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Vizinho de jovem achada amarrada assume participação em morte, diz polícia

Corpo de adolescente foi encontrado amarrado em árvore e coberto por vegetação - Corpo de Bombeiros/Divulgação
Corpo de adolescente foi encontrado amarrado em árvore e coberto por vegetação Imagem: Corpo de Bombeiros/Divulgação

Hygino Vasconcellos

Colaboração para Universa, em Chapecó (SC)

12/02/2021 10h42Atualizada em 12/02/2021 16h53

Um adolescente de 15 anos se apresentou à polícia ontem e afirmou ter participação na morte de Ana Kemilli, de 14 anos. Ela estava desaparecida desde 8 de fevereiro e o corpo dela foi encontrado amarrado em uma árvore em Campo Belo do Sul, na Serra Catarinense.

O rapaz se mostrou "confuso e temeroso", disse o delegado Thiago Gomez. "Ele estava visivelmente assustado com a repercussão, com trauma. Acredito que a família que o orientou a se apresentar." A motivação do crime é mantida em sigilo pelos investigadores porque o inquérito está ainda em andamento.

O adolescente não negou a participação de outras pessoas no assassinato, porém, não deu os nomes de outros envolvidos. "Ele não quer relatar quem são os outros", diz o advogado. Segundo ele, a dinâmica do crime indica que há mais de uma pessoa envolvida. "Pela cena do crime, pelo peso da menina e do menino, pela dinâmica, não acreditamos que ele agiu sozinho."

A polícia aguarda o laudo da necropsia que vai apontar a causa da morte de Ana Kemilli. "A gente não sabe se ela foi enforcada ou teve outro trauma", diz ele. O laudo da necropsia pode demorar uma semana para ficar pronto. A suspeita é de que a garota tenha sido vítima de feminicídio.

Além do adolescente, também foi ouvida a mãe dele. "A mãe do garoto orientou ele contar a verdade sobre o que aconteceu. Embora nem ela sabia o ocorrido. Só queria que o filho falasse a verdade e assumisse caso tivesse culpa", explicou o delegado. Por enquanto, a polícia não ouviu os pais da Ana Kemilli, em respeito ao luto.

Segundo os Bombeiros, a mãe da garota relatou que ela saiu de casa na segunda-feira (8), por volta das 17h, para levar uma amiga em casa. Ela chegou ao destino, mas desapareceu ao voltar para casa. Conforme o delegado, as buscas já começaram naquele momento e, no dia seguinte, começou a varredura na área rural da cidade.

Feminicídio

O feminicídio é o assassinato de uma mulher pelo fato de ela ser mulher. É um crime motivado por ódio, desprezo ou sentimento de perda do controle e da "posse" que o agressor acredita ter sobre a vítima.

Nem todo assassinato de mulher é um feminicídio, pois há aqueles que acontecem durante um assalto, por exemplo. Por isso, quando se destaca um feminicídio não é o fato apenas de uma mulher ter sido assassinada, mas sim nas circunstâncias descritas no Código Penal. A pena para feminicídio é maior, de 12 a 30 anos de prisão para o autor, como nos homicídios qualificados. Nos casos de homicídio simples a pena é de seis a 20 anos de prisão.

Geralmente, a mulher perde a vida em uma situação de violência doméstica, mas o crime também pode acontecer em espaços públicos. Esta definição consta na Lei do Feminicídio, sancionada em 2015, que passou a determinar a pena específica para esse crime.

Em 2019, foram registrados 1.326 casos de feminicídio no Brasil, e em 90% desses homicídios o autor foi um companheiro ou ex-companheiro da vítima. E quase 60% de todos esses crimes aconteceram dentro de casa. No primeiro semestre de 2020, o número de feminicídios chegou a 648, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Como denunciar uma agressão

Já sofreu uma agressão e quer denunciar? Registre um Boletim de Ocorrência por violência doméstica em qualquer delegacia. Se puder, procure uma delegacia da mulher, especializada neste tipo de caso.

Conhece uma mulher em situação de perigo? Ligue para 180. O canal do governo federal funciona 24 horas, incluindo sábados, domingos e feriados. A ligação é anônima e a central dá orientações jurídicas, psicológicas e encaminha o pedido de investigação a órgãos de defesa à mulher, como o Ministério Público.

Em casos de emergência, é possível telefonar para 190 e acionar a polícia.