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Depois de vencer câncer, ela assumiu o seio sem mamilo e fez ensaio sensual

Camila Rotoli, que fez um ensaio para celebrar a vitória sobre o câncer - Arquivo pessoal
Camila Rotoli, que fez um ensaio para celebrar a vitória sobre o câncer Imagem: Arquivo pessoal

Giuliana Bergamo

Colaboração para Universa

26/10/2020 04h00Atualizada em 28/10/2020 13h42

A bióloga goiana Camila de Oliveira Rotoli tinha só 34 anos e uma filhinha de 4 quando começou a desconfiar que estava com câncer de mama. A suspeita se confirmou e, até se livrar da doença, ela passou por uma batelada de exames, consultas e duas cirurgias, incluindo a final, que extirpou toda a mama esquerda.

A mastectomia acabou com o tumor, mas levou também o bico e a aréola do seio. Foi um baque, ela conta. Mas Camila conseguiu comemorar as vitórias: "Tirei o câncer e ainda fiquei com os peitos mais bonitos", diz ela, que aproveitou a intervenção para reconstruir o busto e implantar uma dupla de próteses de silicone "para ficar tudo igual".

Como forma de celebrar as vitórias, ela decidiu concretizar um sonho antigo e fazer um ensaio fotográfico com o amigo Melks Marks, que também já havia registrado a gravidez de Camila (ela é mãe de Nina, hoje com 6). Além de fotografar o corpo do qual se orgulha, resolveu postar alguns dos retratos em sua página no Instagram. "E, no meu caso, não tem mamilo polêmico, a plataforma nem pode derrubar as fotos", brinca - o Instagram manteve suas imagens no ar.

"Além de mostrar algo que eu acho muito bonito, de que me orgulho, resolvi alguns problemas: matei a curiosidade das pessoas que querem saber como ficou, servi de exemplo para outras mulheres e já aproveitei para mostrar para os crushes como eu sou de verdade. Sem roupa, sem surpresas", conta, rindo.

A herança genética como alerta

Entre a primeira suspeita de que algo não ia bem com a mama e a cirurgia final que liquidou o câncer, passaram-se 12 meses. Foi em janeiro de 2018 que ela notou pela primeira vez uma mancha pequena, mas estranha no bico esquerdo. "Era um pouco mais escura do que o mamilo, levemente afundada, com o aspecto de uma casquinha de ferida", diz.

Risco para a doença Camila já sabia que tinha, porque a avó paterna teve cânceres nas duas mamas descobertos com um intervalo de cerca de três anos. Além disso, todos os onze irmãos daquela avó tiveram algum tipo de tumor. A diferença é que ela era bem mais velha do que a neta. Quando descobriu a doença, tinha mais de 60 anos (e ainda viveu outras duas décadas).

"Por tudo isso, não esperei. Eu tinha noção da gravidade do problema. Liguei logo para o meu ginecologista e pedi um encaixe", conta. Da consulta, já foi encaminhada para um ultrassom, que mostrou apenas um nódulo aparentemente benigno. Ainda assim, o médico a encaminhou para uma mastologista. "Só que ela não deu importância. Disse que, como eu tinha amamentado minha filha por bastante tempo - foram dois anos -, um dos ductos poderia estar vazando, causando algum tipo de inflamação."

Vinho, namorado e uma pesquisa na doutor Google

Camila continuou acompanhando a mancha, que só crescia. Até que, numa sexta-feira, enquanto bebia vinho com o então namorado, resolveu fazer uma pesquisa no Google. Logo de cara, achou uma imagem muito semelhante ao que via no próprio peito. "A primeira coisa que li foi que se tratava de uma doença bastante rara. Aquilo me deu um alívio. Mas, em seguida, o texto se completava dizendo que era um câncer que acometia principalmente mulheres com mais de 70 anos."

Novamente aflita, Camila correu, dessa vez, para a dermatologista, que a acalmou, argumentando que aquele tipo câncer, chamado paget, era raríssimo em mulheres jovens e que provavelmente o que ela tinha era um tipo de alergia. Ainda assim, por precaução, colheu a biópsia.

Quinze dias mais tarde, a bióloga foi pessoalmente ao laboratório buscar o resultado. E abriu o envelope na recepção. A mancha, na verdade, era já um sintoma externo de um carcinoma que começou nos ductos mamários e, por isso, não era palpável. "Eu nunca sentiria aquilo no auto-exame, mas deveria ter confiado na minha intuição e insistido antes com os médicos", diz.

Em seguida, Camila foi encaminhada para um oncologista. O primeiro passo do tratamento foi fazer uma cirurgia para remover o nódulo, parte da mama e o mamilo. Também foram realizados novos exames para avaliar a real gravidade da doença. Os resultados apontavam dois caminhos: uma remoção total da mama ou uma parcial combinada com sessões de químio e radioterapia. Ela escolheu a primeira opção.

Em janeiro de 2019, então, foi realizada a mastectomia total do seio esquerdo de Camila. Também foram retirados os linfonodos sentinela. Na mesma intervenção, foram implantadas as duas próteses de silicone. "Nunca passei tanta dor na minha vida como naquele pós-operatório. Nem mesmo as 21 horas de trabalho de parto da minha filha se comparam àquilo."

"Ou morro ou desabrocho"

Dias antes da cirurgia, Nina, a filha de Camila, amanheceu contando sobre um sonho, que a garotinha chama de "pensamento". Disse: "Mamãe, eu pensei que o papai do céu vai tirar o seu peito e vai enterrar na terra". A moça ouviu o relato cheia de lágrimas nos olhos. "Pronto: é um sinal, eu vou morrer e ela já está pressentindo!", pensou.

E, então, a menina continuou: "Só que, aí, vai nascer uma flor, mamãe". Aquela imagem deu a Camila a dimensão de quão limítrofe era a condição em que estava. "É isso, depois dessa, ou eu morro ou eu desabrocho de vez", pensou, determinada a lutar.

Desde que se recuperou da cirurgia, ela passou a "viver com mais intensidade, com mais verdade". Também tem se dedicado a corridas por prazer e para aplacar os sintomas do tamoxifeno, remédio que funciona como bloqueador hormonal para evitar que um novo tumor como o da avó apareça na mama sadia.

Os treinos leves foram se intensificando e agora ela corre meias-maratonas. No próximo dia 27, vai encarar um desafio maior: percorrer os 36 quilômetros que separam Alto Paraíso de Goiás da Igreja de São Jorge, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. "Sou devota do santo, faço meus rituais e gosto."

Além deste, ela tem outro plano: "Quero fazer uma tatuagem no seio. Mas não vou tatuar bico, auréola, não. Isso eu não tenho, quem quiser que me aceite assim. Acho que vou fazer umas flores bem bonitas, uma coisa bem maravilhosa. Ou vou deixar só assim, que já está lindo demais".