Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher).

Em depoimento, inicialmente ele sustentou a mesma versão contada na TV, de que o autor do crime não tinha sido cometido por ele e sim pelo personagem. Segundo a delegada do caso, Raffaela Aguiar, o suspeito depois acabou confessando ter assassinado a ex.

"Quando ele chegou para o interrogatório, disse que já tinha uma mandado de prisão em aberto, mas contou que era o 'Coringa' que tinha matado a mulher. Depois em conversa ele confessou, mas alegou que não se lembravam do momento exato do crime", explicou a delegada.

'Crime cruel', define delegada

Em coletiva de imprensa na tarde de ontem, a Polícia Civil divulgou um vídeo de uma câmera de segurança, onde mostra Rodrigo perseguindo a ex e depois quando a esfaqueia. Nas imagens é possível ver ainda o homem fugindo do local.

delegada - Reprodução de vídeo - Reprodução de vídeo
Luana Demonier, 25, foi morta a facadas quando voltada para casa do trabalho, em Cariacica (ES)
Imagem: Reprodução de vídeo

A delegada responsável pelo caso, disse que esse foi uma dos crimes mais cruéis que ela já teve acesso na delegacia. "Dos últimos crimes que nós apuramos com acessos àquelas imagens, foi um dos mais cruéis que a gente na delegacia tivemos acesso", frisou Aguiar.

As informações repassadas à Polícia Civil, dão conta de que no mesmo dia do crime, Rodrigo chegou a ameaçar Luana em uma rua próxima à casa dela. A jovem acionou a Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar que esteve no local para dar segurança à vítima.

O suspeito já responde a oito inquéritos por violência contra a mulher. O processo está na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Cariacica. A jovem de 25 anos, antes de ser morta, já tinha uma medida protetiva contra o homem.

Em dezembro do ano passado, três mulheres que tiveram relação com Rodrigo - inclusive Luana - deram entrevista para a afiliada da TV Globo, quando fizeram boletins de ocorrência por causa da perseguição do ex companheiro.

Rodrigo está preso e responderá pelo crime de feminicídio. Ele foi levado para o Centro de Detenção Provisória de Viana.

Feminicídio

O feminicídio é o assassinato de uma mulher pelo fato de ela ser mulher. É um crime motivado por ódio, desprezo ou sentimento de perda do controle e da "posse" que o agressor acredita ter sob a vítima.

Nem todo assassinato de mulher é um feminicídio, pois há aqueles que acontecem durante um assalto, por exemplo. Por isso, quando se destaca um feminicídio não é o fato apenas de uma mulher ter sido assassinada, mas sim nas circunstâncias descritas no Código Penal. A pena para feminicídio é maior, de 12 a 30 anos de prisão para o autor, como nos homicídios qualificados. Nos casos de homicídio simples a pena é de seis a 20 anos de prisão.

Geralmente, a mulher perde a vida em uma situação de violência doméstica, mas o crime também pode acontecer em espaços públicos. Esta definição consta na Lei do Feminicídio, sancionada em 2015, que passou a determinar a pena específica para esse crime.

Em 2019, foram registrados 1.326 casos de feminicídio no Brasil, e em 90% desses homicídios o autor foi um companheiro ou ex-companheiro da vítima. E quase 60% de todos esses crimes aconteceram dentro de casa. No primeiro semestre de 2020, o número de feminicídios chegou a 648, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Como denunciar uma agressão

Já sofreu uma agressão e quer denunciar? Registre um Boletim de Ocorrência por violência doméstica em qualquer delegacia. Se puder, procure uma delegacia da mulher, especializada neste tipo de caso.

Conhece uma mulher em situação de perigo? Ligue para 180. O canal do governo federal funciona 24 horas, incluindo sábados, domingos e feriados. A ligação é anônima e a central dá orientações jurídicas, psicológicas e encaminha o pedido de investigação a órgãos de defesa à mulher, como o Ministério Público.

Em casos de emergência, é possível telefonar para 190 e acionar a polícia.